Marina diz que 20 milhões de pessoas estão em escolas sem climatização


Por: Ana Cláudia Leocádio

07 de maio de 2025
Marina diz que 20 milhões de pessoas estão em escolas sem climatização
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

BRASÍLIA (DF) – Cerca de 20 milhões de pessoas, entre estudantes, professores e trabalhadores da educação, estão em salas de aula de escolas sem climatização, tendo que suportar cada vez mais altas ondas calor, consequência das mudanças climáticas, apontou a ministra do Meio Ambiente e da Mudança do Clima (MMA), Marina Silva. A declaração foi durante o primeiro dia da 5ª Conferência Nacional do Meio Ambiente, nesta quarta-feira, 7, em Brasília.

Com o tema “Emergência Climática: o Desafio da Transformação Ecológica”, a Conferência reúne mais de 1,5 mil delegados que vão debater as propostas apresentadas durante as conferências locais realizadas nos municípios, desde 2024, e que deverão ser sintetizadas em 100 ao final do encontro, na sexta-feira, 9. Farão parte de uma espécie de banco de dados de propostas para solucionar problemas relacionados com as mudanças climáticas no País.

Ao contextualizar a atual conjuntura que levou o mundo à emergência climática, nas últimas décadas, com a ocorrência de extremos no Brasil, por exemplo, que registrou catástrofes como a enchente no Rio Grande do Sul e a maior seca na Amazônia, em 2024, além dos incêndios florestais, Marina destacou as altas ondas de calor que causam efeitos deletérios à saúde das pessoas.

A ministra Marina Silva durante pronunciamento na 5ª Conferência Nacional de Meio Ambiente, em Brasília (Reprodução/Flickr/MMA)

“Como é que a gente enfrenta as ondas de calor que estão ceifando mais de 146 mil vidas por ano, sobretudo de pessoas idosas e de crianças? As nossas regiões periféricas, em várias regiões do nosso país, em uma temperatura de mais de 40 graus, com sensação térmica de 50 e 60 graus?”, questionou Marina.

De acordo com a ministra, essa realidade do calor nas escolas levou o MMA a discutir com os ministérios da Saúde (MS), Alexandre Padilha, e da Educação (MEC), Camilo Santana, uma estratégia sustentável para amenizar o calor enfrentado por cerca de 20 milhões de pessoas em todo o País, entre crianças, adolescentes, professores e trabalhadores da educação. Um exemplo prático de como as mudanças do clima afetam as pessoas cotidianamente.

“Não é só colocar ar-condicionado, são processos de arborização do espaço escolar, construções resilientes que possibilitem melhores condições para que a temperatura possa ser mais amena, processos de educação para o enfrentamento da mudança do clima”, ressaltou Marina.

O MMA retoma a realização da Conferência Nacional do Meio Ambiente após quase 12 anos sem ser realizada. As discussões estão baseadas em cinco eixos em torno no tema deste ano da emergência climática: mitigação, adaptação e preparação para desastres, justiça climática, transformação ecológica e governança e educação ambiental.

Palestra Magna foi conduzida pela ministra Marina Silva, ministro da Fazenda Substituto, Dario Durigan e pelo cientista Carlos Nobre (Reprodução/Flickr/MMA)

“Por isso que valorizamos muito aqui o debate que vamos ter da questão da governança e da educação ambiental. Sem mudança de mentalidade, não há como mudar as nossas atividades. Ou a gente muda de atitude ou a gente não tem como enfrentar o problema”, afirmou a ministra Marina. Ela defende fazer uma mitigação de forma eficiente, eliminando o desmatamento e fazer a transição energética com o fim do uso de combustíveis fósseis para a energia limpa, entre outras estratégias.

O ministro da Fazenda Substituto, Dario Durigan, também participou do evento e apresentou os principais projetos encaminhados pelo ministério, que foi o responsável pela formulação do programa de transformação ecológica. Segundo ele, esse programa trouxe para a conta econômica, o que antes ficava de fora da contabilidade das empresas.

Cientista desenha panorama

O cientista Carlos Nobre apresentou um panorama do porquê o mundo chegou ao patamar de aquecimento global e como essa realidade afeta as pessoas na vida cotidiana. Segundo Nobre, 75% dos cientistas ouvidos em uma pesquisa recente afirmaram que é alta a probabilidade de a temperatura do planeta não baixar mais de 1,5º Celsius, limite que deve ser evitado pelos países sob pena de causar um ecocídio.

