INSS: descontos ilegais no Amazonas foram denunciados ao MPF e MP-AM em 2024


Por: Marcela Leiros

10 de maio de 2025
INSS: descontos ilegais no Amazonas foram denunciados ao MPF e MP-AM em 2024
Aplicativo do Instituto Nacional do Seguro Social (Reprodução/INSS)

MANAUS (AM) – Descontos indevidos em pagamentos do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) a beneficiários do Amazonas foram denunciados pelo Instituto de Defesa do Consumidor do Amazonas (Procon/AM), ao Ministério Público Federal (MPF) e ao Ministério Público do Amazonas (MP-AM), em 2024, de acordo com documentos aos quais a CENARIUM teve acesso.

Em abril de 2024, exatamente um ano antes do “escândalo do INSS” vir à tona, o diretor-presidente do Procon/AM, Jalil Fraxe, encaminhou ofícios aos órgãos com denúncia sobre os descontos indevidos em benefícios de assegurados da Previdência Social, com nota técnica do Departamento Jurídico de 1ª Instância do instituto a respeito do que havia sido apurado pelo órgão.

De acordo com os documentos, a situação passou desapercebida, inicialmente, em vista das diferentes informações quanto a titularidade dos descontos, porém, devido às semelhanças das denúncias, uma documentação foi reunida e repassada ao INSS. Segundo o Procon/AM, o instituto confirmou a incidência dos descontos.

As instituições citadas na nota técnica do Procon foram a Associação dos Aposentados e Pensionistas Nacional (Aapen), Caixa de Assistência dos Aposentados e Pensionistas do INSS (Caap) e Associação dos Aposentados do Brasil (AAB).

Seriam diversos os nomes das instituições beneficiárias dos descontos, tendo sido apresentados a este departamento documentos em que se verifica como beneficiários a sigla AAB, Caap e Aapen, esta última identificada como Associação dos Aposentados e Pensionistas Nacional“, consta na nota técnica.

Trecho da nota técnica (Reprodução)

Os consumidores que buscaram o Procon/AM informaram desconhecer as instituições e não possuir qualquer relação com as mesmas. Em um dos casos analisados, o instituto obteve resposta da instituição
com o compromisso de cancelamento e ressarcimento dos valores ao consumidor em até 30 dias úteis. Os descontos sem autorização foram considerados “conduta em desfavor da pessoa idosa“.

Assim, a despeito da matéria, verifica-se que o mero fato de que os descontos são realizados a revelia do beneficiário e dependem de providências deste, que já é hipossuficiente, para suspensão, sem mencionar a possibilidade da não concretização do ressarcimento, que poderá ocorrer apenas após o prazo de 30 dias úteis (nada sabendo informar sobre correção de valores), já descreve conduta praticada em desfavor de pessoa idosa“, afirmou o Procon/AM no documento.

Trecho da nota técnica (Reprodução)

Ao final da nota técnica, a chefe do NAS solicitou a formalização de denúncia à 42ª Promotoria de Justiça de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa e da Pessoa com Deficiência (Prodhid), do Ministério Público do
Estado do Amazonas (MP-AM)
, e Ministério Público Federal (MPF).

A CENARIUM questionou o MP-AM e o MPF sobre os ofícios do Procon/AM, assim como quais medidas foram tomadas após o registro das denúncias, e aguarda retorno.

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O diretor-presidente do Procon/AM, Jalil Fraxe, afirmou que, em relação aos consumidores que já haviam denunciado o desconto, o órgão buscou negociar com as organizações. A recomendação é que pensionistas procurem o instituto, se em caso de maiores dúvidas, e, ainda, o Poder Judiciário. Para os hipossuficientes, é indicado buscar auxílio na Defensoria Pública do Estado (DPE/AM).

Alguns consumidores que nos procuraram em relação a esses descontos, nós já indicamos que vá até o Poder Judiciário, para que ele possa requerer a devolução desses valores. Todos os consumidores que foram recebidos [no Procon/AM], nós tentamos a negociação com a empresa, que supostamente faria o desconto“, pontuou Jalil Fraxe.

Fraude no INSS

O “escândalo do INSS“, como ficou conhecido o esquema que pode ter descontado R$ 6,5 bilhões dos aposentados, foi o motivo da queda do então ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, que entregou o cargo na sexta-feira, 2. A investigação da Polícia Federal (PF) e da Controladoria-Geral da União (CGU) envolve 11 entidades de classe, mas 31 são suspeitas de cobrarem mensalidade sem autorização.

