Manifestação paralisa balsas no Rio Tapajós contra Ferrogrão e hidrovia


Por: Cenarium*

17 de novembro de 2024
Manifestação paralisa balsas no Rio Tapajós contra Ferrogrão e hidrovia
Manifestação contra Ferrogrão e hidrovia (Foto: Leonardo Milano)

BELÉM (PA) – Cerca de 400 pessoas paralisaram o transporte de cargas no Rio Tapajós (PA) nesse sábado, 16, em manifestação dos povos impactados pelo projeto da Ferrogrão e hidrovia do Tapajós. “Não deixe a Ferrogrão destruir o Tapajós”, dizia o mega-cartaz colocado nas balsas durante a intervenção. O ato marcou o 7º Grito Ancestral do povo Tupinambá, realizado no Território Tupinambá do Baixo Tapajós, Reserva Tapajós-Arapiuns, a oito horas de barco de Santarém, no Oeste paraense.

Manifestação dos povos impactados pelo projeto da Ferrogrão e hidrovia do Tapajós (Foto: Leonardo Milano)

Entre as 9h e 15h, os manifestantes ocuparam o rio com cinco barcos e 15 bajaras, denunciando os impactos do corredor logístico do Arco Norte, cujos comboios de balsas, portos e terminais afetam negativamente o rio e os habitantes da região. Estavam presentes representantes dos povos Tupinambá, Munduruku, Arapiun, Kumaruara, Jaraqui, Tapajó, Tapuia, Apiaka, Kayapó, e de comunidades ribeirinhas  do baixo Tapajós e de Montanha e Mangabal.

Em um ato pacífico, indígenas subiram nas balsas e comboios, divulgando a petição pelo fim do projeto da Ferrogrão (www.ferrograonao.com). A Aliança contra a o projeto reúne 39 movimentos e organizações da sociedade civil.

Estão nos impedindo de pescar e matando o Rio Tapajós para exportar soja para a China e para a Europa. Se a Ferrogrão for construída, a situação vai piorar ainda mais”, explica Raquel Tupinambá, coordenadora do Conselho Indígena Tupinambá do baixo Tapajós Amazônia (Citupi).

Indígena na manifestação realizada no Rio Tapajós (Foto: Leonardo Milano)

As ações de protesto no Tapajós ocorrem simultaneamente à COP 29, a Conferência da ONU sobre o Clima, no Azerbaijão. Segundo Pedro Charbel, coordenador de campanhas da Amazon Watch, é fundamental chamar a atenção do mundo à ameaça que a expansão da soja e Ferrogrão representam.

Nosso País será sede da COP no ano que vem e os olhos do mundo estão voltados para o Pará. Não podemos ceder aos interesses da Cargill e outras grandes empresas, temos que cancelar o projeto da Ferrogrão pelo bem do futuro do planeta”, afirma.

Ao final da programação, os indígenas lançaram um manifesto do Rio Tapajós, denunciando crimes ambientais. “Minhas águas já mudaram de cor por causa do garimpo e estou cheio de mercúrio que envenena os peixes e os humanos que se alimentam do que eu ofereço. Minha querida Praia da Vera Paz, espaço sagrado dos meus povos originários e lugar de lazer de tantos santarenos, foi destruída pelo ferro e cimento dos silos de soja do porto da Cargill. Construído há 21 anos, sem licença e sem consulta, esse porto marca o início de um ciclo de destruição”, diz o texto.

Indígena na manifestação realizada no Rio Tapajós (Foto: Leonardo Milano)
Ferrogrão e os impactos no Rio Tapajós

Desenvolvido por demanda da Cargill e outras grandes tradings do agronegócio, o projeto da Ferrogrão (EF-170) visa aumentar e escoar a produção de soja e milho do Centro-Oeste do Brasil por meio do Rio Tapajós. De acordo com estudos preliminares apresentados pelo Ministério dos Transportes, os quase mil quilômetros de trilhos entre Sinop (MT) e Miritituba (PA) aumentariam o volume de exportação de grãos pelo rio em mais de 6 vezes até 2049.

Raquel Tupinambá teme que para aumentar o trânsito e navegabilidade de balsas no rio sejam feitas obras de dragagem e explosão dos pedrais que são sagrados para os povos indígenas. “A Ferrogrão vai aumentar o desmatamento para produzir mais soja e vai também aumentar a destruição do rio porque querem escavar o seu leito e explodir os pedrais, que são espaços importantíssimos para nós. A ferrovia vai aumentar os impactos do corredor logístico que já nos afeta, e até agora não fomos consultados”, denuncia.

Karanhin Metuktire, liderança Kayapó e representante do Instituto Raoni (MT), reforça a necessidade de respeitar os direitos dos povos indígenas. “O projeto da Ferrogrão ser prioridade de setores do governo federal é um exemplo de como nossos direitos continuam sendo ignorados. Querem construir essa ferrovia sem respeitar a nossa existência e os protocolos de consulta de cada povo, como manda a Convenção 169 da OIT. Cada território tem suas próprias regras e formas de decidir, e isso precisa ser respeitado”, declara.

Entre as reinvindicações está a demarcação de território na região afetada (Foto: Leonardo Milano)

Para a advogada Bruna Balbi, da organização Terra de Direitos, o governo precisa realizar a consulta prévia com urgência e analisar os impactos da Ferrogrão de modo relacionado com os demais empreendimentos do corredor logístico do Arco Norte.

Esse corredor envolve mais de 40 portos de transporte de carga, a hidrovia do Rio Tapajós e os passivos da BR-163. É urgente analisar os impactos cumulativos e sinérgicos dessa rede logística na região e, acima de tudo, respeitar o direito à consulta de todas as comunidades e povos afetados, conforme estipula a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho”, explica Balbi.

(*) Com informações da Amazon Watch/Aliança Contra a Ferrogrão

O que você achou deste conteúdo?

VOLTAR PARA O TOPO
Visão Geral de Privacidade

Este site usa cookies para que possamos oferecer a melhor experiência de usuário possível. As informações dos cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.