Jovens ‘viram disseminadores do vírus’, diz infectologista sobre festas lotadas

A população mais jovem pode sentir no corpo efeitos menores da Covid-19, com sintomas mais leves, embora haja casos de óbitos. No entanto, este público pode se transformar num vetor de contaminação pelo novo coronavírus (Divulgação/ SSP-AM)

Com informações do O Globo

RIO DE JANEIRO – No fim de semana em que a média móvel do Rio apresentou aumento de contágio pela Covid-19 pelo sexto dia seguido, as festas lotadas marcaram a programação. Muita aglomeração nas pistas de dança e falta do uso de máscara fez parecer distante a realidade da subida dos dados em 112% no número de casos e de 153% no de mortes. O comportamento, mais comum aos mais jovens, acende um alerta.

A população mais jovem pode sentir no corpo efeitos menores da Covid-19, com sintomas mais leves, embora haja casos de óbitos. No entanto, este público pode se transformar num vetor de contaminação pelo novo coronavírus, alertou o médico e infectologista do Hospital Universitário Pedro Ernesto Marcos Junqueira do Lago, em entrevista ao “Bom Dia Rio”, da TV Globo.

PUBLICIDADE

“Em média, a doença nos jovens é menos grave, é menos sintomática. Não que não possa, inclusive, levar à morte. Mas, na média, é menos. Então, além do impulso da juventude, eles se sentem mais seguros. Daí para frente eles viram uns disseminadores do vírus. Que eles saem dessas festas contaminados, as vezes com poucos sintomas, e contaminam os pais, que por sua vez vão contaminar os avós e por aí em diante”, destacou o médico e infectologista.

Tais comportamentos chamam ainda mais atenção no momento em que o Rio de Janeiro está, por pouco, atrás apenas do Distrito Federal no número de mortes a cada 100 mil habitantes. De acordo com dados deste domingo, dia 22, o Distrito Federal teve média de 126,57, já o Rio, de 126,53, sendo seguido por Mato Grosso (115,96), Roraima (114,07) e Amazonas (113,58).

Lago destacou que a volta do crescimento do número de casos está diretamente ligada a comportamentos como os vistos neste fim de semana. Apesar de não conseguir prever as taxas futuras, o infectologista salienta que, caso não haja uma mudança de postura, o aumento dos registros é esperado:

“Quando você enxerga o número de mortes, você enxerga uma realidade. O número de casos é um pouco mais difícil porque você pode estar subnotificando, enfim, não estar testado. Mas as mortes, não”, afirmou Lago “E o que tá acontecendo agora só vai contribuir para que esse número aumente ainda mais. A gente chegar no fim do ano, talvez, longe já de outros lugares que se organizaram um pouco melhor do que o Rio de Janeiro”.

A taxa de ocupação dos leitos – tanto na rede municipal, no SUS e nas unidades privadas – tem acendido mais um alerta durante esta fase da pandemia. O aumento da procura por internações de pacientes com os sintomas da doença e a desmobilização de parte dos leitos, como o fechamento de hospitais de campanhas, fizeram os números ultrapassarem 95% da taxa de ocupação de leitos na semana passada.

O alto risco de contágio e as particularidades dos sintomas exigem leitos separados e com equipamentos mais complexos. Uma nova mobilização pode ser menos complexa do que no início da pandemia devido ao aprendizado desde março.

“O leito de Covid é um leito complexo, não é só o respirador. Precisa de EPI, precisa de medicamento, ele custa. Então, hoje, nós temos organização e nós temos expertise. A gente sabe tratar bem melhor do que antes. Agora, a gente desmobilizou precocemente, não deveria ter demobilizado tanto, em setembro, agosto, setembro, outubro. Não tinha o menor sentido desmobilizar naquela época. Remobilizar agora é, teoricamente, mais fácil porque a gente sabe o caminho”.

Para Lagos, a atuação dos governos, em todas as esferas, deve passar por campanhas de conscientização, medidas de controle e atenção ao planejamento dos leitos:

“Mas de uma ação, volto a insistir do governo, que apóie essa mobilização e façam uma ação conjunta porque a gente não pode colocar um paciente potencialmente grave, tem que ter antibiótico, tem que ter anestésico, tem que ter roupa de proteção. Sem isso não tem como fazer”.

Enquanto não acontece a chegada da tão aguardada vacina para imunizar contra o coronavírus, Lagos faz um apelo:

“É o último esforço. Provavelmente daqui a três meses, quatros meses a gente vai ter uma vacina sendo aplicada em larga escala. A gente pode poupar vidas nesse período. São muitas vidas que podem ser poupadas. Então vale a pena esse esforço e o governo tem que entrar nessa briga, não pode ficar sozinho”.

PUBLICIDADE

O que você achou deste conteúdo?

Compartilhe:

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.