Indígenas waiwai se blindam contra a Covid-19

As oito comunidades waiwai que vivem na fronteira entre Amazonas e Pará conseguiram barrar o coronavírus com uma fórmula simples: isolamento e garantia de abastecimento (Divulgação/ ISA)

Com informações do ISA

Onze meses após a chegada da pandemia ao Brasil, a Covid-19 não entrou na parcela roraimense da Terra Indígena Trombetas Mapuera, localizada no sul do estado, na divisa com o Amazonas e o Pará. As oito comunidades waiwai que vivem no território conseguiram barrar o coronavírus com uma fórmula simples: isolamento e garantia de abastecimento.

A Associação do Povo Indígena Waiwai (APIW), com o apoio de parceiros, como o Instituto Socioambiental (ISA), criou uma cantina com as principais mercadorias da cidade, afastando a necessidade de viagens e risco de contaminação.

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“Não entrou Covid até agora no nosso território e estamos muito felizes. O projeto da cantina diminuiu as saídas das comunidades para a cidade Dentro das comunidades estamos abastecidos com diversos materiais, nossa barreira está funcionando muito bem, graças aos apoios emergenciais. Hoje a cantina está sendo cuidada por três jovens indígenas”, afirmou o presidente da APIW, Fernandinho Waiwai.

“Logicamente, sabe-se que ainda há circulação de pessoas nas cidades, uma vez que a cantina não provê todas as necessidades dos indígenas. Mas, ressalto que nesses nove meses após a chegada do vírus no Brasil, ainda não houve contaminação nesse território. Eles gostaram tanto dessa ‘ação emergencial’ que a cantina deve passar a funcionar permanentemente mesmo após a pandemia”, explicou Felipe Reis, assessor do Instituto Socioambiental (ISA) que atua junto aos waiwai.

Os waiwai habitam duas Terras Indígenas em Roraima: Trombetas Mapuera e Waiwai. Na Terra Indígena Waiwai foram registrados 61 casos de Covid-19. Os indígenas doentes ou com sequelas tiveram dificuldade para conseguir alimentos, por não conseguirem trabalhar em suas roças. Portanto, em julho, 55 famílias foram beneficiadas com cestas básicas enviadas com apoio do ISA, que ainda doou para o Distrito Sanitário Especial Indígena Leste (DSEI-L) equipamentos de saúde.

O Conselho Indígena de Roraima (Cir) também apoiou com alimentação, material de higiene e de proteção, como máscaras, álcool em gel e luvas as comunidades deste território.

“Durante o surto da doença na Terra Indígena Waiwai, a presença da equipe do DSEI, com concentrador e cilindro de oxigênio, foi essencial. O envio de comida para as pessoas que não tinham condições de ir à roça também. Menos urgente, a compra de insumos para a cantina que preveniu a entrada de Covid na Terra Indígena Trombetas Mapuera teve impacto importantíssimo, mas com enfoque de ação preventivo”, destacou Felipe.

Acessíveis por estrada, as comunidades da Terra Indígena Waiwai continuaram com alto fluxo de pessoas para a cidade, e infelizmente também de pessoas da cidade para as aldeias, mesmo com o acesso às Terras Indígenas restringido pela Portaria nº 419, da Funai.

Em agosto, na segunda etapa de doações de alimentos, foram enviadas 247 cestas básicas para as duas Terras Indígenas do povo waiwai. “Os motoristas dos caminhões são orientados a manter distância dos indígenas durante a entrega. O material e alimentação enviados ficam em ‘quarentena’ e são higienizados com álcool. Na chegada, a orientação é fazer nova higienização. O uso de máscaras também é recomendado e cumprido. A garantia da entrega é por meio da comunicação entre as lideranças via Whatsapp, telefone, fotografias e vídeos. As Organizações Indígenas são as bússolas dos apoios. Elas que apresentam as demandas de acordo com o que ocorre nas comunidades”, explicou o assessor do ISA.

O ISA criou o portal online Emergência Covid-19 para informar os apoios que estão ocorrendo dentro das comunidades indígenas. Uma resposta do ISA e seus parceiros na defesa dos povos tradicionais diante da pandemia.

Povo Ashaninka

Sem visitas de pessoas de fora, mercadorias higienizadas antes de entrar na aldeia, saídas só em casos de extrema necessidade, reforço na produção agrícola e uso de remédios da floresta. É assim que o povo Ashaninka da Terra Indígena Kampa do Rio Amônia, na cidade de Marechal Thaumaturgo, interior do Acre, se mantém isolado e sem nenhum caso de Covid-19 desde a confirmação dos primeiros casos da doença no Acre, em março deste ano.

Pandemia entre indígenas

O número de indígenas infectados pela Covid-19 no Brasil chegou a 42.540 na segunda-feira, 21, sendo 897 mortes ocasionadas em decorrência do novo Coronavírus. Os dados são da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e representam o total de casos informados pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) do governo federal e apurados pelo Comitê Nacional de Vida e Memória Indígena.

No total, são 161 povos indígenas afetados. O primeiro caso confirmado de contaminação por Covid-19 entre indígenas no Brasil foi registrado no dia 25 de março deste ano, quando uma jovem da etnia Kokama, de 20 anos, foi diagnosticada com a doença.

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