Carlos Lupi pediu exoneração da função após escândalo do INSS (Divulgação)

No último dia 23, a “Operação Sem Desconto“, deflagrada pela PF e pela CGU, mirou o esquema nacional de descontos associativos não autorizados em aposentadorias e pensões. A operação ocorreu em diversos Estados, com o cumprimento de mandados de busca e apreensão, além de prisões preventivas.

As investigações identificaram a existência de irregularidades relacionadas aos descontos de mensalidades associativas aplicados sobre os benefícios previdenciários, principalmente aposentadorias e pensões, concedidos pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS)”, disse a PF, acrescentando que as entidades cobraram de aposentados e pensionistas o valor estimado de R$ 6,3 bilhões, no período entre 2019 e 2024.

Segundo o INSS, as 11 entidades investigadas pela CGU são:

  • Associação dos Aposentados e Pensionistas Nacional (Aapen).
  • Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag);
  • Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi/FS);
  • Associação dos Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos (Ambec);
  • Confederação Nacional de Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais (Conafer);
  • Associação dos Aposentados e Pensionistas do Brasil (AAPB)
  • Universo Associação dos Aposentados e Pensionistas dos Regimes Geral da Previdência Social (AAPPS Universo);
  • União Nacional de Auxílio aos Servidores Públicos (Unaspub);
  • Associação de Proteção e Defesa dos Direitos dos Apesentados e Pensionistas (APDAP Prev);
  • Associação Beneficente e Cultural Backman Nacional (ABCB/Amar Brasil);
  • Caixa de Assistência dos Aposentados e Pensionistas do INSS (Caap);

No relatório que detalha o esquema, a PF aponta que o Sindnapi atuou sem cumprir os requisitos exigidos para realizar descontos em benefícios previdenciários. De acordo com um ofício da Dataprev — estatal responsável pelos dados previdenciários e pela implementação das exigências técnicas — publicado ainda em 2024, tanto o Sindnapi quanto a Confederação Brasileira de Aposentados e Pensionistas (Cobap) não haviam validado a biometria facial dos beneficiários.

A biometria é uma exigência para garantir que os descontos em aposentadorias e pensões fossem, de fato, autorizados. Essa validação biométrica, com base em fontes públicas, foi estabelecida em março de 2024 pela Instrução Normativa Pres/INSS nº 162, que proibia repasses a entidades que não cumprissem os novos critérios de segurança.

Dois nomes do alto escalão do INSS são citados como envolvidos na liberação indevida dos descontos: Geovani Batista Spiecker, então diretor substituto de Benefícios e Relacionamento com o Cidadão, e o ex-presidente Alessandro Stefanutto. Ambos foram afastados dos cargos.

Investigação interna

Na segunda-feira, 5, conforme publicado no Diário Oficial da União (DOU), o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) determinou a abertura de investigação interna contra 12 entidades suspeitas de desviarem recursos de aposentados e pensionistas.

As portarias que autorizam a apuração foram assinadas pelo corregedor-geral substituto do INSS, José Alberto de Medeiros Landim. O prazo para conclusão do Processo Administrativo de Responsabilização (PAR) é de 180 dias. O Sindnapi não está entre elas. (Veja abaixo)

As entidades alvo da investigação interna do INSS estão:

  • Associação no Brasil de Aposentados e Pensionistas da Previdência Social (Apbrasil);
  • Associação Brasileira dos Aposentados e Pensionistas e Idosos (Asbrapi);
  • Confederação Brasileira dos Trabalhadores da Pesca e Aquicultura (CBPA);
  • Associação de Suporte Assistencial e Beneficente para Aposentados Servidores e Pensionistas do Brasil (Asabasp);
  • Centro de Estudos dos Benefícios dos Aposentados e Pensionistas (Cebap);
  • Caixa de Assistência aos Aposentados e Pensionistas (Caap);
  • Associação dos Aposentados e Pensionistas dos Regimes Geral da Previdência Social (AAPS);
  • Associação dos Aposentados e Pensionistas do Brasil (AAPB);
  • Associação dos Aposentados e Pensionistas Nacional (Aapen);
  • União Nacional de Auxílio aos Servidores Públicos (Unaspub);
  • Associação de Aposentados Mutualista para Benefícios Coletivos (Ambec);
  • Associação de Proteção e Defesa dos Direitos dos Aposentados e Pensionistas (APDAP Prev).

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