Líder indígena do Javari, Beto Marubo relata a ministro Barroso medo e ameaças após morte de Dom e Bruno

Beto e Bruno eram amigos. Líder indígena relata sofrer ameaças (Reprodução)
Com informações da assessoria

BRASÍLIA – O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), recebeu nesta terça-feira, 21, o líder indígena Beto Marubo, integrante da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), acompanhado da subprocuradora-geral da República Eliana Torelly, responsável pela Câmara do Ministério Público Federal (MPF) que cuida de temas indígenas.

Beto Marubo, amigo do indigenista Bruno Pereira – assassinado na região juntamente com o jornalista britânico Dom Phillips –, relatou ao ministro ameaças, medo, apreensão e sensação de abandono na região do Vale do Javari. Beto afirmou, ainda, que ele foi pessoalmente ameaçado, juntamente com o irmão Eliesio Marubo, o indigenista Orlando Possuelo e Francisco Cristóvão, da equipe técnica de indigenistas.

Beto afirmou ao ministro que deixou o Vale do Javari por recomendação das autoridades de segurança locais que apontaram riscos à vida dele. Afirmou que alguém, anonimamente, deixou um bilhete no escritório da área jurídica da Univaja, na cidade de Tabatinga (AM).

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“Faço um apelo: nós perdemos um grande brasileiro [em relação a Bruno]. Precisamos de intervenção, agora, no Vale do Javari”, afirmou Beto Marubo ao ministro Barroso.

Beto relatou sofrer ameaças ao ministro Barroso (Divulgação)

O ministro mostrou interesse em conhecer a realidade local para eventuais providências na ADPF 709 da qual é relator. “Estamos perdendo a soberania da Amazônia para o crime organizado”, lamentou Barroso durante a conversa.

Beto Marubo relatou ao ministro três pontos:

– O abandono da região pelo Estado, com desmonte da Funai (órgão que deveria evitar o desmonte), constantes alegações das Forças Armadas de falta de recursos para operações necessárias e dificuldade da Polícia Federal em articular ações sem apoio das Forças Armadas;
– As consequências da atuação das quadrilhas internacionais envolvendo brasileiros, peruanos e colombianos que exploram pesca ilegal (pirarucu e peixe liso, bem como de peixes ornamentais) e caça ilegal;
– Que Bruno foi morto por ter feito o mapeamento dessas atividades ilegais e da logística adotada pelos integrantes das quadrilhas e entregou ao MPF, além de ter dado ciência à Polícia Federal em Tabatinga.

Beto Marubo disse que, ao longo dos últimos anos, Bruno Pereira treinou os indígenas a usarem recursos e tecnologias atuais para poderem qualificar as informações, de forma técnica, sobre o aumento das invasões do território indígena Vale do Javari, constatando a atuação de quadrilhas organizadas em atividades ilícitas na região.

Ainda conforme Beto Marubo, há uma outra morte que pode estar associada ao crime envolvendo Bruno e Dom, a de Maxciel Pereira dos Santos em 2019. Ele chefiou, por cinco anos, o Serviço de Gestão Ambiental e Territorial da Coordenação Regional do Vale do Javari, e morreu com dois tiros na cabeça em Tabatinga.

Para o líder indígena, não é possível determinar quem são os mandantes das mortes de Bruno e Dom – e, eventualmente, de Maxciel –, mas para ele é claro que o contexto está nessas quadrilhas internacionais que envolvem pesca e caça ilegais. Beto Marubo pediu: “É preciso que se investigue essas quadrilhas, essa rede de criminosos e que protejam nossa terra”.

Segundo Beto Marubo, Bruno Pereira, mais de uma vez, comentou que a ADPF 709 havia trazido alento e visibilidade à causa, apesar da resistência da União em cumprir todas as determinações.

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