Infraestrutura precária freia desenvolvimento da Região Norte, alerta CNI
Por: Fred Santana
15 de outubro de 2025
MANAUS (AM) – A falta de investimentos e a paralisação de obras essenciais continuam a impedir que a Região Norte exerça seu potencial econômico e ambiental no Brasil. Um estudo divulgado nesta quarta-feira, 15, pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que 74% dos empresários industriais avaliam a infraestrutura nortista como regular, ruim ou péssima, quase o dobro da média nacional, que é de 45%.
O levantamento – parte da série Panorama da Infraestrutura Regional – analisa gargalos em transportes, energia, saneamento e telecomunicações, além de listar obras prioritárias e propostas para destravar a logística e melhorar as condições de vida nos sete estados da região.
As deficiências de transporte são o principal obstáculo à integração econômica do Norte. Cerca de 90% dos empresários classificam as rodovias como regulares, ruins ou péssimas – o pior índice entre todas as regiões brasileiras. Grande parte da malha viária é de pista simples, sem acostamento e com longos trechos ainda sem pavimentação, o que encarece o frete e aumenta o tempo de deslocamento de mercadorias e pessoas.
Entre as obras estratégicas, a BR-319, que liga Manaus (AM) a Porto Velho (RO), segue como um dos maiores desafios do País, com pendências ambientais, falta de manutenção e atrasos no licenciamento. A Transamazônica (BR-230), concebida há mais de cinco décadas, ainda tem trechos sem asfalto e pontes inacabadas, como a do Rio Xingu, no Pará. A BR-156, no Amapá, também continua sem ligação plena entre Macapá e Oiapoque, isolando comunidades inteiras e dificultando o transporte de insumos e alimentos.

A precariedade se reflete nos números do Tribunal de Contas da União (TCU): de 3.790 contratos analisados de obras públicas no Norte, 2.207 estão paralisadas, o que representa 58% do total. Os setores de saneamento e transportes são os mais afetados. Mesmo com a previsão de R$ 294 bilhões do Novo PAC para a região, a CNI alerta que os investimentos executados ainda estão muito abaixo das necessidades reais.
Déficit em saneamento básico
O saneamento básico é o maior gargalo estrutural do Norte. Apenas 61% da população é atendida por rede de abastecimento de água, e somente 23% têm acesso à coleta de esgoto – o menor índice do País. Em estados como Amazonas, Pará e Acre, mais da metade da água tratada se perde antes de chegar às torneiras, devido a vazamentos, falhas de medição e ligações clandestinas. A taxa média de perdas na distribuição chega a 50%, superando a média nacional de 40%.
Esses números impactam diretamente a saúde pública e a produtividade. Em muitas cidades do interior, o descarte irregular de esgoto contamina rios e igarapés, ampliando casos de doenças de veiculação hídrica. A CNI defende que o novo marco do saneamento seja efetivamente implementado na região, com parcerias público-privadas (PPP) para acelerar obras em estados como Roraima e Rondônia, onde os sistemas ainda são insuficientes até em áreas urbanas.

O estudo também destaca que a revitalização de bacias hidrográficas, como a Tocantins-Araguaia, é urgente para garantir o uso sustentável da água e a expansão de polos industriais e agrícolas, reduzindo desigualdades regionais.
Energia cara e instável
A infraestrutura energética do Norte segue marcada por desigualdades. Até setembro de 2025, Roraima era o único Estado brasileiro ainda não conectado ao Sistema Interligado Nacional (SIN), dependendo de usinas termelétricas a diesel, de alto custo e impacto ambiental. Mesmo com a conexão recém-concluída, a baixa integração entre os sistemas de transmissão continua limitando o crescimento industrial e o fornecimento estável.
De acordo com o levantamento, 61% dos empresários consideram a infraestrutura de energia da região regular, ruim ou péssima. Em áreas remotas do Amazonas e do Acre, a dependência de geradores ainda é comum. A CNI sugere avançar em projetos como a Hidrelétrica de Bem-Querer (RR) e a expansão da geração nas bacias do Pará, desde que observadas as normas socioambientais.
O estudo reforça que a falta de energia confiável afeta a competitividade do Polo Industrial de Manaus (PIM) e o funcionamento de pequenas indústrias nos polos extrativistas e agroindustriais. “A baixa integração energética encarece a produção e desestimula investimentos”, afirma o presidente da CNI, Ricardo Alban, ao defender a modernização do setor com segurança jurídica e respeito ambiental.
Desigualdade digital na Amazônia
Apesar do avanço do Programa Norte Conectado, lançado para expandir a infraestrutura de fibra óptica, o acesso à internet e à telefonia de qualidade ainda é restrito em boa parte da região. Dois terços dos empresários entrevistados pela CNI classificam as telecomunicações como regulares, ruins ou péssimas. A falta de cobertura 4G e 5G nas rodovias e comunidades isoladas limita o funcionamento de escolas, hospitais e empresas.
O estudo recomenda acelerar a instalação das Infovias 05, 06 e 08, que devem interligar cidades como Autazes (AM), Porto Velho (RO), Manacapuru (AM), Rio Branco (AC) e Cruzeiro do Sul (AC). Em Roraima, a CNI propõe a expansão da fibra óptica até o interior, conectando áreas produtivas e fronteiriças.
Segundo o diretor de Relações Institucionais da CNI, Roberto Muniz, o desenvolvimento sustentável do Norte exige planejamento integrado entre infraestrutura física e digital. “Para que haja justiça social e o cumprimento do papel de preservação ambiental, a infraestrutura do Norte precisa ser pensada de forma ampla, inteligente e resiliente”, afirmou.