Maduro 3 aponta para problemas políticos e econômicos, diz especialista


Por: Ian Vitor Freitas

16 de janeiro de 2025
Homem balançando bandeira da Venezuela (Carlos Garcia Rawlins/Agência Brasil)
Homem balançando bandeira da Venezuela (Carlos Garcia Rawlins/Agência Brasil)

BOA VISTA (RR) – O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, tomou posse do cargo, na última sexta-feira, 10, e o ato marca o começo do terceiro mandato consecutivo, por mais seis anos. O evento de posse ocorreu no Palácio Federal Legislativo, em Caracas, capital da Venezuela. O economista e doutor em Relações Internacionais, Haroldo Amoras, aponta que o novo mandato deve apresentar diversos problemas geopolíticos e econômicos para o país vizinho.

De acordo com Haroldo, a terceira reeleição de Maduro representa um desastre em termos de legitimidade política e traz profundas implicações para a democracia na Venezuela.

Um desastre no que diz respeito ao aprofundamento da crise humanitária. Uma tragédia humana que acontece na Venezuela, na medida que temos registrados pela ONU uma diáspora, uma saída da Venezuela de aproximadamente 8 milhões de venezuelanos que foram procurar espaços e modos de vida em outros países, inclusive no Brasil e em Roraima. Estão saindo para procurar liberdade e novas oportunidades”, disse.

Economista e doutor em Relações Internacionais, Haroldo Amoras (Reprodução/Arquivo Pessoal)

Para o especialista, a reeleição ocorre em um momento desfavorável e complicado no cenário de política internacional, em meio a conflitos mundiais, como a guerra da Ucrânia e Israel. Ele destaca que uma das maneiras de evitar as restrições políticas é a reaproximação com o Brasil.

“A capacidade da Venezuela de enfrentar esses desafios do isolamento das restrições impostas tanto pela União Europeia quanto pelos Estados Unidos, vai depender muito da movimentação de três países, que são Brasil, China e o Irã. Tem a questão do Brics, que pode ser uma saída, desde que o Brasil aceite a entrada da Venezuela. Está surgindo uma brecha que é a retomada do Linhão de Guri, que pode ser um fator que venha a justificar aproximação do Brasil com a Venezuela, em termos comerciais”, destacou.

Falta de insumos alimentícios

O setor alimentício também pode enfrentar consequências durante os próximos anos, devido à capacidade da sociedade venezuelana em produzir alimentos básicos. Conforme Haroldo, a Venezuela comprava até recentemente a maioria dos produtos de alimentação da Colômbia e do Brasil, inclusive pelo Estado de Roraima, que servia por muitas vezes como corredor para o comércio.

As preocupações aumentam em relação à quantidade de alimento que poderá não atender plenamente às necessidades básicas do povo venezuelano.

Há também a questão do desemprego, na medida em que o petróleo caiu para uma participação de apenas 13% do PIB [Produto Interno Bruto] da Venezuela. Atualmente, o país possui um PIB de produção de serviço, que não gera dólar e, sem dólar, a Venezuela não terá meios de pagamento para comprar alimentos no mercado internacional”, ressaltou Haroldo.

Desvalorização do petróleo da Venezuela

A Venezuela na geopolítica da América Latina se baseia como instrumento principal ao petrodólar. Durante anos, o país vendia derivados de petróleo para todos os países do Caribe a preços baixíssimos e a atividade despertava simpatia de alguns países com a Venezuela, um desses exemplos é a Cuba, que continua sendo suprida desse insumo básico.

“Com a crise da produção de petróleo venezuelana, a capacidade de barganha do petrodólar ficou frágil e, com a produção do petróleo na costa da Guiana, é esse poder de barganha encolheu ainda mais e pode continuar diminuindo. Essa bacia de petróleo cobre todo o litoral da Guiana e Guiana Francesa, que representa um potencial imenso”, explica o doutor.

Por fim, o cenário atual mostra que muitos países tendem a se afastar ainda mais de relações com a Venezuela, agravando a geopolítica e a economia do país. O problema se agrava porque a Venezuela já não possui tanta influência na América Latina, e a tendência é reduzir ainda mais. A situação resulta em consequências negativas, já que sem petróleo não tem como fazer importações, incluindo insumos básicos para produção e consumo, como os destinados para alimentação.

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Editador por Adrisa De Góes e John Britto

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