Iphan estuda tornar grafismos do povo Huni Kuĩ patrimônio cultural
Por: Ana Pastana
24 de janeiro de 2025
MANAUS (AM) – O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), por meio do Ministério da Cultura (MinC), publicou no último dia 22, no Diário Oficial da União (DOU), que está em trâmite a proposta de registro do grafismo dos povos indígenas Huni Kuĩ (Kaxinawa), denominado como Kene Kuĩ, como Patrimônio Cultural do Brasil. O Iphan abriu uma consulta pública, no prazo de 30 dias, para que a sociedade se manifeste sobre o pedido de registro do bem cultural.
O pedido foi feito por meio de um documento assinado por 127 representantes de comunidades e organizações indígenas do povo Huni Kuĩ, em 2006. De acordo com a pasta, o povo Huni Kuĩ tem originalidade da Amazônia Ocidental entre a fronteira do Brasil com o Peru. Atualmente, os povos indígenas dessa etnia habitam no Estado do Acre e no sul do Amazonas.
O objetivo de reconhecer o Kene Kuĩ como Patrimônio Cultural visa proteger e valorizar os conhecimentos ancestrais dos povos Huni Kuĩ que, segundo a publicação, está sendo ameaçado. “Os Huni Kuĩ enfrentam desafios para preservar o Kene Kuĩ, como o desinteresse das novas gerações, o declínio do cultivo de algodão nativo para tecelagem e a apropriação indevida dos grafismos por não indígenas. Reconhecer o Kene como Patrimônio Cultural do Brasil visa não apenas proteger este patrimônio, mas também valorizar os detentores desses saberes e fomentar ações de salvaguarda que garantam sua continuidade histórica e cultural“, explicou.

Kene Kuĩ
O Kene Kuĩ é considerado uma linguagem visual com um conjunto de conhecimentos ancestrais, que envolvem técnicas e rituais, materiais e imateriais com a produção de padrões gráficos feitos pelo povo Huni Kuĩ. Além do grafismo, as produções também envolvem tecelagem, cestaria, pintura corporal, cerâmica, produção de redes, miçangas e outros.
“Os grafismos dos Kene possuem uma unidade estilística inconfundível, marcada por uma estética que equilibra simetria e assimetria, figura e fundo, e utiliza padrões geométricos elaborados que narram histórias e refletem uma cosmologia rica e complexa. Tradicionalmente, a produção do Kene é realizada majoritariamente por mulheres, que desempenham o papel de ” aĩbu keneya” (mestras do desenho), transmitindo os saberes por meio de práticas orais, cânticos e rituais. O aprendizado dos Kene inclui também a observação e a relação com os “yuxibu” (seres da floresta), que inspiram e guiam a criação gráfica“, diz a publicação.

CPI-Acre
A série audiovisual “Tecendo Memórias”, apoiada pela Comissão Pró-Indígenas do Acre (CPI-Acre), organização fundada em 1979 sem fins lucrativos, dirigida pela professora e indigenista acreana Dedê Maia, mostra como são feitos os grafismos Kene Kuĩ a partir dos povos Huni Kuĩ. Assista a seguir.
Huni Kuĩ
De acordo com a CPI-Acre, Huni Kuῖ significa “o próprio povo, somos nós mesmos”. Huni é a denominação de “homem”, “gente” e “kuῖ” quer dizer “que é esse mesmo, é o verdadeiro”. A palavra Kaxinawa surgiu durante o contato entre si. “Os parentes sempre têm esse costume de ver alguém com aquela característica de roupa, de alimentação, de cultura, de língua, aí eles deram esse nome Kaxinawa para nós. Kaxi é morcego, nawa é povo”, explica o doutor em linguística e professor Huni Kuĩ Joaquim Paulo Adelino Kawinawá.
Atualmente, ainda segundo a organização, o povo Huni Kuĩ tem uma população estimada em 14 mil indígenas, que estão em cinco regiões e em 12 Terras Indígenas (TI), de acordo com dados da Federação do Povo Huni Kuĩ do Estado do Acre (Fephac), de 2019. Além do Brasil, também há indígenas no Peru, onde habitam cerca de 2.419 indígenas.