Ele citou alguns exemplos dos efeitos das mudanças climáticas, como estiagem e seca, incêndios florestais, ondas de calor e de frio, inundações e enchentes, deslizamentos de terras, ciclones, tornados e vendavais. Nobre lembrou que, no caso da Amazônia, as secas ocorriam de dez em anos pelo menos, e agora foram registradas três anos seguidos, com o registro da maior em 40 anos, em 2024.

Entre as várias estratégias para a adaptação das cidades para essa nova realidade, segundo Nobre, estão a retirada de milhões de brasileiros das áreas de extremo risco, a implantação das chamadas “cidades-esponja” para amenizar as ondas de calor, além de promover o transporte e a mobilidade urbana de forma sustentável.

Cientista e pesquisador brasileiro, Carlos Nobre apresentou panorama sobre aumento do aquecimento global (Reprodução/Flickr/MMA)

Carlos Nobre também fez um alerta para a situação dos biomas do Cerrado e Caatinga, que sofreram impactos extremos nos últimos anos e já podem estar em ponto de não-retorno. O Cerrado, por exemplo, teve 52% de suas florestas desmatadas, e está mais seco e quente a cada ano.

Da mesma forma, informou o cientista, a Caatinga se expandiu para o Cerrado em 200 quilômetros, e está criando uma zona central de semideserto, numa região onde vivem mais de 27 milhões de pessoas. Segundo Nobre, 80% do bioma já foi afetado.

Preocupações com o Brasil

Uma das preocupações de Nobre com o Brasil é porque o País figura como o quarto país no mundo em emissões acumulas de gases do efeito estufa, a maior parte provocada por desmatamento e mal uso da terra, daí a importância de atingir a meta de desmatamento zero até 2023. Conforme Carlos Nobre, os estados mais emissores são o Pará, Mato Grosso e Maranhão, causados pelo derrubada das florestas.

O Cientistas sugere que medidas para enfrentamento às mudanças climáticas, começando pela redução das desigualdades socioeconômicas, apontada como um dos principais ampliadores dos impactos. “Devemos acelerar políticas pública e práticas de adaptação e aumento da resiliência em todos os setores e expandir consideravelmente o apoio à geração de conhecimentos científicos”, afirmou.

Mais que isso, Nobre também destacou a importância de aliar o conhecimento dos povos indígenas e tradicionais para atuarem junto nesse enfrentamento. O cientista chamou a atenção para o fato dos indígenas, que apareceram na América há cerca de 15 mil anos, terem produzido um conhecimento importante que gera novos produtos da floresta até hoje, sem destruí-la, apenas preservando-a.

Nobre enfatizou a necessidade do Brasil, com seus estados, cidades e comunidades, ampla sociedade e setor privado, deve caminhar urgentemente na busca da sustentabilidade como principal legado para as futuras gerações.

Imagem mostra fogo consumindo área de vegetação na Amazônia Legal (Reprodução/Ibama)

Deve, ainda, prevenir, controlar e zerar o desmatamento, degradação e incêndios na Amazônia, Cerrado, Caatinga, Pantanal, Pampa e Mata Atlântica e, consequentemente, acelerar a restauração de todos os biomas. Outra sugestão, é desenvolver uma política pública de arborização urbana e investir no planejamento integrado de soluções baseadas na natureza.

Outra proposta coloca para as novas gerações a tarefa de assumir a liderança na busca de trajetórias de sustentabilidade do planeta com ênfase em justiça social e climática, principalmente via empoderamento dos jovens e mulheres. “Por favor, jovens e mulheres, assumam essa liderança, que a minha geração, eu nasci em 1951, é a geração que mostrou o risco, mas não fizemos nada”, pediu Carlos Nobre.

O cientista concluiu que a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada em Belém, em novembro deste ano, deve ser a mais importante de todas as já realizadas, pois terá um desafio maior com a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, justamente aquele em que os países se comprometeram a não deixar a temperatura do planeta se elevar além de 1,5º C.

Leia mais: Mulheres indígenas do Amapá fazem apelo por água potável na Amazônia
Editado por Adrisa De Góes

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