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Lixo, mau cheiro e doenças: cheia dos rios evidencia poluição em igarapés e moradores sofrem com impactos
Lixo acumulado no igarapé localizado no bairro Cachoeirinha, zona Sul de Manaus (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)
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03 de junho de 2021
Marcela Leiros – Da Revista Cenarium
MANAUS – A cheia do rio Negro neste ano voltou a mostrar um antigo problema que fica em maior evidência com a enchente em Manaus. Nos igarapés que cortam a cidade e rio que banha a capital, o volume de lixo saltou aos olhos, assim como o nível das águas, e passou a incomodar mais ainda os moradores de localidades que são obrigados a conviver com os resíduos nas portas das residências.
Nessa terça-feira, 1º, o nível do Negro atingiu a cota da cheia histórica, com 29,98 metros. Com esse marco, a água já invade ruas e avenidas, principalmente na área central da cidade como a avenida Marquês da Silveira, no bairro Cachoeirinha, zona Sul, onde os moradores lidam diariamente com o lixo e o odor desagradável causado pelo material em decomposição na água do igarapé.
No leito d’água urbanizado pelo Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus (Prosamim), pneus, garrafas plásticas e de vidro, latas de bebidas e até móveis são despejados no local ou transportados de outras localidades com a força da água, como contou à CENARIUM a comerciante Ana Rodrigues, que mora há 20 anos na região e é proprietária de uma loja de variedades.
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“Só que aqui o problema é de lixo que vem de outros bairros né. O igarapé subiu, o lixo subiu e acaba não passando lá [desaguando no rio] e fica esse odor aí todo tempo agora. Prejudica muito até a saúde da gente. Fica meio difícil aqui, para quem trabalha aqui na área, e para as crianças também. Aqui é terrível de carapanã, quando dá 18h a gente tem que trancar tudo, botar incenso dentro da casa pra poder matar os carapanãs”, contou a comerciante.
Barramento hidráulico
O acúmulo de lixo nos cursos d’água dos cerca de 500 igarapés de pequeno volume em Manaus é explicado pelo Doutor em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Carlossandro Albuquerque. Segundo o especialista, o que acontece é algo chamado de “barramento hidráulico”, quando há um represamento na água do igarapé.
“O rio Negro enche de volume, que é um grande curso d’água, ele retém a água dos pequenos cursos d’água. Por exemplo, esse igarapé do 40, do Prosamim, ou do São Raimundo, ele acaba represando essa água. Então a água vai ter o seu movimento agora de forma lenta, numa dinâmica lenta. Ele continua drenando só que de forma lenta, porque ele aumenta de volume na foz devido à maior quantidade de água no rio Negro e a partir daí ele diminui de velocidade”.
O pesquisador ainda explica o que causa o acúmulo de lixo. “Isso faz com que o lixo, que está represado nas margens, cai para dentro da bacia. Então aumenta o quantitativo de lixo devido ao aumento do nível do igarapé e também pelo aumento da precipitação nesta época do ano, da chuva. Então são esses fenômenos que ocorre e isso faz com que acumule o lixo”, destacou Carlossandro Albuquerque.
Doenças
Além da cheia dos rios colocar em evidência o acúmulo do lixo, a falta de escoamento da água também traz outra preocupação aos moradores. Doenças como a dengue, transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, que se reproduz em locais com água parada, se tornam mais comuns e com maior incidência já que as residências e comércios são localizados próximos aos igarapés poluídos.
“Aí vem a dengue, vem outros tipos de doença, então quando sobe a água, que vem junto à água suja e o lixo, acaba trazendo mais lixo para gente. Têm crianças aqui da região que estão doentes com dengue, com virose, tudo porque é muito carapanã e carapanã traz dengue, traz virose”, ressaltou a comercialmente Ana Nascimento.
O infectologista Nelson Barbosa, à CENARIUM, também pontuou outras doenças que o acúmulo de lixo e água parada podem causar. “Podemos ver que é comum um aumento de casos nesta época do ano, nessas localidades. Além da dengue, têm as diarreias e a leptospirose”, lembrou o médico da Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD).
A reportagem entrou em contato com a Secretaria Municipal de Limpeza Pública (Semulsp). A secretaria afirmou, em nota, que somente naquela área já realizou a limpeza de quatro igarapés e iria retornar ao bairro para outros atendimentos.
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