Jovens levam discussões da COP26 para as ruas de Glasgow

Jovens brasileiros da Coalizão Negra participam de protestos a favor do clima durante a COP26 em Glasgow. — Foto: Marcelo Rocha

Com informações do ONU News

A primeira semana da 26ª Conferência da ONU para Mudança Climática (COP26), está fechando com o protagonismo de jovens atuando na cidade que abriga as negociações até 12 de novembro. Mais de 25 mil ativistas estiveram, tanto nos corredores do centro de conferências como fora do recinto, em protestos, na sexta-feira, 5, em Glasgow. Em dimensão maior, sábado prevê manifestações como parte do movimento ‘Justiça Climática’.

A mobilização na cidade escocesa vem sendo acompanhada pela co-presidente do Painel de Recursos Naturais da ONU, Izabella Teixeira, que foi ministra do Meio Ambiente do Brasil. “Não há mais como achar que a natureza vai esperar por nós. A pressão é real. E essa pressão significa dizer que, em 2030, esses jovens tomarão decisões, possivelmente. Esses jovens, hoje com 18 anos, 19 anos ou 17, estarão com 30. Estarão nesse mundo tomando decisão. Então, têm que trazer o futuro do presente e começar a agir”.

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Em reuniões formais, ajuntamentos e manifestações participam jovens indígenas, cidadãos de países em desenvolvimento e pequenos estados insulares e outros que são afetados pela crise climática. 

Na segunda e última semana da conferência, os negociadores de centenas de países tentarão traçar um caminho para manter o aumento das temperaturas globais abaixo de 1,5ºC, o limite do Acordo de Paris de 2015.

Izabella Teixeira defende que se deixem para trás marcas de divergências. Em conferências anteriores houve fracassos atribuídos a interesses dos países.

Representatividade 

O dia dedicado aos jovens na COP26 teve a participação da ativista sueca Greta Thunberg. Os protestos pedem mais participação e representatividade, além do reforço de ações para permitir a vida de futuras gerações.

“Queremos justiça climática agora” foi a frase que ecoou nas ruas, com milhares de manifestantes tomando as vias, no dia dedicado aos jovens. 

Embora a marcha tenha sido organizada, inicialmente, pelo movimento jovem inspirado na ativista sueca Greta Thunberg, pessoas de todas as idades se reuniram no centro da cidade para exigir ações climáticas.

De crianças com cartazes feitos à mão a adultos, todos pediam por um futuro melhor para as gerações futuras. Assim, a sede da COP26 viu cidadãos em números sem precedentes se reunindo para fazer sua mensagem ser ouvida. 

Indígenas

A cidadã galesa Jane Mansfield carregava uma placa que dizia: “alerta vermelho para a humanidade”, a frase que o secretário-geral da ONU, António Guterres, usou após o último relatório do Ipcc publicado no início deste ano alertar para uma iminente catástrofe climática.

Em entrevista à ONU News, ela afirmou se preocupar com o mundo sendo passado para as gerações futuras. Moradora da região sudoeste do País de Gales, ela afirmou que é possível observar a mudança climática, embora não seja possível entender o que está acontecendo em tantas outras partes do mundo, e revelou ter medo.

Líderes indígenas latino-americanos, entre as manifestações, foram os que lideraram a marcha. Vários deles enviaram uma mensagem em voz alta aos líderes mundiais: “parem de extrair recursos” e “deixem o carbono no solo”.

Entre os depoimentos na praça central de Glasgow, um deles afirmou que indígenas estão morrendo no rio, sendo arrastados por grandes enchentes. Casas e escolas também estão sendo impactadas, assim como as plantações.

Enquanto isso, alguns ativistas usavam máscaras de presidentes e primeiros-ministros e os retratavam como presidiários, com cartazes que diziam: “criminosos climáticos”.

