Liderança indígena diz que governador do Pará ‘é um farsa’ e critica COP30
Por: Fabyo Cruz
31 de maio de 2025
BELÉM (PA) – A liderança indígena Auricélia Arapium fez um discurso contundente contra o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), e a condução do governo brasileiro frente à crise climática. A declaração ocorreu durante um ato político da Cúpula dos Povos rumo à COP30, realizada nessa sexta-feira, 30, no campus da Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém.
Presidente do Conselho Deliberativo da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Arapium afirmou que a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), prevista para acontecer em novembro deste ano na capital paraense, não representa os povos originários.
“A COP30 é tão farsa quanto o governador desse Estado, que é uma farsa. E é uma farsa que ataca direitos dos povos indígenas, da natureza, todos os dias”, declarou Auricélia diante de uma plateia formada por representantes de movimentos sociais, organizações indígenas e ambientalistas. A fala foi uma das mais aplaudidas do evento, que marca a mobilização da sociedade civil diante da ausência de escuta e participação real nos processos oficiais da Conferência do Clima da ONU.

A liderança disse que a Cúpula dos Povos – uma das principais atividades paralelas preparatórias à COP30 – representa o espaço legítimo de construção de soluções para a crise ambiental. “Nós temos a solução. Se eles tivessem a solução, nós não estaríamos à beira do fim do mundo como estamos”, afirmou.
Auricélia também mencionou a ocupação da Secretaria de Educação do Pará (Seduc), em janeiro deste ano, como o verdadeiro início da luta por uma COP justa e popular. A liderança reforçou que os povos indígenas não se sentem representados nos espaços oficiais de negociação, onde seus direitos continuam sendo violados.
“Direito a gente não negocia. Direito se garante. E nós não acreditamos na ilusão de participação que o governo está vendendo para os nossos parentes. A verdadeira COP é a nossa [Cúpula dos Povos]”, disse.
A liderança alertou ainda para o risco de frustração entre os povos indígenas que acreditam que terão voz na conferência: “Meu medo é a frustração que o nosso povo vai sentir. Nós já estamos sentindo. E não vamos deixar que o Helder Barbalho use mais uma vez a COP para se autopromover com a politicagem que ele faz”.

Entre os principais pontos de crítica estão o apoio do governo paraense á a projetos de infraestrutura considerados, por Auricélia, como ameaças aos territórios indígenas, como a Ferrogrão, a hidrelétrica Belo Sun, e o projeto de derrocamento do Pedral do Lourenço, no rio Tocantins.
“Nós estaremos aqui para dar uma resposta a ele [Helder Barbalho]. Estaremos aqui para resistir, para que o Tapajós não seja escavado, para que o Rio Tocantins continue livre, para que não tenha Belo Sun”, disse Auricélia, encerrando sua fala com o grito de “Demarcação já!”.
Cúpula dos Povos
A Cúpula dos Povos seguirá com atividades ao longo do fim de semana, reunindo movimentos populares, lideranças indígenas, quilombolas, ribeirinhas e especialistas em justiça climática, como contraponto às agendas institucionais da COP30.
Ao final do ato, foi anunciada uma articulação para o envio formal das propostas da Cúpula dos Povos ao Congresso Nacional no próximo dia 10 de junho. No domingo, 1º de junho, a Cúpula dos Povos realizará um ato, na Praça da República, em Belém, contra o “PL do Desmatamento”.
A CENARIUM solicitou posicionamento do governador Barbalho, citado na declaração da liderança indígena, mas até a publicação deste material não houve retorno.
