Indígenas lotam a Câmara dos Deputados em sessão especial


Por: Cenarium*

08 de abril de 2025
Indígenas lotam a Câmara dos Deputados em sessão especial
A audiência da sessão na Câmara foi composta por indígenas de várias regiões do Brasil (Divulgação/Agência Brasil)

BRASÍLIA (DF) – A Câmara dos Deputados realizou, nesta terça-feira 8, uma sessão em homenagem à 21ª edição do Acampamento Terra Livre (ATL). Maior mobilização indígena do país, o evento, organizado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), começou na segunda-feira, 7, e segue até a sexta-feira, 11, com a expectativa de atrair entre seis mil e oito mil participantes de ao menos 135 etnias de todo o país.

A sessão de homenagem foi proposta pela deputada federal Célia Xakriabá (Psol-MG) e contou com as presenças de lideranças do movimento indígena; das ministras dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, e dos Direitos Humanos e Cidadania, Macaé Evaristo, além da presidenta da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana, e do secretário de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, Ricardo Weibe Tapeba.

“Este é o Congresso Nacional que sonhamos para o futuro. O Congresso de um Brasil que começa conosco [indígenas], os primeiros brasileiros, e que, no entanto, somos o último [grupo] a chegar ao Congresso Nacional”, comentou a deputada Célia Xakriabá.

A parlamentar presidiu a sessão ─ marcada pela presença, no plenário, de dezenas de indígenas paramentados com adereços tradicionais, muitos deles usando as pinturas corporais típicas de seus povos.

Indígenas que participam do Acampamento Terra Livre lotam a Câmara dos Deputados (Divulgação/Agência Brasil)
Direitos

Durante a sessão da Câmara, um dos coordenadores executivos da Apib convidados a discursar, Dinamam Tuxá, criticou iniciativas parlamentares que afrontam os direitos indígenas. A seu ver, as proposições desfiguram o texto constitucional, com propostas como o chamado Marco Temporal – tese jurídica segundo a qual os indígenas só teriam direito às terras que ocupavam em outubro de 1988, quando a Constituição Federal foi promulgada.

“Temos uma Constituição [Federal], aprovada por esta Casa, que ainda não foi implementada na sua totalidade. [Consequentemente] a violência impera dentro dos territórios indígenas. Neste exato momento, por exemplo, há fatos ocorrendo no território Pataxó [no sul da Bahia], bem como em outras áreas sob ataque. Esta violência se estende por todo o território nacional e nós sabemos quem são os mandantes. Enquanto isso, esta mesma Casa está se articulando e mobilizando proposituras de PECs [Propostas de Emenda à Constituição] e PLs [Projetos de Lei] que afrontam os direitos fundamentais dos povos indígenas”, afirmou Dinamam.

A defesa da Constituição em vigor desde 1988 é uma das pautas da atual edição do Acampamento Terra Livre. Em parte porque, embora não tenha sido integralmente implementada, pode ser considerada um marco na conquista e garantia de direitos pelos povos indígenas, estabelecendo que as diversas etnias têm direitos sobre os territórios tradicionalmente ocupados por seus antepassados, e que cabe à União proteger estas áreas.

Acampamento

Com o tema “Apib Somos Todos Nós: Em Defesa da Constituição e da Vida”, o 21º Acampamento Terra Livre está estruturado em cinco eixos: “Apib Somos Todos Nós”, “Resistência e Conquista”, “Desconstitucionalização de Direitos”, “Fortalecendo a Democracia” e “Em Defesa do Futuro – A Resposta Somos Nós”.

Segundo os organizadores do ATL, o evento “destaca o empenho dos povos indígenas na garantia dos seus direitos, previstos na Constituição Federal, além de celebrar a união e a resistência da Apib”, organização criada em 2005, durante a segunda edição do ATL.

“Quero saudar os 20 anos da Apib e os 21 anos do Acampamento Terra Livre, esta grande mobilização que já se tornou não só a maior assembleia dos povos indígenas do Brasil, como também a maior mobilização indígena do mundo”, comentou a ministra Sônia Guajajara.

“O ATL é sinônimo de luta, resistência, teimosia, denúncia, mas não podemos nos esquecer de que ele também é sinônimo de beleza, diversidade, cultura e sabedoria ancestral”, acrescentou a ministra

Sônia Guajajara atribui à mobilização política dos povos originários a eleição de um grupo de parlamentares indígenas que, hoje, forma a chamada “bancada do cocar”. Outra conquista dessa luta, na visão dela, é a própria criação do Ministério dos Povos Indígenas, em 2023, primeiro ano do terceiro governo Lula.

Leia mais: STF e povos indígenas: genocídio ou conciliação?
(*) Com informações da Agência Brasil

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