Indígenas ocupam secretaria de Meio Ambiente do Pará


Por: Fabyo Cruz

03 de junho de 2025
Indígenas ocupam secretaria de Meio Ambiente do Pará
Indígenas ocupam sede da Semas, em Belém (Foto: Sandro Barbosa/Imagem cedida à CENARIUM)

BELÉM (PA) – Indígenas das etnias Turiwara e Tembé, além de quilombolas do município de Tomé-Açu, no Nordeste do Pará, ocuparam, nesta terça-feira, 3, a sede da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), em Belém (PA). O grupo protesta contra os supostos impactos causados pela instalação de uma linha de transmissão de energia elétrica da Empresa Transmissora de Energia do Pará S.A. (Etepa) sobre territórios tradicionais da região.

A mobilização reúne representantes de dez aldeias Turiwara, uma aldeia Tembé e comunidades quilombolas. De acordo com as lideranças, a ocupação ocorre após tentativas frustradas de diálogo com a Etepa, responsável pela linha de alta tensão que liga Vila do Conde, na cidade de Barcarena, a Tomé-Açu, com 230 kV de potência, atravessando terras indígenas e quilombolas. A linha foi licenciada pela própria Semas, por meio da Licença Prévia nº 1758/2019.

Lideranças indígenas se reúnem na parte interna da Semas (Sandro Barbosa/Imagem cedida à CENARIUM)

A nossa luta é por dignidade, é por respeito. Essa linha de alta tensão está dentro do nosso território e tem causado doenças, abortos espontâneos, problemas de pele. O som da energia assusta as crianças e tira o sono dos nossos idosos. E quando a gente procura diálogo, a empresa debocha, judicializa lideranças e não quer sentar com a gente”, denuncia Miriam Turiwara, liderança da aldeia Te Tey Kukun.

Miriam relatou que moradores das comunidades afetadas têm enfrentado graves consequências socioambientais desde a instalação da estrutura. “Os igarapés sumiram, as caças desapareceram e a terra foi desmatada. Nossos modos de vida estão sendo destruídos em nome do progresso que nunca chegou para nós. Não estamos aqui porque queremos, estamos aqui porque fomos obrigados pela omissão da empresa e do Estado”, afirmou.

A ocupação, segundo os manifestantes, não é um ato de vandalismo, mas uma exigência por direitos básicos e respeito às comunidades tradicionais. “A empresa alega que cidades estão sem energia por culpa dos indígenas e quilombolas. Mas não é nossa culpa. A culpa é da empresa, que se recusa a conversar. Queremos um acordo, não conflito”, reforça a liderança.

A ocupação também tomou conta da parte externa da secretaria (Sandro Barbosa/Imagem cedida à CENARIUM)

De acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o contrato de concessão firmado com a Etepa, em 2017, prevê a ocupação de uma faixa de 40 metros de largura para a passagem da linha de transmissão. No entanto, lideranças afirmam que não houve consulta livre, prévia e informada às comunidades afetadas, como determina a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da qual o Brasil é signatário.

A mobilização reúne representantes de dez aldeias Turiwara, uma aldeia Tembé e comunidades quilombolas (Sandro Barbosa/Imagem cedida à CENARIUM)

Além dos danos à saúde e ao meio ambiente, o grupo também denuncia a criminalização de lideranças indígenas após a queda de duas torres de energia na região da aldeia Iruara. “A empresa acusa o nosso povo sem prova alguma. Quem teria coragem de derrubar uma torre de alta tensão? Nós vivemos com medo dessa estrutura. Queremos ser ouvidos, não perseguidos”, diz Miriam.

A CENARIUM solicitou posicionamento da Semas. Leia abaixo na íntegra:

“A Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) informa que está em diálogo com a comunidade indígena Turiwara e com representantes do Quilombo Nova Betel e que se colocou à disposição para mediar as negociações entre as comunidades e representantes da empresa de energia Etepa”.

A reportagem também tentou contato com a Etepa e segue à disposição para esclarecimentos.

Leia mais: Indígenas protestam em frente à secretaria do Pará contra mineradora
Editado por Jadson Lima

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