Manaus completa 351 anos de história entre o surrealismo e o idealismo

Manaus em algum lugar dos anos 1920. Bondes e luz elétrica eram uma realidade urbana para uma cidade encravada no meio da floresta amazônica (Reprodução/Internet)

Mencius Melo – Da Revista Cenarium

MANAUS –  Há 351 anos um enclave provavelmente construído de pedra, barro e madeira, dava origem à cidade de Manaus. A Fortaleza da Barra do Rio Negro, erguida pelo capitão lusitano Francisco da Mota Falcão, era a dominação de um território disputado. Erguiam-se assim as bases de um experimento urbano que teria que florescer para proteger o que pertencia aos colonizadores portugueses.

Manaus dos anos 1960. Poucos veículos nas ruas e nenhum arranha-céu ao norte da cidade (Reprodução/Internet)

De acordo com o historiador Tenner Inauhiny, é preciso compreender duas datas. “A data dos 351 anos de Manaus é a junção de duas datas. A primeira foi a fundação da fortaleza da Barra do Rio Negro em 1669. Esse é considerado o núcleo original da cidade de Manaus. A segunda data é 24 de outubro de 1848 quando por lei provincial Manaus deixa de ser vila e é elevada à categoria de cidade”, explicou.

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Como os processos de colonização são quase sempre violentos, a política portuguesa era de utilizar, à força, a mão de obra indígena. Para fugir do apresamento e da escravidão, etnias se retiraram do território do que hoje é Manaus. “Eram ‘os descimentos’ para fugir dos portugueses e no lugar onde hoje está Manaus, viviam os Baré, os Manau, os Passé, os Tarumã entre outras etnias”, descreveu.

Tropicalmente europeu…

Com o avançar dos dois primeiros séculos, o processo de ocupação foi completamente estabelecido e a desvinculação da província do Grão – Pará marca uma nova fase política para o Amazonas e Manaus. Para assinalar um novo tempo, a borracha entra na pauta econômica do Brasil. “A economia brasileira, desde o período colonial, era agroexportadora e a borracha entra como mais um produto fruto dessa prática”, observou Tenner.

“O primeiro produto da agroexportação brasileira era o café, o segundo era a borracha e ela gerou muita riqueza não só para Manaus, mas para o País como um todo”, assinalou o historiador. “Aquela ideia de ordem e civilização está estampada no espaço que compreende o Palácio da Justiça, o Teatro Amazonas e a Igreja de São Sebastião”, discorreu o professor.

Trabalhadores do Polo Industrial de Manaus. Riqueza gerada nas fábricas que faz Manaus crescer em ritmo acelerado (Reprodução/Internet)

Para Inauhiny, a borracha marcou uma importante fase da cidade nesses 351 anos. “A borracha transformou Manaus e lhe deu características de urbanização como a que acontecia no Rio de Janeiro, com a adoção de modelos arquitetônicos europeus, a construção de bulevares, a utilização do ferro em art noveau enfim, isto está presente na memória das pessoas de Manaus”, resumiu.

A cidade dos chips

Após a débâcle da borracha, Manaus entrou em ostracismo por quase meio século, foi somente nos anos 1960, que o regime militar levou a cabo a ideia de ‘integrar para não integrar’. A obsessão verde-oliva pela ideia de que o Brasil poderia perder a Amazônia, fez com que os governos militares levassem a cabo um projeto civil, pensado bem antes de eles chegarem ao poder. Nascia assim em 1967, a Zona Franca de Manaus (ZFM).

A ideia era fazer da capital do Amazonas, um polo de tecnologia em plena floresta amazônica. Nada mal para quem já havia usado a faixa de ‘a Paris dos Trópicos’. “Até os anos 1950 Manaus experimenta uma crise econômica em decorrência da queda da borracha”, recordou. “O projeto ZFM surge em meio a uma crise geopolítica na América Latina, era a ‘Guerra Fria’, cuja ‘Revolução Cubana’ era o maior expoente”, assinalou.

Após 351, Manaus é hoje a maior cidade da Amazônia (Reprodução/Internet)

Após mais de três séculos e meio, Tenner Inauhiny reconhece que Manaus ocupa papel singular. “A ZFM que agora é Polo Industrial de Manaus traz muitas riquezas, mas, isso gera muitos gargalos. Mas, o fato é que Manaus continua fazendo a sua história. É uma das mais importantes cidades do Brasil. “Não podemos esquecer nosso passado, para que continuemos tentando ser a melhor cidade possível”, finalizou Tenner.

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