Lula vê 2021 como chave para eleição e quer consolidar PT como símbolo antiBolsonaro

O ex-presidente concedeu entrevista no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo (Foto: Marlene Bergamo)

Com informações da Folha de São Paulo

SÃO PAULO – Os principais líderes do PT afinaram o discurso com o do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e passaram a difundir a narrativa de que a prioridade neste momento não é a provável candidatura dele ao Planalto em 2022, mas a consolidação do partido como principal opositor ao governo Jair Bolsonaro.

Lula, que teve os direitos políticos restabelecidos por decisão do ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), deu o tom para os correligionários na quarta-feira, 10, ao falar pela primeira vez desde a anulação das condenações sofridas por ele na Operação Lava Jato de Curitiba.

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Embora petistas afirmem que o momento é de cautela, por ser necessário esperar conclusões na esfera jurídica, a candidatura do ex-presidente é defendida sem ressalvas no partido. De qualquer forma, a definição de alianças é vista como estratégica e deve ficar só para o ano que vem.

Lula durante ato em Curitiba (Foto: Rodolfo Buhrer/Reuters)

Pego de surpresa, o PT — que até então trabalhava com a pré-candidatura de Fernando Haddad — aguardou a manifestação pública do ex-presidente para entender as bases da campanha que deve vir pela frente.

As expressões estampadas no painel atrás do petista, ao fazer seu pronunciamento no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo (SP), foram o cerne da mensagem e a senha para os colegas: “vacina para todos”, “auxílio emergencial já” e “saúde, emprego e justiça para o Brasil”.

Dirigentes, parlamentares e assessores ouvidos pela Folha de São Paulo endossaram, de diferentes modos, a visão de que a campanha em 2022 depende do que será feito em 2021 sobre os temas urgentes, algo que Lula cobrou não só do PT, mas de toda a esquerda, como pressuposto para arranjos eleitorais.

Concretamente, ele quer se somar aos quatro governadores da sigla (nos estados da Bahia, Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte) e à bancada federal petista na implementação e aprovação de medidas que façam frente ao que chamou de “desgoverno” de Bolsonaro, o principal adversário a ser batido.

Enquanto mantém conversas com políticos e busca formar um consenso de esquerda ou até mesmo de centro em torno de si, Lula quer evitar, segundo aliados, a deflagração de uma campanha eleitoral aberta diante da pandemia de Covid-19, em sua fase mais avassaladora no País.

“O momento é de aglutinar forças para enfrentar Bolsonaro e tentar encontrar soluções para esta grave crise em que ele enfiou o Brasil. Temos que subir o tom nesse sentido, falar do SUS, da renda emergencial, do desemprego”, diz a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann.

De acordo com o secretário de comunicação do PT, Jilmar Tatto, a provável entrada do ex-presidente no pleito é desde já consensual na sigla. “A candidatura do Lula dá um freio de arrumação, um rearranjo na política brasileira, já que ele tem grande capacidade de atrair e unificar a esquerda”, afirma.

Ainda neste ano, o PT pretende criar um grupo de trabalho para fazer um levantamento dos palanques da legenda nos estados, ou seja, quem são os nomes da agremiação para os governos estaduais e para o Senado.

A estratégia é adiar até o segundo semestre, pelo menos da porta para fora, as discussões a respeito de eleição e campanha. Até lá, vale a orientação do ex-presidente aos aliados para que percorram as cidades e abram diálogo com a sociedade e diferentes setores políticos e empresariais.

A realização de caravanas em diferentes estados, como as que Lula promoveu entre 2017 e 2018 e pensava em reeditar em 2020, antes da eclosão da pandemia, já aparece entre as ideias defendidas por integrantes responsáveis pela mobilização da militância. As viagens pelo País, embora tenham sido mencionadas por ele próprio em discurso, ainda não têm data ou destino. O grande obstáculo é a pandemia.

Lula tomou a primeira dose da vacina contra a Covid-19 neste sábado, 13. Mesmo quando o ex-presidente estiver imunizado, ainda resta a preocupação de que seus deslocamentos e aglomerações.

No esforço de contraposição a Bolsonaro – criticado pelo desprezo às medidas de proteção e pela postura anticiência -, qualquer deslize pode virar combustível para ataques de detratores, observam auxiliares. “A agenda do Lula não vai ser pensada para 2022, mas para a reconstrução do País. É isso que o PT vai ajudar a organizar”, pontua Tatto.

A expectativa dos petistas é que o discurso do ex-presidente alimente a militância e líderes do campo progressista por um bom tempo, até que ele comece a rodar o País e, enfim, a campanha ganhe corpo.

“Às vezes, a gente fala uma coisa e não repercute. O Lula fala e a repercussão é outra. Ele é fundamental para enfrentar a tragédia da destruição de políticas públicas sob o Bolsonaro”, diz o presidente estadual do PT em São Paulo, Luiz Marinho.

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