Letalidade policial contra negros é tema de livro que aborda violência contra população


12 de agosto de 2023
Polícia Militar realiza abordagens em bairros da Zona Norte de São Paulo durante Operação Saturação, lançada após uma onda de violência atingir a cidade (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Polícia Militar realiza abordagens em bairros da Zona Norte de São Paulo durante Operação Saturação, lançada após uma onda de violência atingir a cidade (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Da Revista Cenarium Amazônia*

SÃO PAULO (SP) – Pesquisar sobre como a polícia e a Justiça perseguem pessoas negras e reproduzem o racismo que outras instituições já estimulam não é novidade. Debater o assunto entre negros que são vítimas dessas práticas também não, assim como colocá-las na posição de objeto de estudo.

O que pode destoar do mais é escolher ouvi-las enquanto sujeitos que podem apresentar propostas e enriquecer as discussões sobre o sistema que os violenta e encarcera. E é nesses termos que a Rede Liberdade lançou na sexta-feira, 11, o livro Letalidade policial e seletividade penal: reflexões produzidas por corpos matáveis.

A pesquisadora e advogada Carmen Felippe, uma das coautoras da obra, ressalta que, para se questionar as arbitrariedades cometidas contra negros, no País, é preciso se mobilizar de fato e assumir uma outra postura. Ela comenta, ainda, que “pesquisar sobre letalidade policial é você estar escrevendo, enquanto tem gente morrendo agora”.

“Sentar na cadeira acolchoada para escrever nota de repúdio não é mais possível”, acrescenta a advogada, que já conta quatro casos de vítimas na família e que acredita que “não importa a roupa que se esteja usando, porque o território é você”, quando se trata de alguém negro.

Protesto no Rio de Janeiro denuncia violência policial contra jovens negros (luizsouzarj/iStockPhotos)

Para Carmen, dentro do jogo que a sociedade obriga a população negra a jogar, é possível interferir com mais efetividade, “como o movimento negro nos ensina”. Aspectos fundamentais, observa a pesquisadora, são se aliar ao Ministério Público e compreender que o inquérito policial é uma relação sócio-racial.

“Não é uma esperança vazia, utópica”, afirma. “A gente está em rede e não é ingênua. A gente entende que estruturas são fortes, e uma maneira de você perceber uma estrutura é você visitá-la, é você torná-la bem visível.”

Pela experiência da advogada, o descuido e o desleixo com as provas, as evidências e o andamento das investigações são propositais para que se garanta a impunidade da polícia.

“As microdecisões da fase processual, começando pela abordagem, passam também pelas investigações, para não se cuidar da cena do crime, da prova e dizer que essa prova não vai entrar no processo. Quando entra no processo, não entra na racionalidade de quem vai julgar, e o que acontece são espelhamentos de falta de atendimento até a possível absolvição da polícia, que mata”, argumenta Carmen.

A diretora-executiva da Rede Liberdade, Amarilis Costa, destaca que é preciso se repensar o comportamento do Poder Judiciário, na mesma medida em que se cobra mudança dos agentes de segurança pública. “No processo penal, geralmente a vítima é a pessoa a ser protegida pela lei. Nos casos de letalidade policial, não. Existe um corporativismo, um lugar muito específico do agente público que investiga a atuação letal, equivocada de outro agente público”, ressalta.

Leia também: Governo Bolsonaro omite informações sobre violações a negros e não cita racismo estrutural em relatório enviado à ONU
(*) Com informações da Agência Brasil

O que você achou deste conteúdo?

VOLTAR PARA O TOPO