Indígenas Guarani e Kaiowá são alvo de ataques após retomada de terra em MS
Por: Fred Santana
24 de setembro de 2025
MANAUS (AM) – Os povos Guarani e Kaiowá, da Terra Indígena (TI) Dourados-Amambaipeguá III em Mato Grosso do Sul, vivem, neste momento, uma situação de extrema vulnerabilidade. Na noite de domingo, 21, os indígenas realizaram a retomada em Porto Cambira, área reivindicada como parte de seu território tradicional, localizada na divisa entre os municípios de Dourados e Caarapó. A ação buscava pressionar o Estado brasileiro pela conclusão dos procedimentos de demarcação, iniciados há mais de 15 anos e ainda inconclusos.
Na manhã do dia segunda-feira, 22, o clima de tensão se transformou em violência. Homens armados invadiram a área retomada, dispararam contra os indígenas e incendiaram os barracos erguidos durante a ocupação. Apesar dos ataques, os Guarani e Kaiowá conseguiram resistir e expulsar o grupo, permanecendo na retomada. O risco de novos confrontos é iminente e os indígenas pedem a presença urgente da Coordenação Regional da Funai em Dourados e da Força Nacional de Segurança Pública (FNSP) para evitar que novos episódios de violência aconteçam.
Em nota, um Guarani e Kaiowá, que não teve a identidade revelada, relatou a motivação da ação. “Queremos mostrar que não vamos mais aceitar essa situação de viver vendo nossas terras sendo usadas para enriquecer os invasores enquanto estamos em espaços pequenos, sem espaço para plantar, sendo ameaçados, passando necessidades. Exigimos a demarcação”, disse.
Outras retomadas
A retomada em Porto Cambira não foi a única registrada nos últimos dias. Também no domingo, 21, os Guarani e Kaiowá ocuparam a Fazenda Ipuitã, inserida nos limites da TI Guyraroká, em Caarapó, reconhecida pela Funai como ocupação tradicional indígena. No dia seguinte, a ocupação foi alvo de despejo realizado pela Tropa de Choque da Polícia Militar, sem mandado judicial.
Demarcação arrastada
O processo de demarcação da TI Dourados-Amambaipeguá III se arrasta há quase duas décadas. Um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), firmado em 2007 entre a Funai e o Ministério Público Federal (MPF), previa a conclusão do procedimento. Apesar disso, o Grupo de Trabalho (GT) encarregado de elaborar o Relatório Circunstanciado de Delimitação e Identificação (RCDI) sofreu paralisações. A última, em 2013, ocorreu por questões administrativas, comprometendo ainda mais os prazos estabelecidos. Apenas em 2023 a Funai retomou a instalação do GT, mas até agora não houve avanço significativo.
Conflitos envolvendo a posse de terras na TI Dourados-Amambaipeguá III não são novidade. Ao longo das últimas décadas, episódios semelhantes ocorreram, envolvendo ataques de pistoleiros, expulsões forçadas e repressão policial contra indígenas que buscam retomar áreas que consideram tradicionais. Organizações indigenistas alertam que a ausência de demarcação definitiva intensifica os embates e cria um cenário de insegurança permanente para o povo Guarani e Kaiowá.