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‘Labclim’: pesquisador da UEA alerta para intensidade da seca no Amazonas neste ano
O professor doutor Francis Wagner (Luiz André Nascimento/Revista Cenarium)
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17 de maio de 2024
Carol Veras – Da Revista Cenarium
MANAUS (AM) – As últimas pesquisas do Laboratório de Modelagem do Sistema Climático Terrestre (Labclim), da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), coordenado pelo professor doutor Francis Wanger, indicam que a seca do Rio Madeira pode se agravar entre os meses de junho e julho deste ano, com risco de atingir apenas 9,50 metros de profundidade.
O Rio Madeira, que faz parte da bacia amazônica e atravessa os Estados de Rondônia e Amazonas, é o protagonista de uma das pesquisas. Com uma extensão total de aproximadamente 3.315 km, ocupa a posição de 17º maior rio do mundo em comprimento.
O terceiro boletim e prognóstico sazonal hidroclimático do Amazonas, produzido pelo Labclim, indica um nível menor do que os apresentados nos anos anteriores. De acordo com a análise, o prognóstico aponta que a vazante do rio nas regiões próximas a Humaitá inicia-se ainda neste mês.
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As pesquisas do laboratório também analisam as previsões de outro importante rio da região, o Rio Negro. Ao que tudo indica, este afluente do Rio Amazonas — e considerado o sétimo maior rio do mundo em volume de água — ainda não atingiu a normalidade desde a seca história de 2023, quando, pela primeira vez em 121 anos, ficou com menos de 13 metros de profundidade. Em 16 de maio, o Rio Negro apresentou a marcação de 25,82 metros.
O coordenador do Labclim explica que as análises indicam que extremos serão mais frequentes no Estado, com secas mais intensas e cheias mais impactantes. “Aquilo que acontecia há cada 40 ou 50 anos, como enchentes, está acontecendo cada vez mais frequentemente e em escala muito mais rápida”, confirma Francis Wagner. A previsão do laboratório apresenta 85% de precisão e cobre os próximos três meses.
De acordo com o pesquisador, essa situação se torna irreversível a curto prazo devido ao aquecimento global. “As ações para retardar esses acontecimentos extremos precisam ser feitas em escala global, não só aqui na região. Precisamos diminuir o consumo de combustíveis fósseis, principalmente”, alerta.
Estiagem
As pesquisas do Labclim não confirmam que a estiagem deste ano possa apresentar resultados piores em comparação com o ano passado, mas demonstram níveis de chuva abaixo do esperado para o padrão analisado pelos “clusters” — conjunto de máquinas interconectadas que funcionam como um único sistema, aumentando a capacidade de processamento de dados — o que indica um período tão intenso quanto ao do ano passado.
O meteorologista explica que esse cenário ocorre pela intensificação do fenômeno El Niño, que se caracteriza pelo enfraquecimento dos ventos alísios e pelo aquecimento anormal das águas superficiais na porção leste do Oceano Pacífico equatorial. As mudanças, que ocorrem a cada três a sete anos, impactam o clima globalmente, alterando a temperatura e a distribuição das chuvas devido a novos padrões de transporte de umidade no Pacífico.
“O El Niño ainda está fraco, mas está configurado. Embora esteja perdendo força no mês de maio, está levando a ter menos chuvas na Bacia Amazônica, e isso faz com que os rios estejam abaixo do nível esperado para este ano”, afirma.
Preparação para a estiagem
O governador do Amazonas, Wilson Lima (União Brasil), antecipou os possíveis impactos que possam ser causados pela estiagem neste ano. Em coletiva de imprensa realizada neste mês, o mandatário anunciou a emissão de licenças ambientais junto ao Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) para a dragagem em quatro trechos de rios do Amazonas.
Com a regularização, o processo deve ser iniciado antes do período crítico. “Estive junto ao governo federal expondo a preocupação que nós temos com relação à estiagem deste ano, que deve ser muito severa”, disse o governador.
