‘Marca de 400 mil mortes não significa que pior já passou’, diz infectologista

O infectologista Júlio Croda alerta que a combinação de falta de vacinas com a emergência e o espalhamento de novas variantes traz a perspectiva de um futuro letal a curto prazo (Jorge William/Agência O Globo)

Com informações do O Globo

RIO DE JANEIRO – As 400 mil vidas perdidas para a Covid-19 são um marco da tragédia brasileira na pandemia, mas não significam que o pior tenha passado. Ao contrário. O infectologista Júlio Croda, professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), alerta que a combinação de falta de vacinas com a emergência e o espalhamento de novas variantes traz a perspectiva de um futuro letal a curto prazo.

Quando chegamos a 100 mil mortos, em agosto de 2020, as perspectivas não pareciam tão ruins. O que mudou?

Foi o que mudou e o que não mudou. Temos novas variantes do coronavírus, em especial a P1. Ela é mais transmissível e aumenta a chance de reinfecção. E agora há certeza de que não existe imunidade coletiva natural. A imunidade coletiva será a proporcionada pelas vacinas. O que não mudou foi a falta de distanciamento social, de testes, de uso de máscaras.

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Por que as taxas de novos casos e mortes chegou a cair por alguns meses no segundo semestre de 2020?

Foi o próprio ciclo natural do vírus, que vem em ondas. Desceu e depois subiu, e subiu muito, pois encontrou condições favoráveis para isso. E essas condições persistem, com o agravante das novas variantes. Ficou claro também que não teremos imunidade coletiva adquirida que não seja a promovida por vacinas. Não existe imunidade coletiva natural para o coronavírus porque o vírus muda. A tragédia de Manaus provou isso claramente. Manaus mostrou e pode mostrar no futuro o que irá acontecer no Brasil.

E qual o cenário para os próximos meses?

A marca de 400 mil mortes é dramática, mas não é o fim da tragédia. O número de doentes e mortos continuará a subir. Não temos vacinas suficientes. Não temos cobertura vacinal e teremos ainda mais liberação das atividades econômicas. Isso vai aumentar a transmissão.

O que vai acontecer se a vacinação não acelerar?

É muito provável que tenhamos de novo uma outra explosão de casos no fim de junho. Modelos matemáticos da Universidade do Estado de Washington projetaram isso baseados no ciclo natural do coronavírus somado à falta de cobertura vacinal adequada.

Podemos esperar momentos tão ruins quanto este?

Sim. Talvez piores. Mantido esse ritmo, teremos 500 mil mortos no fim de junho. E sem vacinas aumenta a chance de o vírus adquirir outras mutações perigosas.

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