‘Mais perigosa do que o senso comum supõe’, alerta psicóloga sobre prática do bullying
07 de abril de 2023
São inúmeros os impactos negativos ocasionados pela prática (Reprodução/Pixabay)
Priscilla Peixoto – Da Revista Cenarium
MANAUS – “O bullying é um tipo de violência muito mais perigosa do que o senso comum supõe”. A afirmação é da psicóloga especialista em saúde mental Carol Peixoto, em entrevista a REVISTA CENARIUM. No “Dia Nacional de Combate ao Bullying e à Violência na Escola‘, instituído no dia 7 de abril de 2016, a profissional fala sobre a prática disfarçada de brincadeira e zoação, que causa intimidações psicológicas e/ou físicas recorrentes, resultando em uma “cicatriz severa e persistente” na saúde mental da vítima.
Com origem inglesa, o termo ‘bully’, que deu origem à palavra bullying, “significa valentão ou brigão” e passou a ser usada para descrever posturas de intimidação e comportamentos abusivos, principalmente, em ambiente escolar, entre crianças e adolescentes. Segundo a psicóloga, são inúmeros os impactos negativos ocasionados pela prática.
“Esse contexto hostil é fixado como um trauma nos processos emocionais do indivíduo, gerando distorções cognitivas na autoimagem e baixa autoestima, que podem agravar para crises de ansiedade e depressão, alterações na personalidade e, em casos extremos, tentativas de suicídio“, explica Peixoto.
Dia Nacional de Combate ao Bullying e à Violência na Escola’ foi instituído no dia 7 de abril de 2016 (Reprodução/Internet)
A psicóloga destaca que, embora os episódios abusivos possam acontecer em qualquer fase da vida, a identificação quanto ao assunto é mais facilmente constatada em âmbito escolar. “(…) Percebemos com mais clareza na fase escolar, pois crianças e adolescentes estão tentando se afirmar enquanto identidade, além de ser a escola uma instituição que visa o aprendizado, tanto acadêmico, quanto de valores como ética e respeito”, salienta a profissional que complementa:
“O bullying também é um fator prevalente na evasão escolar, principalmente, entre adolescentes“, diz Carol. Conforme dados da Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (PeNSE), vinculado ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), publicados em julho do ano passado, mais de 40% dos estudantes adolescentes brasileiros admitiram já ter sofrido alguma prática de “bullying”.
Vítimas e cuidados
Conforme Peixoto, as vítimas de bullying, normalmente, têm dificuldade de reagir, denunciar seus agressores e pedir ajuda para pessoas próximas. A psicóloga ressalta a importância da comunidade em geral, escolas, familiares e amigos, ficarem atentas quanto às alterações de comportamento, como recusa em ir para a escola, pensamentos depreciativos, dificuldade de interagir, desejo de isolamento, aumento da agressividade, insônia e reações psicossomáticas (como tremor, taquicardia, palpitação, sudorese, entre outrassinalizações).
Carol enfatiza que o acompanhamento psicológico é fundamental para o acolhimento e uma reestruturação saudável. “É primordial que a criança ou adolescente tenha seu discurso validado com empatia e respeito, principalmente, ao que tange a gravidade do problema. O acompanhamento psicológico é essencial, pois o processo terapêutico vai representar esse lugar de segurança e acolhimento necessários para promover a construção de recursos que possibilitem a estruturação saudável da personalidade do sujeito.
Motivações
A especialista em saúde mental destaca ainda para a necessidade de atenção não só para as vítimas, mas também para a criança ou adolescente que comete bullying. Embora seja uma associação delicada e complexa, conforme a psicóloga, normalmente, crianças com ações que possibilitam situações de bullying enfrentam algum problema familiar como: abandono afetivo parental; negligência ou permissividade dos cuidadores e abusos físicos e psicológicos, dentro de casa, passando a reproduzir com seus pares na escola.
A data remete ao massacre cometido em Realengo, no Rio de Janeiro (Reprodução/Fotolia)
“A criança ou adolescente que pratica o bullying também está em sofrimento, onde, na tentativa de se afirmar diante dos outros colegas, age com agressividade“, afirma Carol Peixoto sobre a problemática que envolve fatores psicológicos, sociais e culturais.
“(…) Portanto, é necessário entender quais os motivos dos ataques e o que está gerando essa revolta na criança que comete o bullying, para que, junto a esta, possam ser elaboradas estratégias de eliminação de preconceitos e mudança de pensamentos“, pontua a especialista.
Dia Nacional de Combate ao Bullying
O Dia Nacional de Combate ao Bullying e à violência na escola foi instituído pela Lei 13.277, de 2016, no dia 7 de abril. A data remete ao massacre cometido em Realengo, na cidade do Rio de Janeiro. Na ocasião, um jovem de 23 anos entrou na escola e matou doze crianças (dez meninas e dois meninos).
O rapaz teria sofrido bullying durante a infância. Ao tirar a vida das vítimas, foi atingido por um vigilante e, após, cometeu suicídio.
Data foi instituída no dia 7 de abril de 2016 (Reprodução/Governo Federal)
Tipos de bullying
No Brasil, a Lei N° 13.185, em vigor desde 2016, classifica o bullying como “intimidação sistemática, quando há violência física ou psicológica, em atos de humilhação ou discriminação. A classificação também inclui ataques físicos, insultos, ameaças, comentários e apelidos pejorativos, entre outros”.
De acordo com o governo federal, há oito formas de bullying, são elas: moral, verbal, sexual, social, material, psicológico, físico e virtual (também chamado de cyberbullying). Em 2018, foi publicada, no Diário Oficial da União, a Lei 13.663/2018 que inclui, entre as atribuições das escolas, a “promoção da cultura da paz e medidas de conscientização, prevenção e combate a diversos tipos de violência, como o bullying“.
Caso recente
No Brasil, um dos casos mais recentes foi de um adolescente que esfaqueou três professores e dois alunos em uma escola estadual, na cidade de São Paulo, no dia 27 de março. Uma professora da escola estadual Thomázia Montoro, na Zona Oeste da cidade, morreu.
O aluno é do 8° ano do ensino fundamental e foi apreendido pela polícia. Um outro aluno da escola contou que, uma semana antes, testemunhou uma briga entre o suspeito e outro estudante, que tiveram que ser separados por um professor. Ele disse também que saiu correndo da escola quando viu o ataque e acabou torcendo o pé.
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