Líder do prefeito na CMM diz que radar meteorológico de R$ 40 milhões nunca existiu


Por: Ana Pastana

06 de outubro de 2025
Líder do prefeito na CMM diz que radar meteorológico de R$ 40 milhões nunca existiu
O líder da base governista na Câmara Municipal de Manaus, vereador Eduardo Alfaia, e o prefeito de Manaus, David Almeida (Fotos: Reprodução/Câmara Municipal de Manaus e Prefeitura de Manaus | Composição: Paulo Dutra/Cenarium)

MANAUS (AM) – O líder do prefeito na Câmara Municipal de Manaus (CMM), vereador Eduardo Alfaia (Avante), afirmou, nesta segunda-feira, 6, que o radar meteorológico de R$ 40 milhões, anunciado pelo prefeito David Almeida (Avante) em março deste ano como medida para minimizar os impactos das chuvas na capital, “nunca existiu”. A declaração ocorreu após a população manauara questionar, nas redes sociais, a ausência de alertas da Defesa Civil municipal durante a forte chuva que atingiu Manaus nesse domingo, 5.

Em 20 de março deste ano, Almeida anunciou que negociava com uma empresa mexicana — cujo nome não foi divulgado — a implantação de um radar meteorológico, estimado entre R$ 40 milhões e R$ 50 milhões. A declaração foi feita 24 horas após um temporal provocar, no dia 19 daquele mês, alagamentos e deslizamentos em Manaus, entre eles o que causou a morte da líder comunitária Sammya Costa Maciel, de 48 anos, na comunidade Fazendinha, Zona Norte da capital.

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Segundo Alfaia, a Prefeitura de Manaus não realizou a compra de equipamento desse tipo nem manteve negociação com empresa estrangeira para o fornecimento do equipamento. “Não houve, não há e a Prefeitura nunca fez a aquisição de nenhum radar meteorológico no valor de R$ 40 milhões. Na época, houve apenas uma recomendação de um pesquisador, de um meteorologista local. Depois, a prefeitura, por meio de várias entidades, descobriu que o Censipam, órgão do governo Federal, já possui esse radar aqui e, inclusive, hoje compartilha essas informações com o município”, declarou.

Veja declaração do líder do prefeito na CMM:

O líder do prefeito na CMM, Eduardo Alfaia, afirma que a Prefeitura de Manaus “nunca fez a aquisição de nenhum radar meteorológico no valor de R$ 40 milhões” (Reprodução/Youtube/CMM)

Após ser questionada pela reportagem, nesta segunda-feira, a Prefeitura de Manaus confirmou que “a atual gestão municipal não realizou a compra de nenhum radar meteorológico pelo valor de R$ 40 milhões” e ressaltou que as “informações que estão sendo difundidas por alguns veículos de comunicação não condizem com a verdade”, sem citar que a compra do radar foi anunciada pelo prefeito no primeiro trimestre do ano.

Ainda conforme a gestão de David Almeida, o município dispõe de cinco estações meteorológicas em operação, responsáveis por analisar até 13 variáveis climatológicas. As informações coletadas formam um banco de dados que deve auxiliar a administração municipal na adoção de medidas de médio prazo voltadas à prevenção e ao enfrentamento de eventos climáticos.

Prefeitura usa dados federais

O Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), citado pelo líder do prefeito na CMM, Eduardo Alfaia, monitora, com o apoio de uma infraestrutura tecnológica avançada, a região amazônica por meio de sensoriamento remoto, radares, estações meteorológicas e plataformas de coleta de dados, com informações geradas em tempo próximo ao real.

O pronunciamento do vereador se opõe à fala do chefe do Executivo municipal quando, em março deste ano, por meio de coletiva de imprensa no Centro de Cooperação da Cidade Pereira Filho (CCC), na Zona Centro-Oeste da cidade, anunciou a aquisição de um radar meteorológico de última geração, por meio de uma empresa mexicana, que não teve o nome divulgado.

O prefeito de Manaus chegou a declarar que a aquisição do equipamento seria “um pouco mais caro que um viaduto” mas, que seria necessário para a cidade. “Somos a cidade do Brasil onde temos as maiores áreas de risco. Um radar da ‘Banda X’, ele custa de R$ 18 a R$ 20 milhões. O da ‘Banda S’, que é o mais moderno, mais moderno que o ‘X’, o ‘X’ é R$ 20 milhões, o ‘S’, a nossa estimativa é entre R$ 40 a R$ 50 milhões. Então é um investimento que nos vamos fazer“, afirmou David Almeida.

