Lei confere a Boa Vista título de Capital Nacional da Paçoca de Carne e Farinha


Por: Ana Cláudia Leocádio

29 de agosto de 2025
Lei confere a Boa Vista título de Capital Nacional da Paçoca de Carne e Farinha
Comida típica feita de carne e farinha ganha nome de paçoca (Katarine Almeida/Prefeitura de Boa Vista)

BRASÍLIA (DF) – A capital de Roraima, Boa Vista, é oficialmente a “Capital Nacional da Paçoca de Carne com Farinha”, segundo estabelece a Lei 15.195, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), publicada no Diário Oficial da União (DOU), desta sexta-feira, 29. O título é fruto do Projeto de Lei (PL) do deputado Defensor Stélio Dener (Republicanos-RR), que coloca a iguaria como uma herança indígena, feita da mistura de farinha de mandioca e carne seca amassadas em um pilão e que já entrou para o Livro dos Recordes, como a maior paçoca do mundo.

Apresentado em 2023 na Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei 5221/21 traz em sua justificativa as razões para escolher Boa Vista como a capital da paçoca de carne, uma iguaria tradicional também da cultura do Nordeste, que sustentou a ocupação territorial do Brasil como presença nutritiva nos farnéis (saco ou recipiente com comida para viagem) dos tropeiros que cruzaram o País, e que ficou como legado de Norte a Sul.

O autor da proposta lembra que, para a região Centro-Sul do Brasil, o nome paçoca remete ao doce feito de amendoim e açúcar, mas a pioneira é a versão salgada, que nasceu da necessidade de se prolongar a conservação dos alimentos, em uma época quando não existia os aparelhos de refrigeração. O parlamentar argumenta que, na região Norte, as comunidades indígenas também usaram a técnica da desidratação para a conservação de carnes de caça e peixes e explica a origem do termo.

Praça em Boa Vista/RR (Reprodução/Prefeitura de Boa Vista)

“A origem do nome paçoca vem do tupi-guarani ‘passoc’. Segundo o maior pesquisador da alimentação brasileira, Luís da Câmara Cascudo, ele descreveu o nome como: amassar, esmigalhar com as mãos, esfarelar, pilar”, escreveu em seu projeto.

Durante discussão da matéria na Comissão de Agricultura (CRA) do Senado, em julho deste ano, Dener declarou que teve motivações históricas e de família para apresentar a proposta de lei. “A história da minha família se confunde também com a história de Roraima, já que está naquele Estado desde 1820, há mais de dois séculos. A história dos meus antepassados mostra que, realmente, a paçoca de carne com farinha é feita desde aquele tempo, em razão da escassez de alimentos”, disse, em entrevista à Agência Senado.

Segundo o projeto do deputado Dener, a paçoca de carne de sol foi declarada Patrimônio Cultural e Imaterial de Boa Vista, pela Lei Municipal 2.349, em 2022. Essa valorização cultural, que simboliza a culinária de Roraima e Boa Vista, argumentou o deputado, também tornou a paçoca a marca principal da maior festa junina da Região Norte, o “Boa Vista Junino”, que passou a servir a iguaria, desde 2015, a todos os participantes que frequentam o evento.

A iguaria entrou para o “Guinness Book”, o Livro dos Recordes, em 2015, com o selo de “maior paçoca do mundo”, com 1.023 kg, servida para 30 mil pessoas. Em 2023, foram servidos mais de 1.130 kg.

Diferença para as demais paçocas

O colega de bancada de Dener, e que foi relator a matéria na CRA do Senado, senador Chico Rodrigues (PSB-RR), também detalhou à Agência Senado a diferença da paçoca produzida em Boa Vista. Segundo ele, há algumas distinções entre a variedade macuxi e as demais do Brasil, muito tradicional também nas populações do Nordeste. A principal delas seria o tipo de carne usada, seja a de sol ou a seca, produzidas no Estado, que se distinguem pelo sabor e textura, por causa das condições de produção e ao gado criado na região.

Outra diferenciação, na opinião de Rodrigues, está na farinha de mandioca utilizada na preparação da iguaria de Roraima, que é produzida pelos agricultores locais. Isso sem falar na adição de pimenta murupi, com seu toque picante e aromatizado, já conhecido pelos nortistas. Além de poder ser servida como acompanhamento do prato principal, a paçoca também é consumida como lanche e item do café da manhã.

Leia mais: Boa Vista é 3ª capital que mais perdeu vegetação urbana em duas décadas
Editado por Adrisa De Góes

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