Jovem pobre que emprestava livros para estudar é aprovado em concurso para juiz

João Paulo sofreu diversos preconceitos, entre elas, recorda ele, foi quando ouviu de um colega que ele nunca chegaria em nenhum lugar por não ter um sobrenome de peso. No entanto, João provou o contrário (Divulgação/ Internet)

Luciana Bezerra e Luís Henrique Oliveira — Da Revista Cenarium

MANAUS — O jovem cearense João Paulo Barbosa Neto, 28 anos, proveniente de família humilde do interior do Ceará, passou em 23º lugar no concurso para juiz de Direito do Tribunal de Justiça do Pará (TJTA). Nascido em Itaiçaba (a 165 quilômetros de Fortaleza), uma pequena cidade no interior do Estado, com sete mil habitantes, o jovem passou por diversos obstáculos até a realização do seu sonho.

Atualmente, João Paulo reside em Mossoró, no Rio Grande do Norte. Em entrevista à REVISTA CENARIUM, nesta quarta-feira, 24, falou sobre sua história de vida e as dificuldades enfrentadas durante o processo para a vaga.

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O cearense cursou todo o ensino médio em escola pública e pretendia cursar engenharia, nutrição, administração ou medicina. No entanto, João não imaginava, na época, que o destino reservaria outro lugar para ele. Recém-aprovado para o cargo de juiz de Direito no TJPA, ele ainda aguarda ser chamado para assumir o cargo na região Norte do País.

“Estou ansioso para morar na região Norte e começar a desempenhar esse cargo para o qual me preparei”, adianta.

Desde criança, João Paulo, sabia que só poderia atingir seus objetivos por meio dos estudos (Divulgação/ Arquivo Pessoal)

“Direito era a última opção da minha lista de profissões. Mas, ao longo do curso, fui me identificando naturalmente com a carreira de advogado e fui estudando e sonhando até passar no concurso de juiz”, ressaltou João.

Dificuldades

João passou por várias dificuldades até chegar onde está hoje. Segundo ele, após o término do ensino médio em Itaiçaba, mudou para Mossoró, para cursar Direito na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), já que na sua cidade natal não tem curso de graduação.

Longe da família, o estudante teve de se adaptar com as adversidades e apuros financeiros durante a faculdade. “A minha adaptação foi difícil em Mossoró, principalmente em relação à logística e pela saudade e preocupação com os meus pais. Como a cidade é dividida por um rio e apenas pontes ligam o lado leste ao oeste da cidade, a locomoção é bem complicada. Além disso, os campus universitários ficam em um lado da cidade, que eu acabava tendo dificuldade, pois morava de favor na casa da minha tia do outro lado”.

João relata ainda que pelo transporte público ser precário na região, tinha de recorrer a caronas para conseguir chegar a tempo de assistir às aulas. “Perdi as contas de quantas vezes me arrisquei à beira da estrada esperando alguém parar e me dar carona. Lembro de uma vez que eu tinha uma prova e peguei carona em uma viatura da Polícia Militar para poder chegar a tempo. Outra ocasião, foi um carro sem banco, onde fui sentado no chão do veículo. Em outro momento, o reitor da universidade me levou. Todo dia era uma proeza diferente”.

Muitas vezes o cearense precisou da ajuda de amigos para estudar, pois não tinha dinheiro para comprar livros, estudava 35 horas todos os dias (Divulgação/Arquivo Pessoal)

Outro ponto relevante, além dos percalços do caminho, segundo o futuro juiz, era sobre os livros para poder estudar, já que não tinha recursos para comprá-los. “Os livros de Direito eram caros e eu não tinha como comprá-los. Então, eu pegava livros emprestados na biblioteca da faculdade ou com colegas. Só não passei por maiores dificuldades porque os meus pais faziam qualquer sacrifício para investir em minha educação”, ressaltou.

Carreira

O futuro juiz lembrou que abriu mão da companhia de amigos, diversão e até mesmo do convívio social para se preparar para o concurso. Segundo ele, sua mulher foi fundamental neste momento. “Agradeço minha mulher pela compreensão. Casamos em uma semana, na outra foi a prova do concurso”.

Sobre quais conselhos daria para quem está se preparando para um concurso deste porte, João Paulo diz: “Diria que comecem a se comportar como juízes desde o início. Quem quer ser juiz tem de ir se acostumando com a ideia de não entrar em discussões político-partidária”, conclui.

João enfatiza ainda que as decisões do Poder Judiciário não podem ficar sob a suspeita social de terem sido proferidas por razões políticas, pois, segundo ele, a atuação dos juízes é técnica, de acordo com a lei e a Constituição.

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