Lula afirma que vai buscar diálogo com Ortega para libertar religiosos detidos na Nicarágua

À esquerda, presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e o da Nicarágua, Daniel Ortega (Foto: Alice Vergueiro/Estadão Conteúdo e Cesar Perez/Presidência da Nicarágua/Reuters)
Da Revista Cenarium*

MANAUS – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quinta-feira, 22, que, na conversa que teve com o papa Francisco, no dia anterior, comprometeu-se a conversar com o ditador da Nicarágua, Daniel Ortega, autor de uma série de ações contra a Igreja Católica no país, como a prisão do bispo Rolando Álvarez.

“Pretendo falar com o Ortega a respeito de liberar o bispo. Não tem por que ficar impedido de exercer a sua função na igreja, não existe essa possibilidade, então eu vou tentar ajudar”, afirmou o líder brasileiro. “A igreja está com problemas na Nicarágua, porque tem padre e bispo presos, e a única coisa que a igreja quer é que a Nicarágua libere o bispo para vir à Itália. Essas coisas nem sempre são fáceis porque nem todo mundo é grande para pedir desculpa. A palavra desculpa é simples, mas exige muita grandeza.”

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante encontro com o papa Francisco, no Vaticano
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante encontro com o papa Francisco, no Vaticano – Ricardo Stuckert – 21.jun.23/Presidência da República/Divulgação

O brasileiro também disse que ele e Francisco concordaram que é preciso haver vários atores envolvidos no diálogo sobre a paz na Guerra da Ucrânia para chegar a um denominador comum que leve a um acordo entre Kiev e Moscou. Ele defendeu ainda a necessidade de uma nova governança mundial, capaz de representar as transformações geopolíticas pelas quais o mundo passou nas últimas décadas.

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“Estou de acordo com o papa Francisco: é preciso ter gente envolvida em discutir a questão da paz. É preciso colocar os atores numa mesa de negociação, parar de atirar e tentar encontrar uma solução pacífica”, disse, durante entrevista coletiva concedida em Roma, antes de viajar à França.

“Já conversamos com Índia, Indonésia, China, na perspectiva de criar uma consciência e um grupo que possa construir a paz. Nesse aspecto, o papa é uma pessoa extremamente importante, muito importante.”

Nesse esforço, Lula mencionou a atuação do assessor especial para assuntos internacionais, Celso Amorim, enviado à Ucrânia e à Rússia, e afirmou que o auxiliar se encontrou em Roma com o enviado do papa a Kiev, o cardeal Matteo Zuppi. O Vaticano prepara a ida de Zuppi a Moscou e espera que Lula, por seu canal de diálogo aberto com o presidente russo, Vladimir Putin, possa contribuir.

Lula também disse que Amorim participará, no fim de semana, de uma cúpula na Dinamarca com representantes de países em desenvolvimento que advogam a postura de neutralidade no conflito. Além do Brasil, devem se sentar à mesa autoridades de Índia e África do Sul —há, ainda, tentativas de atrair Turquia e China. Os EUA participam com Jake Sullivan, assessor de Segurança Nacional da Casa Branca.

O petista repetiu a ideia de reforma no Conselho de Segurança da ONU, para que possa surgir uma nova governança mundial, da qual participem mais países da África e da América Latina e a Índia. “É preciso que a gente tenha a consciência de que a geopolítica que formatou a ONU em 1945 não existe mais.”

Questionado pela mídia italiana sobre detalhes de seu plano de paz para a guerra, Lula afirmou ser contra uma rendição dos russos. “Num acordo de paz, os envolvidos têm que ganhar alguma coisa, ou então não tem acordo. Se você tem uma proposta em que alguém tem que ceder 100%, não é acordo, é rendição.”

O brasileiro também comentou as impressões sobre a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, com quem se reuniu pela primeira vez nesta quarta. Antes de assumir, ela fez diversas críticas públicas a Lula.

“Sinceramente, fiquei bem impressionado com a Giorgia, uma jovem, a primeira mulher primeira-ministra da Itália, o que é uma novidade extraordinária no meio de tanto homem”, disse o petista. “Senti que é uma mulher que tem a cabeça no lugar, é uma mulher inteligente. A gente tem que torcer para que ela consiga dar certo na Itália, e a Itália possa crescer nas mãos dela”, afirmou, em aceno à líder de ultradireita.

“Quando um chefe de Estado se encontra com outro chefe de Estado [Meloni é chefe de governo], não está em jogo a questão ideológica. Importa é que ela defende os interesses do povo italiano, e eu, os do Brasil. Venho aqui para discutir o que é importante fazer para que os dois países possam ganhar”, disse Lula, que convidou tanto a italiana quanto o presidente Sergio Mattarella para visitarem o Brasil.

(*) Com informações da Folhapress.

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