Conversa 

A ativista sueca Greta Thunberg foi a última a aparecer no palco do protesto e seguiu as críticas aos líderes mundiais, pelo que chama seu contínuo “blá, blá, blá”, após 26 anos de conferências sobre o clima. Ela colocou em dúvida a transparência dos compromissos que assumiram durante a Conferência da ONU para Mudança Climática. 

Greta destacou que “os líderes não estão fazendo nada, eles estão ativamente criando brechas e moldando estruturas para se beneficiarem e continuarem lucrando com esse sistema destrutivo”.

Para ela, “é uma escolha ativa dos líderes, para continuar a exploração da natureza e das pessoas e a destruição das condições de vida presentes e futuras”, chamando a conferência de “evento de greenwashing”.

O termo é utilizado para criticar a apropriação do discurso ambiental por organizações, como governos e empresas, sem ações concretas. Uma grande parte dos jovens também pediram mais participação e representação nas negociações que estão em andamento na COP26.

Negociações

Um jovem representante de mais um grupo de ativistas climáticos que estava na demonstração afirmou que todos os anos ficam decepcionados com os resultados da COP, esperando o mesmo para este ano. Ele afirmou haver uma ponta de esperança, mas ao mesmo tempo pouca ação, e que não é possível alcançar nada com apenas promessas vazias.

As mesmas reivindicações foram feitas dentro da conferência, onde ativistas climáticos entregaram à presidência da COP e a outros líderes uma declaração assinada por 40 mil jovens exigindo mudanças.

O documento inclui diversos pontos de preocupação, entre eles, negociações climáticas mais inclusivas. Eles também pediram à secretária executiva da Convenção – Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, Unfccc, Patricia Espinosa, que apoiasse seus esforços para adicionar um parágrafo mencionando a importância da juventude na declaração final que deve ser adotada na conclusão da COP26.

Juventude 

Ela prometeu que levará as questões e demandas à atenção das delegações, já que são todas “absolutamente razoáveis e justificáveis”. O comunicado, que foi entregue aos ministros, também pede ações sobre finanças climáticas, mobilidade e transporte, proteção da vida selvagem e conservação ambiental.

O presidente da COP26, Alok Sharma, destacou que está impressionado com a paixão e o compromisso dos jovens com a ação climática. Ele afirmou que as vozes dos jovens devem ser ouvidas e refletidas nessas negociações. 

Conforme afirmou, “as ações e o escrutínio dos jovens são fundamentais para mantermos a meta de 1,5 graus centígrados viva e criar um futuro sem emissões”.

Enquanto isso, o Reino Unido e a Itália, em parceria com a Unesco, Youth4Climate e Mock COP, coordenaram uma nova ação global para treinar as gerações futuras com o conhecimento e as habilidades por um mundo neutro em carbono.

À medida que os ministros da educação e os jovens se reuniam, mais de 23 países apresentaram compromissos nacionais de educação climática, que vão desde a descarbonização do setor educacional até o desenvolvimento de recursos escolares.

Aquecimento global

A Unfccc publicou as atualizações dos compromissos nacionais, até agora, para reduzir as emissões de carbono e, embora alguns avanços tenham sido feitos durante a conferência, eles ainda não são suficientes.

O relatório aponta que a previsão é de um aumento considerável, de cerca de 13,7%, nas emissões globais de gases com efeito estufa, em 2030, em comparação com 2010. 

Antes da COP, o aumento era calculado em 16%, mas para que o mundo seja capaz de conter o aquecimento global e evitar consequências desastrosas, as emissões devem ser reduzidas pela metade, nos próximos nove anos.

Para a jovem ativista Carla Huanca, que viajou da Bolívia para estar em Glasgow com seu amigo, o dinossauro “T-Resilient”, outra extinção não pode ser uma possibilidade.

Ela declarou que os jovens são os herdeiros deste planeta e, por isso, é tão importante que suas vozes sejam ouvidas. Ela reafirmou a exigência por “ações governamentais, por parte dos governos, para ter o planeta que queremos”.

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