Jovem ativista brasileiro é destaque em protesto com Greta na pré-COP, em Milão

Ativista brasileiro Eric Terena, 28, durante discurso após marcha do movimento Fridays For Future, liderado pela ativista sueca Greta Thunberg, pelas ruas de Milão (Rafael Jacinto)

Com informações da Folha de S.Paulo

MILÃO – Nesta sexta-feira, 1º, enquanto as delegações passavam o segundo dia da pré-COP-26 reunidas a portas fechadas, movimentos de ativistas pelo clima foram às ruas de Milão, na Itália, pressionar. Com a presença da sueca Greta Thunberg, o Fridays For Future realizou uma marcha que atravessou o centro da cidade. Segundo os organizadores, o protesto reuniu cerca de 50 mil pessoas.

Formado por estudantes, o ato começou a se deslocar por volta das 9h30 (hora de Milão) rumo ao centro de convenções onde acontece a pré-COP-26, a última reunião preparatória para a 26ª Conferência do Clima da ONU, que ocorre daqui a um mês em Glasgow, na Escócia.

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Com a presença da sueca Greta Thunberg, o Fridays For Future realizou uma marcha que atravessou o centro da cidade (Miguel Medina / AFP)

Protegida por um cordão de ativistas, Greta estava no primeiro pelotão, ao lado de Vanessa Nakate, ativista ambiental da Uganda, com grande protagonismo nos eventos desta semana. A pré-COP-26 foi antecedida pela cúpula juvenil Youth4Climate, que de forma inédita reuniu cerca de 400 jovens de quase 200 países, entre eles, três brasileiros.

Ao som de “Bella Ciao”, símbolo da resistência antifascista durante a Segunda Guerra, o grupo foi aumentando de tamanho conforme avançava, chegando a interromper várias ruas importantes do centro. Pouco antes das 13h, o cortejo chegou ao fim de frente a um pequeno palco, de onde discursaram alguns líderes internacionais.

“Venho de um País que tem uma das mudanças climáticas mais rápidas do mundo. E tenho visto como essas mudanças têm afetado não só meu País, mas todo o continente africano. O que é algo irônico, porque a África tem a segunda menor taxa de emissão de CO2 entre os continentes, só atrás da Antártida”, disse Nakate, 24.

“Isso não é só sobre o clima, é sobre pessoas. Muitos africanos estão perdendo suas casas, suas terras, seus negócios”, afirmou, como consequência de eventos extremos como o ciclone Idai, que matou mais de mil pessoas em 2019 em países como Moçambique e Zimbábue.

Em seguida, aplaudida como uma estrela pop, foi a vez de Greta, 18, discursar. “Agora mesmo autoridades de todo o mundo estão reunidas para discutir a crise climática e estão fingindo que eles têm soluções e que estão tomando providências suficientes. Mas já vimos as suas mentiras, todo esse ‘blá, blá, blá’, e estamos cansados disso”, disse.

“E por isso estamos nas ruas. Porque a mudança virá das ruas, não dessas conferências.”
Pouco depois, Eric Terena, 28, um dos três brasileiros convidados pelo governo italiano a participar da cúpula juvenil Youth4Climate, foi chamado a subir no palco.

“Nossos territórios estão ameaçados e existem projetos de lei com os quais o governo quer acabar com as áreas de proteção no País. Lanço, então, um desafio para todos os jovens: vamos ajudar os povos indígenas a proteger as florestas e a Amazônia”, disse.

Morador da terra indígena Cachoeirinha, em Mato Grosso do Sul, com cerca de 8.000 índios da etnia terena, ele participou dos debates para a produção do documento que foi entregue nesta quinta (30) às autoridades participantes da pré-COP-26.

“É importante lembrar que há muito tempo a gente foi silenciado e ter a oportunidade de falar neste momento é um marco muito importante para juventude indígena e para os povos indígenas”, disse à reportagem, logo após descer do palco.

“Pela primeira vez um governo [italiano] lança um desafio para a juventude e, dentro da juventude, o povo indígena tem um espaço. Estávamos em quatro povos indígenas, de diferentes regiões do mundo, e saber que nós sofremos dos mesmos problemas hoje nos fortalece ainda mais”, disse ele, que estará em Glasgow para a COP-26, entre 1º e 12 de novembro.

Vivendo em um território autodemarcado, que espera há mais de dez anos pela oficialização da demarcação, ele diz que a morosidade aumentou nos últimos anos. “O governo enfraqueceu e sucateou todos os órgãos de regulação do meio ambiente, dos povos tradicionais, como a Funai, e de secretaria de saúde indígena.”

“As populações indígenas hoje vivem, no Brasil, um processo de genocídio institucionalizado. As pessoas acham forte isso, mas, quando você começa a fazer mecanismos por meio da instituição governamental, isso é um processo genocida. Pois não garante o processo natural de direito humano, de direito à vida, à terra”, disse ele, que é DJ e jornalista da Mídia Índia.

“Caso o marco temporal, que é o primeiro de várias outras leis que estão no Congresso, venha a ser aprovado, vai acabar com todas as áreas de demarcação do País.”

Neste sábado, no último dia da pré-COP-26, um documento com os resultados dos debates deve ser divulgado. Com cerca de 40 países representados, o evento é a última oportunidade formal de os ministros avançarem em detalhes que serão discutidos e concordados -ou não- pelas delegações em Glasgow.

Adiada em um ano por causa da pandemia de Covid, a conferência é uma das mais aguardadas desde o Acordo de Paris, em 2015. É nela que os países devem atualizar seus compromissos para reduzir a emissão de carbono.

Um dos objetivos da presidência britânica da COP-26 é um acordo sobre a meta de neutralizar emissões até 2050 e limitar o aumento da temperatura global até 1,5ºC -um crescimento provável de ocorrer até 2040.

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