Isolado no próprio partido, Doria anuncia desistência de disputar eleições para presidente


23 de maio de 2022
Isolado no próprio partido, Doria anuncia desistência de disputar eleições para presidente
O ex-governador de São Paulo, João Doria, ao anunciar a desistência da sua pré-candidatura à Presidência Foto: CARLA CARNIEL / REUTERS
Com informações da Folhapress

SÃO PAULO — O ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB) anunciou a sua desistência a pré-candidatura ao Palácio do Planalto, cedendo a pressões da cúpula do seu partido, que pretende anunciar apoio à senadora Simone Tebet (MDB-MS) e consolidar uma candidatura única da chamada terceira via.

“Me retiro da disputa com o coração ferido, mas com a alma leve. Saio com sentimento de gratidão e a certeza de que tudo o que fiz foi em benefício de um ideal coletivo, em favor dos paulistanos, dos paulistas e dos brasileiros”, disse.

“Hoje, serenamente, entendo que não sou a escolha da cúpula do PSDB. Aceito esta realidade com a cabeça erguida. Sou um homem que respeita o bom senso, o diálogo e o equilíbrio. Sempre busquei e seguirei buscando o consenso, mesmo que ele seja contrário a minha vontade pessoal. O PSDB saberá tomar a melhor decisão no seu posicionamento para as eleições deste ano”, discursou.

O anúncio, feito em tom grave nesta segunda-feira, 23, na casa alugada para seu comitê de campanha, nos Jardins, contraria a postura de Doria e de seus aliados nos últimos dias, que vinham negando a possibilidade de abrir caminho para a emedebista.

Dirigentes do PSDB não acreditavam que haveria acordo com Doria e apostavam até na judicialização do imbróglio. O tucano chegou a sinalizar que buscaria a Justiça Eleitoral para garantir que o PSDB lhe desse legenda com base no fato de ter vencido prévias em novembro passado.

Doria relembrou sua história na política e a carreira na iniciativa privada, com menções também ao pai, João Doria, deputado federal cassado no golpe militar de 1964.

Ele discursou com um painel da bandeira do Brasil ao fundo e acompanhado pelos aliados mais próximos e pela esposa, Bia Doria. Foi aplaudido por correligionários e chorou ao fim da fala de cerca de dez minutos.

Tebet mais viável que Doria

O PSDB deve deliberar apoio a Tebet em reunião da executiva nesta terça-feira, 24. MDB, PSDB e Cidadania têm um acordo para lançar uma candidatura única da chamada terceira via — e, na semana passada, uma pesquisa encomendada pelos partidos indicou que a emedebista era mais viável do que o tucano.

Como mostrou a Folha, apesar de Doria ter vencido as prévias do PSDB em novembro passado, a cúpula do partido vinha seguindo um roteiro para derrubar sua pré-candidatura com base no acordo firmado com MDB e Cidadania.

Além disso, Doria enfrentou concorrência do ex-governador gaúcho Eduardo Leite (PSDB), que ensaiou uma pré-campanha presidencial apesar de ter sido derrotado nas prévias do partido.

Até aliados de Doria admitiram que sua pré-candidatura havia ficado insustentável depois que mesmo a bancada paulista do PSDB, que o apoiou nas prévias, passou a operar contra Doria.

Tucanos afirmam que isso inclui o atual governador, Rodrigo Garcia (PSDB), que em entrevistas recentes defendeu o acordo com o MDB e uma candidatura competitiva da terceira via. A pré-campanha de Rodrigo vem tentando se descolar de Doria. Já auxiliares do governador negam que ele faça parte de uma conspiração contra o antecessor.

Na última terça-feira, 17, a maior parte da executiva do PSDB, em reunião, avaliou que Doria prejudicaria os demais candidatos do partido, o que ampliou a expectativa de que o ex-governador paulista desistisse -algo que seus aliados sempre negaram.

Doria já havia ameaçado desistir de concorrer ao Planalto -em 31 de março, chegou a dizer a aliados que não renunciaria ao Governo de São Paulo, o que prejudicaria os planos eleitorais de Rodrigo.

Na época, entrou em curso uma operação para salvar o vice. O presidente do PSDB, Bruno Araújo, divulgou uma carta reafirmando a escolha do PSDB por Doria. O ex-governador voltou atrás acreditando em uma vitória política -disse que o recuo fora estratégia. Com Rodrigo empossado, o papel não valia mais nada.

Enquanto parte do PSDB defende o apoio a Tebet, outra ala ainda prega uma candidatura própria -desde que não seja a de Doria. A aposta é a de que o MDB acabará rifando Tebet, o que abriria espaço para a candidatura tucana.

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