Manaus continua sendo a cidade mais procurada por refugiados e migrantes, diz estudo

73% dos entrevistados venezuelanos têm Manaus como destino final Foto: Projeto Hermanitos

Ívina Garcia – Da Revista Cenarium

MANAUS – A OIM, Agência da ONU para as Migrações, publicou nesta semana a Matriz de Monitoramento do Fluxo da População Venezuelana, na Região Metropolitana de Manaus, e a capital amazonense, mais uma vez, se destaca como polo acolhedor. Dos 600 entrevistados venezuelanos, 73% escolheram a cidade como destino onde pretendem morar.

Embora não seja a capital que mais recebe o fluxo de refugiados e migrantes, a capital do Amazonas é o ponto final para essas pessoas.

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Apesar das dificuldades com o idioma e com o desemprego, muitos refugiados conseguem se estabilizar e ajudar a família que permanece na Venezuela. Conforme a publicação, cerca de 76% dos entrevistados possuem Ensino Médio, Técnico ou Superior e, mesmo assim, lideram com problemas para encontrar trabalho no Brasil.

Saúl Eduardo Cova Carrasco, 28 anos, chegou a Manaus em 2019, ano em que a cidade recebeu mais refugiados. Fugindo da crise na Venezuela, Saúl e seu irmão escolheram o Brasil como destino. No primeiro mês, eles foram recebidos por uma família, mas logo tiveram que ir para abrigos de Organizações Não Governamentais.

Foi quando a procura por emprego realmente começou. Engenheiro da computação por formação e com anos de experiência no mercado venezuelano, ele diz ter passado por dificuldades, principalmente, por conta do idioma.

“Chegamos aqui e foi bem complicado, pois não conhecíamos a língua, e conseguir um emprego foi muito difícil, pois eu só tinha experiência em trabalho de escritório; eles até me recusaram para empregos de ajudante de pedreiro”, disse Saúl.

O venezuelano conta que após três meses em Manaus recebeu uma oportunidade no Projeto Hermanitos, onde teve o currículo selecionado, mas não foi chamado por conta da pandemia da Covid-19. Entretanto, Saúl não foi o único.

Ainda segundo a publicação, mais da metade dos entrevistados estavam desempregados ou trabalhando na informalidade, quando foi feita a pesquisa, sendo 56% de mulheres, em idade ativa, desempregadas. Entre os que têm renda, mais da metade (58%) recebe menos de um salário-mínimo.

Com a situação ficando mais apertada, Saúl decidiu tentar outro Estado, no Sul do País. Quando estava por lá, recebeu uma proposta, novamente em Manaus, em sua área de formação. “Um mês depois que saí, a empresa entrou em contato comigo para uma oferta de emprego, então, em agosto de 2020 fui trabalhar na empresa onde estou até hoje”, conta o engenheiro.

Após alguns meses na empresa, Saúl conseguiu trazer o resto da família para o Brasil, onde vivem, desde então. “Ter minha família aqui me deixa mais confortável, não vejo necessidade de sair de Manaus, no momento. Estou bastante estável agora”, disse.

Venezuelano Saúl junto aos irmãos Foto: Arquivo pessoal

A coordenadora da OIM, em Manaus, Jaqueline Almeida, acredita que os venezuelanos que estão na cidade têm potencial de se integrar e somar com o crescimento da cidade, mas muitos ainda precisam de apoio.

“O DTM aponta, ainda, um cenário de vulnerabilidade em relação aos entrevistados, se avaliarmos que mais da metade recebe menos de um salário-mínimo, e que uma parcela está desempregada ou na informalidade, e há aqueles que relatam dificuldades de acessar alimentos diariamente. Por isso, nosso apoio às ações dos governos federal e locais são necessários para reforçar a integração contínua no Amazonas”, disse Almeida.

Xenofobia

O levantamento também aponta que dos entrevistados, 22% informaram já ter sofrido discriminação, sendo o valor percentual ligeiramente superior entre as mulheres (24%) em relação aos homens (21%). O principal motivo da discriminação é a nacionalidade, sendo registrado em 97% das mulheres e em 95% dos homens.

Saúl diz que, felizmente, não passou por nenhum constrangimento e, que na verdade, teve momentos que os manauaras deram força para ele continuar lutando.

“Uma vez que eu estava saindo do SPA com um amigo que estava doente e sentamos em uma praça próxima para descansar, dois jovens se aproximaram de nós e perceberam que meu amigo estava doente, e do nada nos perguntaram como estávamos. Depois de ouvir um pouco sobre nós, eles foram comprar um refrigerante e um doce para a gente e depois de nos animar eles foram embora”, conta.

Em outra situação, enquanto entregava currículos com o irmão, Saúl conta que um senhor, ao receber o documento, percebeu que os irmãos estavam cansados, então, convidou ambos para uma conversa em um café.

“Coisas simples, como alguém te ouvindo e te apoiando, te ajudam a continuar mesmo que não seja fácil”, completa.

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