Indígenas Waimiri-Atroari do AM relatam vazamento de mineradora nos rios Tiaraju e Alalaú
19 de maio de 2021
A denúncia foi encaminhada ao Ministério Público Federal. (Divulgação/Funai)
Gabriel Abreu – Da Revista Cenarium
MANAUS – Em ofício encaminhado ao Ministério Público Federal do Amazonas (MPF), nessa segunda-feira, 17, a Coordenação-Geral de Índios Isolados e Recém-Contatados na Frente de Proteção Etnoambiental Waimiri-Atroari (CTL/Presidente Figueiredo/Funai) faz um alerta sobre uma possível contaminação por rejeitos de mineração no Igarapé Jacutinga e nos rios Tiaraju e Alalaú, no interior da Terra Indígena Waimiri-Atroari (distante a 123 quilômetros de Manaus).
No relatório, assinado pelo coordenador da CTL Presidente Figueiredo, Antônio Carlos do Nascimento, constam fotos e depoimentos de lideranças indígenas que mostram a contaminação da água por rejeitos da empresa de mineração, que atua na região há 52 anos. O coordenador pede que sejam tomadas as medidas cabíveis com visitas à devida apuração e constatação de eventual contaminação de águas por rejeitos de mineração.
“…frisando-se que tais medidas exigem máxima urgência, haja vista que devido à água estar com sua qualidade alterada, com odor muito forte e incluisve tendo ocorrido verificação de morte de peixes e quelônios, os Kinja não mais estão podendo usar as águas dos canais fluviais acima indicados, tendo assim prejudicado a sua pesca, o consumo de água para beber, para a higiene e preparo de alimentos”, detalha o documento.
O ofício é encaminhado aos procuradores da República, Leonardo de Faria Galiano e Fernando Merloto Soave, informando os relatos dos técnicos que visitaram a região começaram a ser apurados em março, porque desconfiaram das águas barrentas do rio Alalaú. Segundo o povo Kinja, eles ficaram preocupados e desconfiaram que estivesse acontecendo “algo estranho” no rio Tiaraju.
No relatório apresentado pelos técnicos da CTL mostra fotos da área em que vê a contaminação da água (Divulgação/CTL Funai)
“As aldeias próximas ao rio Tiaraju começaram a encontrar vários peixes mortos e também três tartarugas mortas(…) A expedição subiu o rio Tiaraju observando minuciosamente todos os afluentes que deságuam no rio. Foi então que observaram num local de muito buritizeiro que a água estava extremamente suja e com um odor de podre”, diz relato do povo Kinja no documento, cujo teor foi logo em seguida comunicado ao coordenador CTL/Presidente Figueiredo/Funai, Antônio Carlos e ao chefe da Frente de Proteção Etnoambiental Waimiri Atroari, Marcelo Cavalcante.
Depois do relato do povo Kinja uma expedição foi formada para constatar a veracidade das suspeitas. A equipe, formada por 11 agentes, foi ao local no dia 6 de maio. A equipe se deslocou com quatro voadeiras e motor de 15 hp munidos de um drone, terçados e motosserras. O grupo percorreu 2 horas e 30 minutos até chegar ao local onde a água estava barrenta. Os técnicos fizeram a coleta da água para exames.
Agentes e técnicos no local da denúncia (Reprodução/Internet)
Por fim, os técnicos pedem que o relatório seja encaminhado ao Ministério Público Federal e a empresa de mineração Taboca para que sejam tomadas as medidas necessárias no sentido de frear a contaminação dos rios com os rejeitos da empresa Taboca.
Impactos Ambientais
O ambientalista Carlos Durigan, disse que a contaminação por rejeitos de mineração em rios e igarapés pode ser devastadora. Por conta dos rejeitos seguirem para os corpos d´água com uma grande carga de sedimentos, que altera a dinâmica, a acidez e a composição das águas, e a depender do volume, ainda pode provocar o soterramento de cursos de rios se a carga de sedimentos é muito grande.
“Além disso, a depender da composição dos rejeitos, há o potencial de contaminação química por rejeitos minerais, que vão desde metais pesados a outros componentes químicos tóxicos que contaminam as águas e organismos que vivem nela ou que a consomem. Uma carga muito grande de sedimentos afeta ainda a oxigenação da água, e pode causar grande mortandade de peixes e outros organismos aquáticos”, explicou Durigan.
Posicionamento
Procurado pela equipe da REVISTA CENARIUM para comentar o ofício do coordenador da CTL Presidente Figueiredo, Antônio Carlos do Nascimento, o Ministério Público Federal informou que foi oficialmente comunicado, e já encaminhou o caso para registro e distribuição a um dos gabinetes que atuam na temática ambiental. O MPF salientou que, por ora, ainda não há medidas que possam ser informadas, já que o caso está sob análise preliminar, mas que está, sim, ciente formalmente do caso e irá apurar com rigor os fatos relatados na representação
Já a mineradora Taboca não atendeu aos chamados nem as mensagens. O espaço segue aberto para manifestações.
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