Em março deste ano, David Almeida anunciou compra de radar meteorológico:

Anúncio foi feito após morte de mulher em deslizamento de terra na Zona Norte de Manaus (Reprodução/Redes Sociais/Juca Queiroz)

No portal da Prefeitura de Manaus, a aquisição do radar milionário foi divulgada como “o novo sistema meteorológico” que “representa um investimento sem precedentes na prevenção de desastres naturais”. “Manaus está dando um salto tecnológico na previsão do tempo. Esses radares vão nos permitir agir com mais precisão e rapidez para evitar tragédias. É um investimento maior que um viaduto, mas salvar vidas é o mais importante”, afirmou o prefeito de Manaus na ocasião.

Prefeitura anunciou compra de radar (Reprodução/Prefeitura de Manaus)
Alerta sonoro

No mês passado, celulares de milhares de pessoas dispararam simultaneamente com um aviso da Defesa Civil, acompanhado de forte vibração e uma mensagem em letras maiúsculas que dizia: “DEMONSTRAÇÃO do novo sistema de alerta de emergência no Amazonas”. A ação fez parte de um teste realizado pelos órgãos competentes, direcionados pelo governo federal, para simular um alerta de desastre natural na capital.

Com a chuva desse domingo, que causou alagamentos, transbordamentos de bueiros e igarapés, queda de árvores e desabamentos em diferentes regiões da cidade, usuários das redes sociais cobraram a notificação para famílias que vivem em áreas de risco. Por meio de nota, a Secretaria Executiva de Proteção e Defesa Civil (Sepdec), afirmou “que o alerta sonoro de emergência não foi acionado durante a forte chuva porque o sistema ainda está em fase de entrega e implantação gradual no município [Manaus]“.

Usuário questiona alerta sonoro da Defesa Civil após forte chuva em Manaus (Reprodução/Redes Sociais)

A pasta esclarece que “o sistema de alerta sonoro será utilizado exclusivamente em situações críticas, quando houver risco imediato à vida e necessidade de evacuação urgente de áreas vulneráveis. Em casos de chuvas intensas ou alagações pontuais, a comunicação ocorre por mensagens de SMS, além de redes sociais oficiais e grupos comunitários de WhatsApp“.

A Defesa Civil municipal registou, no bairro Zumbi, na Zona Leste de Manaus, o desabamento de uma casa. No bairro Eldorado, uma árvore desabou. Também foram registrados transbordamentos próximos à Magalhães Barata, entre os bairros São Lázaro e Crespo.

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Em setembro, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) afirmou que o sistema de envio de alertas por celular seria disponibilizado na Região Norte a partir de 24 de setembro. O órgão divulgou que, no Amazonas, as cidades de Manaus, Manacapuru, Novo Airão e Iranduba seriam os municípios do Estado que receberiam os alertas. A reportagem entrou em contato com a instituição federal para uma atualização do prazo.

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Áreas de risco

De acordo com um levantamento feito pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB), divulgado no dia 27 de agosto deste ano, aproximadamente 112 mil pessoas vivem em mais de 430 setores classificados como de risco alto e muito alto. Os números é o equivalente a 28 mil domicílios da capital amazonense.

Em comparação ao último mapeamento feito pelo SGB, em 2019, o avanço das áreas de risco cresceu 53,4%. Em 2019, os números registraram que cerca de 73 mil pessoas estavam expostas em situações como inundaçõesalagamentosenxurradaserosões e deslizamentos. Em 2025, esse número subiu para 112 mil, o que representa um aumento de 40 mil pessoas em seis anos.

Os dados apontam que todas as Zonas de Manaus possuem setores de risco, mas as Zonas Leste e Norte da capital manauara concentram o maior número de área com risco alto e muito alto. Entre eles estão os bairros: Jorge Teixeira, Cidade Nova, Gilberto Mestrinho, Alvorada, Mauazinho e Nova Cidade.

Referente a domicílios particulares em risco alto, o bairro Jorge Teixeira apresenta 3.451; Gilberto Mestrinho com 1.892; Cidade Nova com 1.659; Alvorada 1.603; Mauazinho com 1.224; e Nova Cidade com 1.046.

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