Indígenas no Vale do Javari buscam organização para amenizar caos na saúde

Entre outras ações, o projeto visa equipar 28 Unidades Básicas de Saúde (UBSs) com medicamentos, exames, testagem e equipamentos, para atender cerca de 30 mil indígenas das zonas urbana e rural de Manaus (Divulgação/ Univaja)

Náferson Cruz – Da Revista Cenarium

MANAUS – O crescimento no número de casos confirmados de Covid-19, nos meses entre o período de maio a julho, acendeu alerta nos povos originários que habitam na Terra Indígena Vale do Javari (TIVJ), localizada no extremo oeste do Amazonas. Em vista do perigo de crescimento exponencial da doença, a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) saiu em peregrinação na busca de apoio para aquisição de equipamentos hospitalares e medicamentos.

A campanha surtiu efeito e sete aldeias no Vale do Javari foram contactadas pela Associação Expedicionários da Saúde (EDS), organização humanitária. Não demorou muito e, logo, foram enviados a sete aldeias: medicamentos, insumos, EPIs (Equipamentos de Proteção), máscaras de mergulho adaptadas para uso em UTIs (Unidades de Terapia Intensiva), cilindros e concentradores de oxigênio, além de geradores de energia para abastecer os postos de saúde das aldeias mais afastadas.

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Cilindros e concentradores de oxigênio foram doados às aldeias. (Divulgação/Univaja)

O atendimento foi bem mais além do esperado pelos indígenas, o projeto da EDS denominado ‘Missão S.O.S. Povos da Floresta’ instalou até Enfermarias de Campanha (EC). À REVISTA CENARIUM, por telefone, o presidente da Univaja, Paulo Marubo, um dos articuladores do ‘Plano de Contingência Indígena’, disse que em localidades beneficiadas são estratégicas e, que, naturalmente servem como polos de concentração para comunidades indígenas locais.

“As doações e o apoio da EDS, junto com as demais organizações, vieram em boa hora, amenizando os problemas que enfrentamos na saúde e garantindo a sobrevivência de pacientes com complicações leves e moderadas de Covid-19”, salientou o líder Marubo.

De acordo com o Boletim Epidemiológico do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) no Vale do Javari, até o dia 11 de setembro, foram confirmados 469 casos, sendo descartados 229 e recuperados 467 e dois óbitos. As aldeias mais afetadas são: Alto Ituí com 169 casos confirmados de Covid-19, Médio Javari (138), Médio Ituí (109), Itacoaí (45), Jaquirana (07) e Rio Branco (01). As aldeias Alto Ituí e Itacoaí registraram uma morte cada.

Desde o início da pandemia da Covid-19, 10 mil indígenas foram infectados e mais de 700 morreram (199 no Amazonas), segundo dados da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).

Em junho, a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) chegou a divulgar um documento onde fazia apelo a organizações nacionais e internacionais para que apoiem os esforços para evitar a proliferação da infecção nas aldeias.

A Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), cobrada pelos indígenas e pelo Ministério Público Federal (MPF), chegou a participar de uma operação no Vale do Javari entre 18 e 21 de junho, com apoio logístico das Forças Armadas, para levar testes, medicamentos e insumos. O representante da Univaja disse que, após esse período, as comunidades indígenas ficaram desassistidas.

Missão na Amazônia brasileira

O presidente da EDS, Ricardo Affonso Ferreira, ressaltou que a organização humanitária também envia periodicamente remessas de doações partindo de Campinas (SP) e, posteriormente, distribuídas entre as importantes cidades de concentração de pacientes infectados e, em seguida, as regiões afetadas.

“Estamos nos dedicando totalmente à saúde dos povos indígenas da Amazônia, que é o DNA da EDS. Já viabilizamos diversas Enfermarias de Campanha, em diferentes cidades do norte do País, onde a situação é pandêmica e muito grave e os recursos são limitados”, contou Ricardo Affonso.

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