Indústria privada inaugura primeira usina de carbonização de resíduos sólidos, em Manaus

Usina busca reaproveitar resíduos sólidos que seriam descartados para produzir carvão e gerar energia (Bruno Pacheco/Cenarium)

Bruno Pacheco – Da Cenarium

MANAUS (AM) – Com a proposta de utilizar todas as sobras e rejeitos para geração de energia elétrica, por meio da carbonização, foi inaugurada, nesta sexta-feira, 6, a Amazonas Eco Company (Amec), a primeira usina de tratamento de resíduos sólidos urbanos e industriais, em Manaus, localizada na Rua Gisele, no bairro Mauazinho, na zona Sul da capital.

“Estamos fazendo um investimento na carbonização, que é transformar o resíduo em carvão e desse material gerar energia. Nosso objetivo é reaproveitar resíduos e trazer uma preocupação com o meio ambiente, uma vez que, a incineração [dos resíduos] faz com que os gases [tóxicos] sejam soltos na atmosfera”, destaca o proprietário da indústria, o empresário Michel Ribeiro, de 43 anos.

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Michel Ribeiro, proprietário do grupo Amec (Bruno Pacheco/Cenarium)

Há cerca de 20 anos trabalhando com resíduos sólidos, o mineiro Michel Ribeiro mora no Amazonas há 35 anos. Ele lembra que foi num momento de necessidade que ele precisou atuar com a retirada de materiais orgânicos, com a empresa AgroRio, onde um método de reciclagem é desenvolvido para dá um destino aos restos alimentares das grandes indústrias e transformados em ração animal.

“Sentimos a necessidade de não somente olhar para os [materiais] orgânicos, mas também para os outros resíduos, como o reciclável, o lixo comum e começamos a fazer um trabalho diferenciado em Manaus, que seria a coleta seletiva, a segregação e a reciclagem, que é quando a gente reaproveita o resíduo”, lembrou.

Posteriormente, salienta Ribeiro, a AgroRio também passou a atuar com o transporte do lixo hospitalar e, por conta da carência de um local adequado para destinação de resíduos, surgiu a proposta de incineração. A queima de materiais, no entanto, apesar de ser considerada uma alternativa barata para lidar com o lixo produzido pelas cidades, segundo especialistas, é prejudicial ao meio ambiente, pois gera gases que contribuem para o aquecimento do planeta, além de despejar poluentes e substâncias tóxicas na atmosfera.

Michel Ribeiro frisa que a incineração não era o caminho ao qual ele queria seguir e, dessa forma, surgiu a proposta de reaproveitamento dos produtos, onde a energia térmica poderia ser transformada em energia elétrica. A partir disso, nasceu a ideia de lançar o Grupo Amec, focada na carbonização dos resíduos feita por meio de um procedimento limpo e sem desperdícios.

Michel Ribeiro, nesta sexta-feira, 6, durante a inauguração da usina (Bruno Pacheco/Cenarium)

A Amazonas Eco Company terá oito atividades econômicas: a Amec Agro, voltada para soluções sustentáveis para gestão de resíduos orgânicos; a Amec Recicla, para o tratamento de resíduos e reciclagem; a Amec Sand, para a reciclagem de areia shell mold; a Amec Facitily, para a conservação, limpeza e sustentabilidade; Amec Quality, para beneficiamento sustentável de proteína animal; Amec Transport, para coleta, transporte e logística de resíduos; Amec Maq, para maquinário de ponta e tecnologia para gestão de resíduos e; Amec Energy, para energia sustentável, renovável e inesgotável.

“Esperamos que o Grupo Amec seja não somente referência para o Norte, como também a nível nacional, por ter tomado a iniciativa de ter investido e acreditado nessa tecnologia e fazer a coisa acontecer. Acredito que o nosso País muda essa visão de aterro sanitário [com uma usina de carbonização], de lixões abertos e a gente muda essa cultura e traga uma visão diferenciada”, concluiu o empresário.

Meio Ambiente

Para o especialista ambiental José Antônio Coutinho, um dos mentores responsáveis pela vinda do projeto para Manaus, o principal motivo de propor a instalação da usina foi a causa ambiental, considerando o destino final inadequado dos resíduos que vem causando problemas ambiental para a sociedade e o meio ambiente.

O ambientalista José Coutinho ao lado do engenheiro mecânico Daniel Pereira (Bruno Pacheco/Cenarium)

“O desenvolvimento de uma solução tecnológica dessa natureza não traz benefícios somente para promover não só a destinação final ambientalmente correta dos resíduos sólidos, como produz o desenvolvimento econômico, social, cultural e ambiental, respeitando o meio ambiente e as pessoas, atendendo o código ambiental brasileiro, que hoje é considerado um dos mais exigentes do mundo”, ressaltou.

Tecnologia

Coutinho destaca que a tecnologia de carbonização evoluiu por meio do inventor e pesquisador José Railton Sousa de Lima. O processo ocorre, primeiro, com a coleta do lixo. Depois de disso, o material é depositado em um recipiente chamado “moega”, que libera produto de acordo com o processamento do forno. Da “moega”, o lixo segue para uma esteira fechada até o forno, aquecido a 900ºC e onde se inicia o processo de carbonização. Dentro do forno, não existe oxigênio, portanto, não há combustão dos resíduos.

Somente na indústria Amec, o funcionamento do processo de carbonização terá capacidade para produzir cinco toneladas de carvão por hora, por meio de um forno utilizado para aproveitamento térmico com uma combustão incompleta de sólidos quando submetidos ao calor elevado.

Forno onde o carvão é produzido (Bruno Pacheco/Cenarium)

“O produto desta reação é chamado de carvão. Pela ação do calor, a carbonização remove hidrogênio e oxigênio do sólido, de modo que a matéria restante é composta principalmente de carbono. Os resíduos são movimentados ao longo do forno giratório e aquecido externamente para ocorrer a reação na matéria. Os minerais, como vidro e metais, saem em condições inertes prontos para reciclagem. Os gases gerados são direcionados por uma tubulação que redireciona parte [do produto] para alimentar o próprio forno e outra parte segue para a torre de tratamento e recuperação dos gases”, detalhou o ambientalista.

Coutinho e Pereira exibindo uma amostra do carvão (Bruno Pacheco/Cenarium)

Do carvão produzido, 10% retorna ao forno e serve para realimentar, dando continuidade ao processo. A destinação dos outros 90% pode seguir para diversos meios, como a geração de energia. Para Coutinho, a tecnologia implementada na usina vai ajudar na melhoria da qualidade de vida das pessoas e do meio ambiente com a destinação adequada dos resíduos.

“[Vai ajudar] na mudança de comportamento das pessoas, com um ambiente mais agradável, melhorar o saneamento básico, evitando o entupimento das redes públicas que contribui para alagações das vias e residências, além de permitir o desenvolvimento tecnológico e humanitário”, finalizou o especialista.

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