“Nunca foi necessário, em 121 anos, fazer dragagem. Este ano nós nos antecipamos, porque tudo leva à convicção de que teremos uma outra estiagem tão forte quanto ao ano passado. A fase que está agora é que o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes [Dnit] pediu a licença do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas [Ipaam] para poder fazer o serviço”, afirmou o secretário de Estado de desenvolvimento econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação, Serafim Corrêa, em declaração à REVISTACENARIUM.
De acordo com o governador, comunidades do interior e da capital poderão ter dificuldade de acesso a mantimentos e água potável devido ao recuo dos rios. Outro agravante é o comprometimento da atividade econômica no Estado, por conta da maioria das mercadorias ser transportada por meio fluvial. As secas também podem aumentar o número de ocorrências de queimadas e, como consequência, piorar a qualidade do ar.
“Como prevenção, estão sendo reservadas 100 mil cestas básicas e 83 mil litros de água potável para distribuição por todo o Estado“, afirma. Para evitar o desabastecimento, Wilson Lima ainda recomendou às empresas que fornecem serviços essenciais, como fornecimento de água e energia, que possam estocar combustíveis e insumos necessários.
O “Relatório sobre o Estado Global do Clima“, elaborado pela Organização Meteorológica Mundial (WMO, na sigla em inglês), divulgado em março, revela que o planeta quebrou todos os recordes de indicadores climáticos em termos de níveis de gases de efeito de estufa (GEE), temperaturas da superfície, calor e acidificação dos oceanos, aumento do nível do mar, cobertura de gelo marinho na Antártida e recuo dos glaciares.
O relatório confirma, por exemplo, que 2023 foi o ano mais quente já registrado em 174 anos de medições. A temperatura média global da superfície ficou 1,45 °C acima da linha de base pré-industrial, com a condição do El Niño contribuindo para o aumento da temperatura em 2023.
Laboratório
O Labclim faz o monitoramento climático no Amazonas, a partir de previsões a respeito do clima, aquecimento global, enchentes e de estiagens na Região Norte. O laboratório é considerado um marco no desenvolvimento de pesquisas científicas nas áreas de ambiente, hidrologia, clima, variabilidade e mudanças climáticas, conduzidas por alunos de graduação, pós-graduação, mestrado e doutorado.
A estrutura, localizada no prédio da Escola Superior de Tecnologia (EST) da UEA, na Avenida Darcy Vargas, Zona Centro-Sul da capital, foi adquirido em 2016, com recursos da Agência Nacional de Águas (ANA), por meio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
A iniciativa atua em parceria com o Governo do Amazonas, para quem fornece boletins hidroclimáticos periódicos. O projeto também conta com financiamento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, e da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).
A estrutura do Labclim é composta por três “Clusters”, utilizados em tarefas que exigem alto poder computacional, como simulações científicas, renderização de gráficos e análise de grandes volumes de dados.
O cluster Tambaqui é o maior deles, sendo utilizado para análises de dados mais pesadas, principalmente por alunos de doutorado. É destinado a desenvolvimento e integração de modelos matemáticos que representam os componentes do sistema climático terrestre e os processos físicos, químicos e biológicos que determinam o clima e suas variações.
O cluster Aruanã representa um sistema menor, voltado para o processamento de inteligências artificias e “Machine Learning“. O termo é um ramo da inteligência artificial que permite aos computadores aprenderem e melhorarem suas tarefas a partir de dados, sem serem explicitamente programados para isso. A máquina algoritmos que processam dados de treinamento para criar modelos que fazem previsões ou tomam decisões.
O cluster Jaraqui é o menor dos três, servindo para tarefas mais básicas de programação e desenvolvimento. A sala dos computadores é sustentada por “Nobreaks” e geradores, que não permitem que o sistema seja desligado caso haja falta de fornecimento de energia.
Editado por Marcela Leiros Revisado por Gustavo Gilona
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