Livro ‘Sobre Flechas e Canetas’ retrata a força da presença indígena em Manaus

Autor vai lançar "Sobre Flechas e Canetas - Faces da Política Indígena em Manaus" neste sábado, 23, durante evento no Parque do Mindu. (Arquivo Pessoal/ Reprodução)

Bruno Pacheco – Da Cenarium

MANAUS – O historiador e escritor amazonense Amilcar Aroucha Jimenes lança, neste sábado, 23, o livro “Sobre Flechas e Canetas – Faces da Política Indígena em Manaus”, da editora Valer. A obra é resultado de uma tese de doutorado do autor que faz um relato de uma parte da história dos povos tradicionais que, em busca de melhores condições de sobrevivência, emigram para as grandes cidades.

No resumo escrito no livro, o autor lembra ainda que, nessa emigração para as grandes cidades, “os indígenas são obrigados a aprender as formas de luta e os códigos, além da língua, que as regulam”. Por outro lado, escreve Jimenes, é uma face do urbanismo contemporâneo, suscitado ou provado pelas intensas migrações. Em entrevista à CENARIUM nessa segunda-feira, 18, o escritor salienta que a obra, dividida em três capítulos, retrata a força da presença indígena na capital amazonense.

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A obra é resultado da tese de doutorado defendida por Amilcar Aroucha Jimenes, em 2019. (Arquivo Pessoal/ Reprodução)

“Basicamente, o livro conta a história das organizações indígenas em Manaus que emergiram a partir dos anos 1980. No primeiro capítulo, eu tento trazer uma discussão inicial do processo de emigração de contingentes indígenas de suas aldeias e comunidades de origem para a cidade, a partir da trajetória de alguns indivíduos, tentando compreender dentro de um quadro histórico mais amplo, que diz respeito às próprias transformações observadas na região amazônica. O segundo capítulo, que talvez seja o mais importante, trata do cenário político indígena em Manaus, e de que maneira este se desenvolveu nas últimas décadas”, contou Amilcar.

De acordo com o historiador, além de um pequeno balanço sobre a produção do tema do livro, no segundo capítulo da obra também é retratado a trajetória de alguns coletivos indígenas que se firmaram em Manaus e como esses grupos se organizaram de diferentes modos. Além disso, salienta Amilcar, ele busca fazer uma reflexão sobre o papel dos aliados históricos do movimento indígena na capital do Amazonas, bem como da relação com o poder público local.

“Nesse contexto, você tem o missionarismo engajado, que, tal como no restante do País, exerceu um papel de extrema importância para emergência política dos coletivos indígenas. Sobre as relações com o Estado, no caso o poder público local, destacam-se iniciativas em favor de uma atenção maior às particularidades culturais dos coletivos. Por último, tento fazer uma reflexão sobre a emergência da Copime [Coordenação dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno], que é a grande organização hoje em Manaus, e que tem congregado de maneira inédita a diversidade de povos em favor de pautas comuns”, reforça.

No terceiro capítulo, conclui Amilcar Jimenes, “Sobre Flechas e Canetas” trata da emergência de uma novo conjunto de coletivos observado a partir dos anos 2000, com grupos que ficaram, principalmente, marcados por uma estratégia mais direta de ação, como em manifestações que resultaram em ocupações de terrenos e sedes de órgãos públicos.

“Tento fazer um paralelo entre esse movimento indígena emergente e aquele que já se proclamava estabelecido no cenário local. Nesse sentido, destacam-se as trajetórias de alguns indivíduos envolvidos nessa nova política e os resultados de suas ações, hoje materializados em grandes núcleos comunitários como o Parque das Nações Indígenas e o Parque das Tribos”, concluiu.

Política indígena e política indigenista

Estudioso de causas relacionadas à História Indígena, com ênfase em políticas indígenas e indigenistas, o escritor Amilcar Jimenes realça à CENARIUM que o tema voltado para a política dos povos tradicionais tem sido bastante discutido na academia, no entanto, apesar dos esforços de pesquisadores em levar o assunto a um público mais abrangente, a pauta é pouco conhecida pela população em geral.

“Com exceção do público especializado, a verdade é que a sociedade manauara pouco sabe sobre a complexidade e da diversidade de grupos que povoam seu tecido urbano. As pessoas passam numa ocupação ou bairro indígena, por exemplo, e olham aquilo como ‘mais uma favela’, uma ‘zona excluída do equipamento urbano’, mas na verdade ali pode estar sendo habitado por indivíduos e famílias que falam línguas diferentes, que têm culturas e modo de viver próprios, questões que eu creio que precisam ser evidenciadas, cultivadas e valorizadas”, realçou.

Amilcar Jimenes também explica a diferença de política indígena para política indigenista. “Em linhas gerais, política indígena é aquilo que vem da ação dos próprios grupos indígenas e suas organizações. Enquanto isso, a política indigenista trata basicamente de ações propostas por agentes instituições não indígenas”, explicou.

O autor

Natural de Manaus, Amilcar Aroucha Jimenes atualmente vive no Estado do Paraná. O escritor é doutor em História pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (2019), possui mestrado em História pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), em 2014, e graduação em História pelo Centro Universitário do Norte (UniNorte), em 2009. Desde 2011, realiza pesquisas entre comunidades e organizações presentes em Manaus.

A obra “Sobre Flechas e Canetas – Faces da Política Indígena em Manaus” será lançada neste sábado, 23, durante o evento “Manhã Cultural”, da editora Valer, que ocorre nos horários de 8h às 11h, no Parque do Mindu, no bairro Parque 10 de Novembro, em Manaus.

A cerimônia contará com palestras, sessão de autógrafos, café da manhã e exposição de artes, e a presença de escritores como o presidente do Conselho Municipal de Política Cultural de Manaus (Concultura), Tenório Telles, o historiador Otoni Mesquita, além de Aldisio Figueiras, Amilcar Jimenes, Deusa Costa, Magela de Andrade, Márcio Souza e Patrícia Marinho.

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