Justiça quer garantir energia elétrica em Roraima após crise pandêmica afetar abastecimento da Venezuela


05 de julho de 2020
Justiça quer garantir energia elétrica em Roraima após crise pandêmica afetar abastecimento da Venezuela
Outro fato relevante é o agravamento da crise na Venezuela. Com poucos recursos, o país vizinho não tem investido na manutenção das redes elétricas e enfrenta constantes blecautes.

Carolina Givoni – Da Revista Cenarium*

MANAUS – A recente interrupção do fornecimento de energia elétrica em Roraima, único Estado brasileiro conectado regionalmente ao sistema de transmissão do complexo hidrelétrico de Guri, na Venezuela, fez o Tribunal de Contas da União (TCU) realizar uma auditoria operacional para avaliar a adequação das políticas e ações dos agentes do setor.

Por conta da crise político-econômica, além da pandemia de Covid-19 instaurada no País vizinho, a região tem sofrido apagões devido a qualidade da energia importada decair até ser interrompida, em março de 2019. Desde então, acentuou-se a produção local por térmicas a diesel. Esse cenário levou a capital a diversos apagões.

“A segurança energética se traduz em acesso ao suprimento de toda a carga de energia elétrica necessária para o atendimento do Estado, conforme os princípios da segurança do sistema e da modicidade tarifária, pilares do setor elétrico brasileiro”, explicou a ministra Ana Arraes, relatora do processo no TCU.

Boa Vista (RR), que tem 400 mil habitantes, é a única capital brasileira que ainda não está conectada ao Sistema Interligado Nacional (SIN). Além disso, “Roraima é o Estado da Federação com o maior número de sistemas isolados, abastecidos, em sua maioria, por usinas térmicas a diesel, extremamente caras e poluentes”, observou a ministra-relatora.

Outro fato relevante é o agravamento da crise na Venezuela. Com poucos recursos, o país vizinho não tem investido na manutenção das redes elétricas e enfrenta constantes blecautes. Essa situação impacta a segurança energética não apenas pela interrupção. De maneira indireta, o fluxo migratório para Roraima aumenta a demanda de energia no Estado, pois os imigrantes já são uma parcela significativa da população.

A interrupção do suprimento venezuelano também teve impacto direto na Conta Consumo de Combustíveis (CCC), que é um encargo criado em 1973 para subsidiar os combustíveis fósseis utilizados para geração de energia elétrica. Em 1993, essa cobertura passou a restringir-se aos Sistemas Isolados (Sisol).

A partir de 2009, no entanto, a CCC subsidia não só o combustível, mas também parte do custo da geração de energia no Sisol, independentemente da fonte energética. “A CCC é custeada por todos os brasileiros, uma vez que sua receita advém das cotas pagas pelas distribuidoras, permissionárias e transmissoras de todo o País, em valores determinados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). O valor da cota é proporcional ao mercado atendido pela empresa”, esclareceu a ministra-relatora Ana Arraes.

O TCU determinou ao Ministério de Minas e Energia (MME) que, no prazo de 180 dias, apresente plano de ação no sentido de estruturar as ações necessárias a garantir o abastecimento do mercado de energia em Roraima, com segurança, eficiência e sustentabilidade.

O plano de ação do MME deverá contemplar ações para viabilizar a implantação da Linha de Transmissão Manaus-Boa Vista, incluindo medidas administrativas e judiciais para resolução das pendências relacionadas ao licenciamento. O Ministério também terá de tomar medidas com vistas a mitigar os riscos de atraso nos estudos preparatórios para licitação e implantação da Usina Hidroelétrica Bem Querer.

Além disso, o MME deverá, em seu plano de ação, contemplar soluções alternativas estruturais a serem adotadas. Quer seja para interligação de Roraima ao Sistema Interligado Nacional (SIN), quer seja mesmo para alcançar a autossuficiência do sistema de Roraima.

“A autossuficiência do sistema de Roraima, ao longo do tempo, minimizaria os subsídios da CCC ou até tornaria a região não dependente de subsídios. Além disso, a cada mês que se passa, há necessidade de dispêndios de R$ 133 milhões para manter Roraima abastecida, fator que justifica a celeridade das soluções”, alertou a ministra do TCU Ana Arraes.

(*) Com informações do TCU

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