Isolados desde 2020, profissionais rebatem fala de Bolsonaro sobre ‘idiotas que ficam em casa’
18 de maio de 2021
Isolamento social continua sendo seguido em alguns lugares do País (Reprodução/Governo do Mato Grosso do Sul)
Marcela Leiros – Da Revista Cenarium
MANAUS – O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a criticar nessa segunda-feira, 17, medidas de isolamento social. Desta vez, afirmou que “tem alguns idiotas que até hoje ficam em casa”, fazendo referência a quem continua seguindo uma das principais recomendações no combate à pandemia de Covid-19. Mais uma vez, o posicionamento repercutiu negativamente e quem ainda segue este protocolo se posicionou contra a fala e compartilhou a difícil experiência do isolamento.
A amazonense e assessora jurídica Rosseline Tavares, de 38 anos, reside há quatro anos em São Paulo e mora sozinha em um apartamento no centro da capital paulista. Trabalhando de home office desde o início da pandemia, contou à CENARIUM que sabe estar usufruindo do privilégio de poder trabalhar de casa, mas escolheu, mesmo depois de flexibilizarem medidas de restrição, continuar em isolamento social.
A amazonense Rosseline Tavares mora há 4 anos em São Paulo e cumpre o isolamento social desde o início da pandemia de Covid-19 (Reprodução/Arquivo Pessoal)
“Ficar no isolamento para mim desde o início foi a única opção possível, porque era tudo muito assustador, eu fiquei com muito medo de ficar doente longe da minha família. Tenho amigos, mas é diferente, porque você não sabe como é a rotina dos seus amigos, você não quer incomodar, então para mim ficar em isolamento social foi difícil, mas eu não tinha outra opção, mas fui privilegiada de trabalhar de home office”, disse ela, que também é antropóloga.
Rosseline também lembrou que a opinião do presidente é insensível as 437 mil mortes no País e influenciar as pessoas a se arriscarem é irresponsável. “Nós vivemos em um País no qual o presidente da República se apresenta como uma pessoa extremante insensível à situação que milhões de brasileiros estão passando, da morte de pessoas a doenças. Me parece uma indiferença com a humanidade”, reforçou ela.
Sem previsão de voltar ao ‘normal’
O isolamento social também continua sendo cumprido pela economista Glenda Karen de Castro Cáuper, 27 anos, em Manaus. Ela trabalha com comércio exterior e está em trabalho domiciliar desde o início da pandemia. O isolamento é compartilhado junto com os pais, a irmã mais nova e uma cadela.
Para ela, além da orientação de cumprir o expediente em casa ter sido dada pela empresa, continuar cumprindo os protocolos de isolamento fora do horário de trabalho é uma proteção à saúde, tanto dela quanto da família. “Eu tenho problemas respiratórios, rinite, sinusite e faringite, e já tive bronquite asmática quando era criança. Minha irmã tem os mesmo problemas que eu, tenho muito medo de pegar Covid-19 ou alguém da minha família, principalmente minha irmã”, disse a economista.
Glenda Cáuper e a cadela Tereza em um momento de pausa no isolamento social, cumprido também desde o início da pandemia (Reprodução/Arquivo Pessoal)
Assim como Rosseline, Glenda Cáuper reforçou que a fala de Bolsonaro indigna pessoas que estão em casa cumprindo os protocolos sanitários e se protegendo. “Nós ‘idiotas’ estamos em casa porque o governo brasileiro não trabalhou para vacinar a população, eu fico muito indignada que alguns países, até mesmo os Estados Unidos que tinha um presidente negacionista, já estão podendo voltar “ao normal” e a gente ainda nem tem previsão, eu nem tenho previsão de quando poderei tomar a primeira dose da vacina”, destacou ela.
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