Líder da bancada feminina no Senado rechaça nova convocação de Marina


Por: Ana Cláudia Leocádio

28 de maio de 2025
Líder da bancada feminina no Senado rechaça nova convocação de Marina
A líder da Bancada Feminina no Senado, senadora Leila Barros (Reprodução/PDT)

BRASÍLAI (DF) – A líder da Bancada Feminina no Senado, senadora Leila Barros (PDT-DF), rechaçou a possibilidade de convocação da ministra do Meio Ambiente e da Mudança do Clima, Marina Silva, para comparecer outra vez à Comissão de Infraestrutura da Casa (CI), depois de ter abandonado a audiência pública, na última terça-feira, 27, após ataques do senador Plínio Valério (PSDB-AM).

A convocação foi anunciada pelo presidente da CI, senador Marcos Rogério (PL-RO), ao finalizar a sessão que acabou em confusão, com a ministra abandonando a sessão, depois de Valério dizer que a respeitava como mulher e não como ministra. Marina disse que até permaneceria se o tucano a pedisse desculpas, mas ele se negou e ela foi embora.

Na ocasião, Marina estava como convidada para levar informações sobre a criação de unidades de conservação marinha, na costa do Estado do Amapá, na chamada Margem Equatorial. Ela garantiu que as unidades de conservação não serão empecilho ao licenciamento para a prospecção que a Petrobras pretende fazer na região. A audiência tomou outro rumo, sobretudo por causa dos questionamentos e acusações dos senadores do Amazonas, sobre a BR-319 (Manaus-Porto Velho). Eles sempre culpam a ministra pelo não asfaltamento da rodovia, o que ela nega de forma veemente.

Marina Silva e Marcos Rogério (Reprodução/Senado Federal)

A declaração de Leila Barros ocorreu à noite, durante a sessão plenária, depois que ouviu os senadores abordarem o episódio que havia ocorrido pela manhã e culminou na saída da ministra da sala. “Eu ouvi atentamente todas as manifestações dos senadores que estiveram hoje na Comissão. Óbvio que o tom apresentado pelos colegas era um tom mais tranquilo, a testosterona certamente abaixou. Então, para quem esteve na Comissão de Infraestrutura, hoje, e para quem assistiu hoje à sessão, foi um dos dias mais tristes nesta Casa em termos de comportamento”, afirmou.

Barros disse não entender quantos anos mais terão que ouvir no plenário sobre o comportamento dos colegas. “Gente, não é o objeto da audiência, não é como se questiona a pessoa, a autoridade que foi convidada, porque convocação não vai ter, não. Nós vamos fazer um ‘auê’ aqui dentro, e não vai ter convocação. Teve gente que fez papel pior aqui e ninguém pediu convocação. Não vai ter convocação da Marina porque nós vamos fazer uma mobilização nacional, se tiver uma convocação aqui, para qualquer mulher que foi tratada como ela foi tratada hoje. Não vai ter, não vai ter, porque nós não vamos deixar”, assegurou a líder.

A parlamentar também disse que os senadores precisam dar o exemplo. “Não é pauta ideológica, é comportamento social. Nós todos fomos aqui eleitos por uma sociedade que espera, no mínimo, um exemplo civilizado e educado com as mulheres, e não foi, definitivamente, não foi o que aconteceu hoje de manhã”, reiterou a senadora.

Barros foi apoiada pela senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), que além de se solidarizar com Marina Silva, defendeu a ampliação da participação feminina na política. A senadora disse não ver o episódio como “um assunto de mulherzinha”, mas um assunto de seres humanos e, acima de tudo, de educação.

“É necessário o equilíbrio entre todos nós e, acima de tudo, a representatividade das mulheres aqui, que são a maioria da população e são arrimo de família da maioria das famílias brasileiras. Portanto, nós somos a maioria, e, economicamente também”, afirmou, acrescentando que estava envergonhada das cenas que viu. “Então, mais uma vez, a minha solidariedade. Sinto aqui – perdão – vergonha alheia, mas também sou membro desta Casa, e é um dia para ficar na história, porque apagar a gente não pode e nem deve”, concluiu.

Procuradoria da Mulher repudia falas

A senadora Zenaide Mota (PSD-RN), procuradora especial da Mulher no Senado, emitiu nota, ainda na noite de terça-feira, na qual repudiou as falas dos senadores Plínio Valério e Marcos Rogério à Marina Silva. Além de classificá-las como ofensivas, Maia também disse que os dois devem “desculpas contundentes” à ministra e a todas as mulheres brasileiras.

“Não vamos aceitar machismo, misoginia e qualquer outra forma de atacar a uma de nós, e reforço que os meios legais de defesa das vítimas devem ser acionados e operar com agilidade. O mínimo decoro parlamentar seria suficiente para exercer poder pedagógico preventivo a estes comportamentos que agridem a honra, a vida e a trajetória de uma mulher”, afirma a senadora em nota, segundo informações da Agência Senado.

Além de Plínio, que disse não respeitar Marina como ministra e sim como mulher, Marcos Rogério, que presidia a audiência, chegou a dizer à ministra que “se colocasse no seu lugar”. Tanto o senador de Rondônia quanto Plínio Valério também apresentaram seus pontos de vista, no plenário.

Para Rogério, não importa o que aconteceu porque vai prevalecer a narrativa supostamente criada por Marina. Plínio, por sua vez, disse não saber o que havia ocorrido para ela se retirar e disse que gostaria de tê-la perguntado se a ministra mantém a declaração feita na CPI das ONGs, de que não permitiria a construção de uma estrada para passear de carro. “(…) infelizmente, quando chegou a minha vez, ela já estava muito nervosa e acabou se retirando”, declarou.

Após o episódio, a ministra declarou que se sentiu agredida e vítima de violência política de gênero e estuda providências jurídicas contra Valério. Em março deste ano, durante evento em Manaus, ele afirmou ter o desejo de enforcá-la. Por causa disso, ele foi denunciado ao Conselho de Ética do Senado, que até hoje não deliberou sobre a representação porque os mandatos de seus membros expiraram.

Leia mais: Ataques a Marina Silva no Senado exibem rosto do machismo político
Editado por Adrisa De Góes

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