Marcha Global pelo Clima na COP30 reúne 70 mil pessoas com diversidade de povos
Por: Fred Santana*
16 de novembro de 2025
BELÉM (PA) – A Marcha Global pelo Clima reuniu nesse sábado, 15, nas ruas de Belém (PA), cerca de 70 mil pessoas, entre povos indígenas, ribeirinhos, quilombolas, representantes de diversos biomas brasileiros, movimentos sociais, organizações culturais e delegações internacionais. A mobilização marcou o sexto dia da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30).

A manifestação teve início com a concentração dos participantes, por volta das 9h. Sob o sol forte, o percurso de 4,5 km teve o ponto de partida no Mercado de São Brás e a chegada na Aldeia Cabana. A marcha, organizada por integrantes da Cúpula dos Povos e da COP das Baixadas, é considerada um dos maiores atos populares já registrados durante uma conferência climática da Organização das Nações Unidas (ONU) no Brasil.

Com o tema “Lutar e Resistir contra os Predadores da Vida Disfarçados de Progresso“, a manifestação reforçou as principais reivindicações do Sul Global: transição justa, desmatamento zero, combate ao racismo ambiental e participação efetiva dos povos tradicionais nas decisões climáticas.
O ato se concentrou em apresentar um contraponto direto às negociações oficiais, destacando que as comunidades da linha de frente da crise climática são as que mais sofrem e as que mais protegem os territórios.

Cartazes, faixas, cantos e instrumentos marcaram a presença massiva das bases sociais, que denunciam a expansão dos combustíveis fósseis e exigem que a transição energética saia do papel e se torne compromisso concreto.
A presença de lideranças indígenas fortaleceu o caráter político do ato. As ministras do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, e dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, subiram no carro principal da marcha para manifestar apoio ao ato pelo clima. Guajajara, que caminhou ao lado de representantes de diversos povos, destacou a centralidade da Amazônia no debate internacional sobre clima.

“Nós, povos indígenas, que sempre estivemos aqui, nos juntamos neste momento para receber o mundo. Chegou a vez da Amazônia falar para o mundo”, afirmou Guajajara em seu discurso. “Chegou a vez de encontrarmos o Cerrado, a Mata Atlântica, o Pampa, o Pantanal, a Caatinga, que estão sendo igualmente destruídos. É por isso que aqui se torna, neste momento, a Zona Azul da COP30, onde se encontram os guardiões e as guardiãs da vida”.

Para a ministra dos Povos Indígenas, os povos tradicionais são responsáveis por manter vivos os biomas que agora ocupam o centro das discussões climáticas. Ela ressaltou que são essas comunidades que enfrentam diariamente a ganância econômica e os impactos intensificados da crise climática, enquanto seguem preservando os territórios.
Marina Silva destacou o caráter mais popular da COP que é realizada no Brasil. “Depois de outras COPs, em que as manifestações sociais ocorriam apenas dentro de espaços oficiais da ONU, no Brasil, no Sul Global, em uma democracia consolidada, podemos ocupar as ruas. A COP30 permite o encontro das periferias, das águas, das cidades, dos campos, das florestas. Lugares que enfrentam as mudanças do clima. Em que pesem nossos desafios e contradições, temos que fazer um mapa do caminho para transição justa e encerrar a dependência dos combustíveis fósseis”, disse.

Mobilização ampliada na COP30
Além da marcha, a COP30 tem registrado presença inédita de povos originários e movimentos sociais. Aproximadamente três mil indígenas se reuniram em uma grande aldeia montada em Belém, transformando a cidade em um polo de encontros culturais, debates e mobilizações paralelas.
Nos arredores da conferência, diferentes grupos também realizaram ações por financiamento climático, medidas contra poluidores e implementação de mecanismos que garantam mais equidade internacional.

Com a força das ruas, a Marcha Global pelo Clima consolidou-se como uma das principais demonstrações de pressão política da COP30, ecoando a demanda por respostas rápidas e efetivas frente à crise climática que já atinge milhões de pessoas em todo o mundo.
