Com informações do Portal Alma Preta
BRASIL – Um estudo baseado no Censo Escolar de 2020 constatou que os alunos negros correspondem, em média, a 10% do corpo estudantil das insituições privadas de ensino. A pesquisa, elaborada pelo Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (Gemma), afirma também que quanto mais cara e melhor colocada no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é a escola, menor é o percentual de pretos e pardos em seu interior.
Embora grande parte das escolas não tenha dados de raça e cor de todos seus alunos, as informações daquelas que responderam à questão demonstram alto índice de desigualdade racial nesses espaços. Para o doutor em Sociologia Luiz Augusto Campos, o sistema de cotas seria uma opção possível para diminuir essa diferença de alunos brancos e negros nas instituições de ensino privado, mas não é a solução total para o problema.
“O sistema de cotas pode ser visto como uma forma de mitigar o efeito que as escolas privadas majoritariamente brancas têm na distribuição desigual de oportunidades no Brasil, mas é uma medida com efeitos limitados, como ocorre nas universidades públicas, em que apenas um terço das matrículas é reservado para essas pessoas”, destaca o também pesquisador responsável pelo estudo e vice-coordenador do Gemma.
Luiz Augusto salienta que o ideal é que essa inclusão parta de uma lei, que garanta o acesso desses estudantes nos espaços privados de ensino. O pesquisador pontua que se houvesse legislação pertinente ao assunto, a responsabilidade de distribuição de alunos negros seria da diretoria de cada escola.
Dados sobre alunos negros nas instituições de ensino privado
A pesquisa levantou informações das 20 escolas que tiveram o melhor desempenho no Enem 2019 em todo o país. Dentre elas, uma não computou a variável raça/cor do Censo Escolar, que é o Instituto Dom Barreto do Piauí. Outras três escolas apresentaram alta taxa de não resposta sobre raça/cor de seus estudantes, como no caso do Colégio Pirâmide de São Paulo (85%), Colégio Farias Brito de Aplicação (65%) e o Colégio Ari de Sá Cavalcante (58%), ambos no Ceará.
Já o Colégio Catamarã, em São Paulo, registrou 0% de pretos e pardos e 81% de brancos. Dos restantes, apenas três instituições tiveram 20% ou mais de alunos pretos e pardos registrados.
“Esse nível de segregação se repete nas duas principais capitais brasileiras: São Paulo e Rio de Janeiro. Dentre as dez escolas privadas de mais alto desempenho da capital fluminense, apenas uma apresenta mais de 20% de alunos negros ou pardos: o Colégio Técnico Nossa Senhora das Graças, com 30%”, diz o estudo.
Na capital paulista, nenhum dos dez colégios com melhor desempenho no Enem 2019 registrou mais de 20% de alunos pretos ou pardos. O estudo ainda aponta que a maior parte dessas escolas oscilou entre 1% e 7% de alunos negros, tendo a escola Orlando Garcia da Silveira registrado mais de 91% dos alunos brancos.
Resultados e soluções para o futuro
O estudo elaborado pelo Gemma destaca que a alta taxa de não resposta à questão de raça e cor impede uma análise mais aprofundada sobre o tema. Apesar da ausência de dados, a pesquisa afirma que, como resultado, foi possível constatar o descaso com que tais instituições de ensino tratam a temática racial e que é fundamental estar atento sobre em que local o aluno negro é colocado no futuro perante os estudantes brancos.
Não pode ser natural que a elite brasileira se forme desde a infância em espaços onde não há negros como pares, mas apenas como subalternos, diz a pesquisa.
Para o pesquisador responsável, algumas medidas a curto, médio e longo prazo podem ser adotadas no intuito de uma educação mais igualitária. Luiz Augusto destaca a distribuição de alunos negros nas turmas das escolas privadas, pois, de acordo com ele, “muitas escolas, de forma racista, podem isolar esses alunos deliberadamente, o que corrobora com o discurso preconceituoso”, aponta.
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