Líderes políticos podem reverter ameaça em regulamentação da Reforma Tributária à ZFM


15 de julho de 2024
O ex-presidente Jair Bolsonaro, o presidente Lula e o presidente do União Brasil, Antonio de Rueda (Composição de Weslley Santos/CENARIUM)
O ex-presidente Jair Bolsonaro, o presidente Lula e o presidente do União Brasil, Antonio de Rueda (Composição de Weslley Santos/CENARIUM)

Carol Veras – Da Cenarium

MANAUS (AM) – O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente nacional do União Brasil, Antonio de Rueda, representantes da direita, esquerda e centro, respectivamente, são lideranças políticas que podem reverter as ameaças da regulamentação da Reforma Tributária à Zona Franca de Manaus (ZFM). É o que afirmam especialistas consultados pela CENARIUM nesta segunda-feira, 15.

Juntos, Lula, Bolsonaro e Rueda somam o apoio de mais de 300 deputados federais e senadores no Congresso Nacional, exercendo forte influência em decisões tanto na Câmara quanto no Senado. O União Brasil é o partido com mais deputados com mandato na atual gestão do governo federal, com um total de 58.

As discussões a respeito do direcionamento da Reforma Tributária da ZFM, após passarem pela Câmara dos Deputados, na última quarta-feira, 10, seguem para a discussão no Senado. A proposta visa reformular o sistema de isenção do Polo Industrial de Manaus (PIM), tornando outras áreas do País potenciais para a implementação do livre comércio.

Trabalhadores da Zona Franca de Manaus (Divulgação/Suframa)

O cientista político Afrânio Soares afirma que, ao chegar no Senado, a discussão pode mudar de rumo. “No Senado, me parece que a força vai ser maior, uma vez que o senador Eduardo Braga será o relator da matéria e o senador Omar Aziz vai participar também da discussão. Então, é provável que o Senado proponha, nesse caso da Zona Franca, revisões para equilibrar o que já existia antes”, disse.

O especialista destaca, ainda, que o Senado é uma Casa Legislativa mais equilibrada. “Todos os Estados, independentemente do seu tamanho eleitoral, são representados por três senadores. Diferentemente da Câmara Federal, onde esse número de deputados é calculado pela quantidade de eleitores. O Amazonas só tem oito, enquanto São Paulo, por exemplo, tem mais de 70”, completa.

Durante a discussão ainda na Câmara, a maioria dos deputados do União Brasil votou a favor da Reforma, podendo demonstrar uma opinião geral do partido contrária a do então governador do Amazonas e presidente do partido no Estado, Wilson Lima. O PT teve votos em unanimidade a favor do projeto, já o PL foi a principal oposição, com 76 votos contrários. Em relação à influência partidária, oito dos 81 senadores são membros do Partido dos Trabalhadores, 13 são do Partido Liberal e sete do União Brasil.

Manifestações públicas

O presidente Lula desenvolve a Reforma juntamente com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT). Durante uma reunião ocorrida no dia 3 de julho para definir estratégias, Lula expressou o desejo de urgência na aprovação da proposta. Marcelo Ramos (PT), pré-candidato à Prefeitura de Manaus, não expressou opinião pública sobre o assunto até o momento.

No Amazonas, representando o União Brasil, o governador Wilson Lima declarou “inaceitável a votação na Câmara dos Deputados, que prejudica o povo do Amazonas”. Representando o PL, o pré-candidato à Prefeitura de Manaus pelo PL, Alberto Neto, votou contra a proposta e expressou publicamente que a medida “prejudica a Zona Franca de Manaus”.

No primeiro ano do terceiro mandato de Lula, o faturamento do Polo Industrial superou em 65,8% o registrado no mesmo período do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), conforme dados da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa). Em 2019, durante o primeiro ano de Bolsonaro na presidência, o faturamento foi de R$ 104,62 bilhões. Já em 2023, sob a gestão de Lula, alcançou-se o montante de R$ 173,47 bilhões.

Ponto de vista econômico

O vice-presidente do Conselho Regional de Economia do Amazonas (Corecon-AM), Altamir Barroso Cordeiro, afirmou que o PLP 68/2024 precisa ser reformulado para proteger integralmente a ZFM. Embora tenha havido progressos na Câmara dos Deputados em manter contrapartidas para empresas beneficiadas, garantindo recursos para a UEA, turismo, desenvolvimento regional e apoio a pequenas empresas, ainda há preocupações.

“O crédito presumido da indústria na saída dos produtos da Zona Franca de Manaus para o resto do Brasil (o atual crédito estímulo) ainda não está garantido da forma como se deseja. Os atuais percentuais de 55%, 75%, 90,25% e 100% estão na letra da lei, mas o relator resolveu aplicar apenas 2/3 sobre os percentuais, o que prejudica o Polo Industrial de Manaus”, afirma o economista.

Barroso ainda completa que a cobrança de CBS no comércio interno da Zona Franca pode aumentar os custos de vida, e é necessário ajustar a alíquota do IBS para operações entre a indústria e o comércio local. A reforma também deve garantir segurança jurídica para projetos econômicos aprovados e fortalecer a supervisão da Suframa no desenvolvimento socioeconômico.

“O Conselho Regional de Economia, Corecon-AM, está confiante nas mudanças necessárias para a manutenção e viabilidade da Zona Franca de Manaus e da economia amazonense, e acredita na força política e no poder de negociação e articulação da bancada parlamentar federal do Amazonas.
Vamos sair vitoriosos deste processo e temos a certeza de que teremos maior prosperidade socioeconômica para o povo do Amazonas”
, ressalta.

Votação na Câmara

Projeto de Lei Complementar (PLP 68/2024) foi aprovado na Câmara dos Deputados por 336 votos a favor e 142 contra, sem as sugestões que garantem a competitividade da Zona Franca de Manaus (ZFM). Das 20 propostas de emendas sugeridas pela bancada amazonense, apenas duas foram inseridas no texto aprovado.

Uma delas é a que garante a criação de contribuições para financiar a Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Também foi aprovada a emenda da definição de que os créditos obtidos pelas empresas instaladas em Manaus poderão ser utilizados para abater a cobrança do imposto em outras unidades federativas brasileiras.

Entre as sugestões que não foram incluídas na regulamentação e que favoreciam a ZFM, está a que alterava o texto para incluir na vantagem comparativa do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) os produtos que já tiveram o projeto de implantação aprovado pela Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), mas ainda não iniciaram a produção.

Também não consta no texto a mudança apresentada sobre o crédito presumido para operações internas do comércio na Zona Franca, que, na prática, fará com que o setor do Amazonas tenha de pagar mais impostos.

A maioria dos deputados amazonenses votou contra a regulamentação. Dos oito deputados federais pelo Amazonas, somente Silas Câmara (Republicanos) votou a favor. Nas redes sociais, o parlamentar alegou que votou pela aprovação porque o processo ainda está no começo e que a legislação aprovada ainda pode ser aperfeiçoada no Senado e também na Câmara dos Deputados.

Leia também: Inimigos da Zona Franca de Manaus atuam como conselheiros de Amom
Editado por Adrisa De Góes
Revisado por Gustavo Gilona

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