Líderes indígenas de nove países declaram ’emergência climática’ na Amazônia

Entidades chamam a atenção para uma crescente devastação dos ecossistemas (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – As lideranças indígenas de Organizações Não Governamentais (ONGs) de nove países da América do Sul declararam situação de “emergência climática” na Amazônia. Em carta aberta divulgada na última semana, as entidades alertam para crescente devastação dos ecossistemas na região, acelerado pela poluição, além do desmatamento e os incêndios.

O documento é assinado pela Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (Coica), a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab); Organização Regional dos Povos Indígenas da Amazônia (Venezuela), bem como a Organização Nacional dos Povos Indígenas da Amazônia Colombiana, que juntas representam mais de 511 povos indígenas.

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Na carta, as entidades requerem uma mobilização permanente em defesa da floresta e a implementação de um “Fundo de Emergência Climática para a Amazônia”, com o objetivo de destinar verbas diretamente para iniciativas de energias renováveis, economia indígena, educação intercultural, desenvolvimento da medicina tradicional, restauração, soberania e segurança alimentar.

Sobrevivência

Para a Coica, o incessante avanço da Covid-19 e de outras doenças têm mostrado políticas excludentes que causam a morte de milhares de indígenas. E que a medida visa combater a omissão da restauração dos ecossistemas e do crescimento dos setores extrativista, agroindustrial e energético, que ameaçam a sobrevivência dos povos tradicionais.

A Coiab afirma que apelou aos governos e organismos internacionais que, de acordo com as competências, enfrentem a emergência. “Apesar das medidas de confinamento devido ao novo Coronavírus, as concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera estão alarmantes, as temperaturas sobem e a água e os ecossistemas estão cada vez mais ameaçados”, disse.

Entre outras exigências direcionadas aos governantes, estão a ação urgente diante da crise climática por parte das lideranças mundiais; o reconhecimento dos direitos fundamentais dos povos indígenas e a demarcação de 100% dos territórios indígenas, como medida efetiva de conservação

Acordo de Paris

De acordo com a Coiab, os fatos apontados evidenciam que o Acordo de Paris, mesmo após cinco anos, não atingiu seu objetivo e que é necessário mudar o atual modelo de desenvolvimento do planeta que, segundo a coordenação brasileira, está devastando a Amazônia.

O Acordo de Paris é um tratado criado em 2015 para que os países consigam manter o aquecimento global abaixo de 2ºC, buscando limitá-lo a 1,5ºC. O compromisso internacional discutido entre 195 países tem como seu maior objetivo reduzir as emissões de gases de efeito estufa, como o dióxido de carbono.

Recorde de Desmatamento

Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que mesmo com a pandemia do novo Coronavírus, que já infectou mais de 7 milhões pessoas e matou 192 mil, o ano de 2020 foi marcado por recordes de desmatamento na Amazônia, além das queimadas históricas no Pantanal.

Somente de de janeiro a novembro deste ano, foram destruídos pelas chamas 116.845 km² do território da Amazônia e do Pantanal, área equivalente a quase três Estados do Rio de Janeiro. Ainda de acordo com o Inpe, a Amazônia perdeu, em um ano, 11.080 km² em área desmatada – maior índice da década.

Confira a carta na íntegra:

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