Inspirado no ritual Tikuna de iniciação feminina, começam os ensaios de abertura para o 10° Amazonas Green Jazz Festival

Corpo de Dança do Amazonas interpreta o rito de passagem Ticuna (Francisca Brito/CENARIUM)
Ívina Garcia – Da Revista Cenarium

MANAUS – Baseado na Festa da Moça Nova, ritual tradicional dos indígenas Ticuna, os ensaios para a abertura do 10° Amazonas Green Jazz Festival iniciaram nesta segunda-feira, 18, e buscam explorar as multifacetas culturais do Amazonas representadas pelo rito de iniciação feminina, feito após a primeira menstruação.

Composta pelo trompetista e compositor norte-americano Ed Sarath, “Rites of Passage”, ou Ritos de Passagens, faz homenagem aos 10 anos de evento, comemorados em 2022, após dois anos de pausa do festival por conta da pandemia da Covid-19. Em entrevista à REVISTA CENARIUM, o músico americano, que esteve no Brasil quatro vezes, sendo três delas no Amazonas, conta que recebeu o convite do maestro titular da Amazonas Jazz Band e diretor artístico do evento, Rui Carvalho, após mostrar a composição que serviu de inspiração para a abertura do festival.

10° Amazonas Green Jazz Festival acontece entre os dias 22 e 30 de julho (Francisca Brito/CENARIUM)

Sarath explicou que a inspiração veio de contos amazônicos que ele leu e ao conversar com Rui, casou a ideia com o ritual Ticuna, dando origem ao show de abertura. “Essa peça foi escrita antes de eu vir para o Brasil. Isso acontece muito na música quando algo precisa ser adaptado a outro contexto cultural e eu acho que aqui funcionou de uma forma muito bonita, porque a Amazônia tem vários ritos de passagem em sua cultura”, disse.

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Trompetista e compositor norte-americano Ed Sarath, durante ensaio para o 10° Amazonas Green Jazz Festival (Francisca Brito/CENARIUM)

Ao lado do saxofonista e educador brasileiro Marcelo Coelho e junto à Amazonas Jazz Band, Sarath vai tocar flugelhorn, (instrumento de sopro do grupo dos metais da família dos trompetes), enquanto o Corpo de Dança do Amazonas vai apresentar uma coreografia baseada no ritual indígena da etnia Ticuna, criada pelo coreógrafo convidado, especialmente, para o festival, Rui Moreira. “Eu estou muito ansioso, é uma grande honra”, declarou o compositor da peça musical.

O rito de passagem ticuna, que será levado ao palco do Teatro Amazonas na próxima sexta-feira, 22, é uma tradicional comemoração realizada durante três dias, com música ininterrupta, conhecido como “Festa da Moça Nova”, que faz alusão à primeira menstruação de jovens ticuna. Organizado pelas indígenas adultas, o ritual é repleto de mascarados, “encantados” (ü’üne) e “bichos” (ngo’o), representados na peça orquestral pelos dançarinos do Corpo de Dança do Amazonas.

Trecho do ensaio realizado na noite desta terça-feira, 19, no Teatro Amazonas (Ívina Garcia/CENARIUM)

Legado cultural e antropológico

O regente titular da orquestra e diretor artístico do festival, Rui Carvalho, disse à CENARIUM que a expressão artística por meio da multiplicidade é o carro-chefe do evento. “Essa hipertextualidade representada pela junção de música e dança é interessante porque, ao mesmo tempo que você tem uma junção da forma de expressão artística, você vai ter também uma junção de elementos da obra como um todo. Elas são o legado antropológico e cultural da Amazônia. Então, essa sobreposição de elementos conjugados contribui para formatar o texto do espetáculo como um todo”, afirma.

Regente titular da orquestra e diretor artístico do festival, Rui Carvalho (Ívina Garcia/CENARIUM)

Desafios

Apesar de todos os cuidados, alguns artistas que participam da orquestra testaram positivo para a Covid-19 e precisaram ser substituídos de última hora. “Hoje mesmo tivemos notícias de um músico que está com Covid-19. E estamos controlando esse problema à medida do possível. Hoje, peguei um garoto, aqui, muito talentoso, do Amazonas, que provavelmente vai estrear no festival com menos de meia dúzia de ensaios. Uma responsabilidade tremenda, mas a melhor maneira de aprender a nadar é se jogar dentro d’água. E eu vou jogá-lo lá no Rio Negro, ali no Janauari (risos)”, disse o regente.

Retorno e oportunidade

A coordenadora-geral do festival, Inês Daou, contou à REVISTA CENARIUM que a organização estava pronta quando chegou a primeira onda da pandemia. “É muito estimulante essa volta, pois era um festival que já estava pronto quando uma semana antes da estreia entramos em pandemia. E a gente conseguiu manter nesses dois anos o mesmo elenco. Estamos com uma expectativa super bacana de público para esse retorno”.

Berço de novos artistas, Inês comenta que os músicos que compõem a Amazonas Jazz Band não tinham experiência e foram formados pelo Mestre Rui, quando chegou à regência, há 21 anos. “Esses músicos, atualmente, dão aula no Liceu de Artes Cláudio Santoro, então, isso foi gerando da cultura do jazz, da música popular orquestrada. E eu acho muito bacana, principalmente, pra gente que está promovendo esse festival”, além do superevento, foi criado o programa, dentro do festival, chamado “Aqui tem Jazz” para estimular os donos de restaurante a contratarem pequenos grupos.

Corpo de Dança do Amazonas interpreta o rito de passagem Ticuna (Francisca Brito/CENARIUM)

Os ensaios terminam na próxima quinta-feira, 21, quando os artistas vão se preparar para a estreia marcada para sexta-feira, 22 de julho. Serão mais de 15 apresentações, além de workshops, palestras e masterclasses gratuitos e abertos à população que vão até o dia 30 de julho.

Os ingressos para as apresentações oficiais do Amazonas Green Jazz Festival estão à venda na bilheteria do Teatro Amazonas e no site Bilheteria Digital (www.bilheteriadigital.com) por valores que variam de R$ 15 (meia entrada) a R$ 100.

Ensaios acontecem até a próxima quinta-feira, 21 (Ívina Garcia/CENARIUM)

A primeira edição aconteceu em 2006 e, desde então, auxilia na formação de estudantes de música, operadores de áudio, técnicos em manutenção e reparo de instrumentos musicais, além de fomentar o gênero no Estado.

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