Indígenas fecham estrada em protesto contra exploração de gás pela Eneva


Por: Lucas Thiago

20 de junho de 2025
Indígenas fecham estrada em protesto contra exploração de gás pela Eneva
Protesto ocorre após empresa sofrer revés na justiça (Reprodução/Arquivo Pessoal)

MANAUS (AM) – Com a frase em faixas “Amazônia livre de petróleo e gás”, indígenas ocuparam, na segunda-feira, 16, a estrada que dá acesso ao complexo do Azulão, administrado pela empresa Eneva S.A. em Silves (AM), município distante 181 quilômetros de Manaus. A manifestação foi realizada contra a exploração de gás que, segundo os moradores de comunidades próximas ao empreendimento, afeta comunidades e ecossistemas da região.

Imagens mostram protesto próximo às instalações da Eneva (Reprodução)

O protesto foi conduzido pela Associação dos Povos Indígenas do Rio Anebá (Apira). De acordo com a entidade, mais de 200 famílias indígenas e ribeirinhas vivem na região que está sendo afetada pelo empreendimento da Eneva no local. Durante a manifestação, a via foi parcialmente interditada. Vídeos enviados à CENARIUM mostram que os manifestantes liberaram uma ambulância de emergência da Secretaria Municipal de Saúde de Silves. Veja:

“Nós estamos fazendo esse pequeno protesto, porque olha a destruição. Estão acabando com a nossa floresta. Eles estão acabando com a nossa caça, nossos peixes e os nossos igarapés estão sendo destruídos. Hoje nós estamos sofrendo na pele, essa destruição dentro do nosso território. Não a mineração e demarcação já”, declarou um dos líderes da manifestação e cacique da aldeia Gavião Real I, Jonas Mura.

Em outro vídeo, uma das manifestantes indígenas, que não se identificou, apontou um local específico na região que sofre com inundações. Ela afirmou que o empreendimento na região tem afetado a qualidade da água do igarapé da Maricota o que impossibilita o consumo de água e alimentos extraídos do local.

“Estou aqui para falar sobre o igarapé da Maricota que está sendo inundado com a exploração que a empresa está fazendo por trás do ramal, afetando nossa nascentes. Não tem como mais os moradores consumirem aquela água, seus alimentos e muito menos morar ali. Essa empresa está devastando nossa natureza, nosso meio ambiente. Não à exploração ao gás”, disse a indígena no vídeo, reforçando ao final com gritos de ordens dos manifestantes. Veja vídeo:

Justiça suspendeu atividades

Em maio deste ano, a Justiça Federal determinou a paralisação imediata das atividades de extração de gás realizadas pela empresa Eneva no complexo do Azulão. A decisão, assinada pela juíza Mara Elisa Andrade apontou que a área de exploração está sobreposta ao território indígena Gavião Real. A determinação foi baseada em um mapa apresentado por meio de laudo pericial do Ministério Público Federal (MPF).

A decisão resulta de Ação Civil Pública (ACP) ajuizada em 2022 pela Associação dos Povos Indígenas do Rio Anebá (Apira) e pela Associação de Preservação Ambiental e Cultural (Aspac), organizações filiadas à Rede Grupo de Trabalho Amazônico (GTA), com o objetivo de suspender o avanço das atividades da Eneva na região. De acordo com os representantes indígenas, a área impactada pelas operações abriga ao menos sete aldeias, com uma população superior a mil indígenas.

Outras condições estabelecidas pela magistrada são a realização de um Estudo de Componente Indígena (ECI), que deve ser analisado pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), e estudos referentes aos povos isolados da região, que devem ser realizados pela Coordenação-Geral de Índios Isolados e de Recente Contato (CGIIRC), também da Funai.

Trecho da decisão judicial (Reprodução)

A ordem da juíza, que diz respeito ao Complexo do Azulão, ainda determina que a Eneva está proibida de impedir qualquer uso tradicional do território indígena e ribeirinho, em especial nas áreas dos poços sobrepostas ao território indígena Gavião Real. Conforme mostrou a CENARIUM na reportagem “O gás que sufoca na Amazônia“, lideranças indígenas do território viviam sob ameaças de morte por questionar o processo de exploração de gás e óleo na localidade.

Veja a decisão da Justiça Federal

Eneva se manifesta

A CENARIUM procurou a Eneva para obter posicionamento sobre a manifestação realizada pelos indígenas na região do empreendimento. Em nota, a empresa informou que “todos os seus projetos são conduzidos com rigor técnico e absoluto respeito à legislação, aos direitos das comunidades locais e aos trâmites e normas estabelecidos pelos órgãos competentes”. “A companhia reafirma seu compromisso com a legislação ambiental vigente e reforça sua postura em defesa do diálogo constante”, finaliza o posicionamento.

Leia mais: O gás que sufoca na Amazônia
Editado por Jadson Lima

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