Maioria dos brasileiros afirmam que aquecimento global pode prejudicar suas famílias


09 de março de 2022
Maioria dos brasileiros afirmam que aquecimento global pode prejudicar suas famílias
Incêndio próximo ao Rio Branco, na Reserva Extrativista Jaci-Paraná, em Porto Velho, Estado de Rondônia Incêndio próximo ao rio Branco na Reserva Extrativista Jaci-Paraná, em Porto Velho, estado de Rondônia (Christian Braga - 16.ago.20/Greenpeace)

Com informações da Folhapress

SÃO PAULO — Na percepção de 96% dos brasileiros, o aquecimento global está acontecendo. Para 81%, a questão é “muito importante” e 61% se dizem “muito preocupados”. No entanto, apenas 21% consideram conhecer o bastante sobre o assunto.

Realizada pelo segundo ano consecutivo, a pesquisa de opinião encomendada pelo Instituto Tecnologia e Sociedade (ITS) e conduzida pelo Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Ipec) ouviu 2.600 pessoas de todas as regiões do País. As entrevistas foram feitas por telefone entre setembro e novembro do ano passado. A margem de erro é de dois pontos percentuais.

A pergunta “o quanto você acha que o aquecimento global pode prejudicar você e sua família?”, 75% dos brasileiros responderam que o fenômeno pode lhes prejudicar muito (contra 72% em 2020); 13% disseram que o grau de prejuízo pode ser “mais ou menos”, 8% responderam “um pouco” e, para 3%, a resposta foi “nada” (que teve 5% das respostas em 2020).

O nível de preocupação é bem distribuído entre as cinco regiões do País, sendo mais alto no Centro-Oeste, onde 79% responderam que o aquecimento global pode lhes prejudicar muito. A resposta foi dada por 70% dos entrevistados no Sul –o número mais baixo entre as regiões.

Entre a população preta, a percepção de que o aquecimento global pode lhes prejudicar muito é mais alta: teve 82% das respostas, contra 78% entre pardos, 71% na população branca e 74% entre os que se identificam com outras raças. O alerta também é maior entre as mulheres: 80% delas responderam que podem se prejudicar muito, contra 70% dos homens.

A resposta também teve mais aderência entre a esquerda (81%) e o centro (78%). Entre os entrevistados que se identificam com à direita no espectro político, a percepção de que podem se prejudicar muito cai para 69% dos entrevistados e fica em 77% entre os que não sabem ou não responderam sobre a posição política.

Na avaliação de Fabro Steibel, direitor-executivo do ITS, a preocupação com o tema ambiental está bem distribuída pelo espectro político, ainda que ela seja levemente mais baixa entre os que se declaram como “mais à direita”.

Entre os que se consideram “mais à esquerda”, 88% se dizem muito preocupados com o aquecimento global (eram 83% em 2020), o número se repete entre os de centro (eram 85% em 2020). Nos entrevistados que se declaram “mais à direita”, o número é relativamente mais baixo, mas ainda assim majoritário: 75% se dizem “muito preocupados”; em 2020, eles eram 72%.

Entre os que não souberam ou não responderam sobre sua posição no espectro político, 78% se dizem muito preocupados com o clima. O número era de 76%, em 2020. Segundo a diretora de inteligência do Ipec, Rosi Rosendo, a pesquisa indica que a alta preocupação dos brasileiros com o clima atualmente está mais conectada com a vivência de impactos ambientais negativos do que com a discussão geral apresentada pelo noticiário.

“Como exemplo, podemos verificar as respostas dos entrevistados em regiões onde aconteceram queimadas”, cita Rosendo. Nos Estados que compreendem a Amazônia Legal, 98% dos entrevistados já ouviram falar sobre queimadas. No restante do País, o número cai para 87%.

Questionados sobre os três maiores responsáveis pelas queimadas na Amazônia, os brasileiros apontaram os madeireiros (76%), agricultores (50%) e pecuaristas (49%). Em seguida, os garimpeiros (43%) e o governo (38%). Indígenas e ONGs também foram apontados respectivamente por 8% e 6% dos entrevistados.

Questionados sobre o que consideram mais importante entre as opções “proteger o meio ambiente, mesmo que isso signifique menos emprego e crescimento econômico” ou “promover o crescimento econômico e a geração de empregos, mesmo que isso prejudique o meio ambiente”, 77% dos entrevistados responderam que a proteção ambiental seria mais importante.

Apenas 13% priorizaram o crescimento econômico, e 10% não sabem ou não responderam.
A porcentagem dos entrevistados que responderam priorizar o crescimento econômico em detrimento da proteção ambiental é maior entre a população acima de 55 anos (19%), escolarizados apenas até o ensino fundamental 1 (20%), mais à direita do espectro político (20%) e ainda entre aqueles que não acessam a internet (27%).

Refutada por estudiosos da sustentabilidade, a dicotomia entre proteção ambiental e crescimento econômico apontada na pergunta faz referência aos discursos mantidos pelo atual governo federal, que defende a diminuição das normas de proteção ambiental.

Para 50% dos brasileiros, quem mais pode contribuir para resolver o problema das queimadas na Amazônia são os governos e, para 21%, os cidadãos. Outros 13% responderam “empresas e a indústria”, 9% apostaram nos militares e 4%, nas ONGs. Para 74% da população, as queimadas não são necessárias para o crescimento da economia e 86% concordam que a prática prejudica a imagem do Brasil no exterior.

Apesar da alta preocupação, o engajamento prático traz números nem tão altos: 75% declaram separar o lixo reciclável e 58% deixam de comprar produtos que prejudicam o meio ambiente. O engajamento político é ainda mais baixo, porém, vem crescendo: 45% dos brasileiros afirmam já ter votado em algum político por suas propostas ambientais. Em 2020, o número era de 42%.

O voto para candidatos ligados a propostas ambientais é maior entre os entrevistados de esquerda (65%), com Ensino Superior (55%) e das classes econômicas A e B (51%). Apenas 17% dos brasileiros já participaram de manifestação ou abaixo-assinado sobre mudança climática –o número é maior entre os que cursaram o Ensino Superior (33%), mais à esquerda (32%), jovens entre 18 e 24 anos (30%) e de classes econômicas A e B (26%).

Com exceção das perguntas sobre a realidade brasileira, a pesquisa da percepção sobre o clima se baseia em um modelo da universidade americana Yale, aplicado nos Estados Unidos e em dezenas de países.

“Ainda há uma lacuna entre o nível de preocupação e de engajamento, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Se não se organizam para demandar ação política, fica muito mais fácil para o negacionismo [climático] ganhar espaço”, afirma o diretor do programa de comunicação sobre mudanças climáticas da Universidade Yale, Anthony Leiserowitz.

No entanto, ele afirma que o agravamento dos eventos climáticos extremos nos últimos anos mudou o posicionamento da sociedade sobre o tema, com impactos claros nas eleições americanas.
“Em 2020, as mudanças climáticas foram a preocupação número dois dos americanos entre 30 outras opções listadas, incluindo pandemia, crimes e economia. Isso teve um impacto profundo nas candidaturas do partido democrata”, afirma Leiserowitz. “Isso é um exemplo de que essa não é apenas mais uma questão científica, mas política”.

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