Marcha das Mulheres Indígenas reúne cinco mil em Brasília: ‘Lutamos com nossas vozes’

Marcha das Mulheres Indígenas, em Brasília (Reprodução/Apib)

Victória Sales – Da Cenarium

MANAUS – A II Marcha das Mulheres Indígenas que aconteceria nessa quinta-feira, 9, em Brasília, foi adiada para a manhã desta sexta-feira, 10, por conta da tensão entre manifestantes que estão presentes na capital, em mobilizações em favor do presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido). A presença dos apoiadores causou insegurança ao grupo de indígenas, que alterou o trajeto. A estimativa foi de que 5 mil mulheres participaram do ato.

De acordo com a representante do Departamento de Mulheres Indígenas do Rio Negro, da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), Rosane Cruz, são 17 mulheres, apenas do Rio Negro, que participam com o tema “Mulheres Originárias: Reflorestando Mentes para Cura da Terra”. “Nós estamos aqui representando os 23 povos indígenas do Alto, Médio e Baixo Rio Negro”, explicou à CENARIUM.

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Rosane destacou que, ao todo, são mais de cinco mil mulheres participando da marcha em Brasília e ressalta que, para evitar violência contra essas mulheres elas preferiram mudar a rota do ato. “A trajetória da marcha seria até a esplanada, onde seria ecoado as vozes das Mulheres Indígenas do Brasil pelo direito à vida, pelo direito ao território. Mas, por conta dos manifestantes que são a favor do Presidente, para evitar a violência contra as mulheres indígenas, a trajetória da Marcha foi alterada para a Praça Galdino Pataxó”, explicou.

A representante relata ainda que a marcha tem como objetivo combater a política “anti-indigenista” difundida pelo presidente Jair Bolsonaro, além da retirada dos direitos dos povos indígenas. A marcha trouxe também debates de temas ligados à causa feminina. Rosane conta ainda o medo que as mulheres indígenas tiveram com a chegada dos manifestantes no mesmo lugar em que elas iriam encerrar a marcha.

“Eles têm armas, tememos que algo ruim acontecesse com as mulheres indígenas. Nós lutamos com as nossas vozes, com nossos cantos, com as nossas pinturas. E por isso nosso trajeto precisou se reformulado, terminando assim na Praça Galdino Pataxó”, afirmou Rosane, destacando que após o ato retornaram ao acampamento no Complexo Cultural Funart.

(Reprodução/Twitter)

Histórico

A Marcha das Mulheres Indígenas teve a primeira edição em 2019 como uma forma de luta contra a retirada dos direitos dos povos originários. Por conta da pandemia do coronavírus, a marcha não pôde acontecer em 2020, trazendo ainda mais força a essas mulheres para realizarem o ato em 2021. Neste ano, as mais de cinco mil pessoas que participam do ato representam mais de 172 povos. O grupo acompanha, principalmente, a votação do marco temporal.

Marco temporal

O Supremo Tribunal Federal (STF) iniciou a votação do maior julgamento de demarcação de terras indígenas, que é conhecido como marco temporal. Por critério, os indígenas só podem reivindicar a demarcação de terras que foram ocupadas antes a data de promulgação da Constituição de 1988. As discussões põem ruralistas e povos indígenas em lados diferentes.

A decisão do julgamento coloca em risco mais de 300 processos de demarcação de terras dos povos originários que aguardam decisão. Indígenas de todo o Brasil acamparam em frente à Esplanada dos Ministérios em protesto ao marco.

Rosane afirmou que o julgamento representa um verdadeiro retrocesso e um ataque aos territórios e à vida dos indígenas que neles vivem. “A terra é a nossa vida, a Constituição Federal reconhece os nossos direitos a terra, que originalmente e tradicionalmente já ocupamos. Esse marco temporal viola os nossos direitos já garantidos e reconhecidos, uma iniciativa dos grandes empresários para roubar as nossas terras”, explicou.

O ministro do STF e relator do processo, Edson Fachin, votou contra a tese do marco temporal na tarde desta quinta-feira, 9. O processo está em pauta no Supremo desde o dia 26 de agosto, mas o julgamento foi suspenso quatro vezes. A votação tem previsão para ser concluída na próxima sessão, marcada para a próxima quarta-feira, 15.

Indígenas se reúnem, em Brasília, contra o marco temporal (Reprodução/Apib)
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