Da Revista Cenarium*
Com as escolas e parques fechados, as crianças, habituadas a passar o dia gastando energia em atividades recreativas em casa ou em locais arejados, são as mais afetadas em suas rotinas diárias, neste período de isolamento social, causados pela pandemia de Covid-19.
São mais de três meses sem contato social com amigos, colegas e parentes. Segundo especialistas esse tempo longe da escola, da creche, dos parques e das praças e de outros ambientes é inédito para todos, especialmente para os pequenos, que aprenderam a lidar com a educação a distância para o ensino formal de crianças e adolescentes.
“Nesse período de pandemia e consequente isolamento social, a rotina das crianças, inevitavelmente, sofre mudanças. A maior mudança é não ir à escola, e esse período da vida da criança no ambiente escolar é muito relevante. Ficar sem esses momentos em que a criança exercita sua socialização, compartilha conhecimentos e os adquire de maneira próxima com professores/educadores, pode ser um fator gerador de estresse emocional”, diz o psicólogo clínico Danilo Lima Tebaldi, do Centro de Saúde Escola, unidade auxiliar da Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Segundo o psicólogo, os pais precisam prestar atenção a alguns sinais e sintomas que podem surgir no decorrer do tempo.
“Os pais devem ficar atentos a qualquer mudança de comportamento dos filhos, ou seja, comportamentos que antes a criança não apresentava e passou a apresentar, tais como agressividade, comportamento inquieto e/ou agitado, presença de medos infundados e aspectos regredidos de comportamento [como chupar o dedo].”
O mundo continuará limitado ao espaço físico da casa por um bom tempo, mesmo para os que trabalham fora e, depois do expediente, não podem circular pela cidade. Assim, deve-se cuidar tanto do ambiente privado quanto do público, porque é a partir do lar que se constrói o ser humano.
Diálogo constante
Tebaldi recomenda muito diálogo com os filhos nesse momento difícil.
“Os pais devem estimular o diálogo com seus filhos, explicando o que está acontecendo a eles de uma maneira adequada a faixa etária de cada um. Ou seja, para crianças pequenas, a linguagem deve ser simples e acessível ao entendimento delas. E deve-se tomar cuidado com o excesso de informações, pois isso pode gerar ansiedade e medo na criança”, pondera.
O psicólogo destaca que os adultos, muitas vezes, pensam que as crianças ignoram o que está acontecendo, e isso não é verdade.
“A criança, mesmo que sem os recursos cognitivos suficientes para entender e interpretar o contexto, sente que há algo ‘diferente’ acontecendo, e isso deve ser conversado. O diálogo é essencial neste momento para que a criança seja corretamente informada e, com isso, os sentimentos de medo e insegurança, que são normais nessa fase, sejam manejados de maneira adequada.”
Outra recomendação é estimular as crianças a expressar seus sentimentos, medos, angústias e inseguranças por meio de desenhos e estratégias em que haja o aspecto lúdico. “A rotina é outro ponto muito importante nesse momento. Muitas crianças estão tendo aulas de maneira remota, um desafio para muitos, e os pais devem ser participantes ativos neste processo m que o ensino e a aprendizagem ocorrem de maneira bem diferente do habitual.”
Importância de manter a rotina
Danilo Tebaldi enfatiza que o diálogo dos pais com as crianças tem de ser franco e espontâneo porque elas entendem, a seu modo, o que está acontecendo.
“Falar abertamente sobre o tema da pandemia, os riscos de contaminação, as maneiras de prevenção, a importância do isolamento social, escutar o que as crianças pensam sobre isso, as dificuldades que elas encontram nesse momento, é fundamental.”
Tebaldi enfatiza ainda a importância da rotina de estudos, das brincadeiras e do descanso também é importante. É preciso ainda salientar que, ficar em casa não significa “férias”, e sim um novo modo de estar no mundo.
“O estresse muitas vezes é inevitável, mas pode ser administrado e, consequentemente, minimizado, com diálogo, expressão de afetos de maneira lúdica, com desenhos, brincadeiras e jogos, para que a criança possa ventilar seus pensamentos e sentimentos e assim poder elaborar o que está acontecendo”, orienta Tebaldi.
Na avaliação do psicólogo, com o quadro atual da pandemia, em que muitas pessoas estão morrendo, e isso é diariamente noticiado, é comum e esperado que as pessoas fiquem ansiosas e inseguras.
“O sentimento de incerteza é muito intenso, visto que não há, por enquanto, uma vacina ou remédio verdadeiramente eficaz para todos. Tais sentimentos podem se exacerbar deixando algumas crianças tímidas e mais introvertidas, e nesse momento é fundamental que a criança tenha espaço para expressar seus sentimentos”, finaliza.
(*) Com informações da Agência Brasil