Marina Silva afirma que negacionismo não afastará países como EUA e Argentina da COP30
10 de outubro de 2025

MANAUS (AM) – A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou que o fato de países como a Argentina de Javier Milei e os Estados Unidos de Donald Trump terem posturas negacionistas, isso “não significa um apagão da presença” deles na COP30, a conferência de clima da Organização das Nações Unidas (ONU).
Ela ressalta que estas nações estarão representadas na cúpula por meio de entes governos subnacionais, prefeituras e sociedade civil. Ela lembrou, por exemplo, que o Brasil recentemente fechou um acordo com o estado da Califórnia, nos Estados Unidos, para transição energética, mesmo o presidente Donald Trump impondo políticas anti-ambientais em nível nacional.
Também afirmou que a prefeitura de Buenos Aires estará representada na cúpula, em que pese a postura de Javier Milei, chefe de Estado da Argentina, também contra o clima. Ela admite, claro, que esses governos dificultam as negociações e o avanço de políticas de enfrentamento à mudança climática.
No início deste ano, Donald Trump inclusive já anunciou que os EUA vão sair do Acordo de Paris, o tratado global para enfrentamento da mudança climática. O presidente da COP30, André Corrêa do Lago, porém, diz que após 11 meses dessa decisão, os efeitos em outros governos foram pequenos.
“Nenhum outro país saiu [seguindo os EUA]“, afirmou.
Há um mês da COP30, 162 delegações já confirmaram seu credenciamento para o evento, que acontece de 10 a 21 de novembro, em Belém, no Pará.
A escolha da cidade para sediar a cúpula foi sendo questionada durante este ano e, como revelou a Folha, uma série de países pressionou o governo Lula (PT) para que a conferência mudasse de local, em razão dos altos preços de hospedagem, o que não surtiu efeito.
O presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago, voltou a ressaltar que é frustrante o número de países que já apresentaram suas NDCs, a meta de redução das emissões de CO2 a que cada país se compromete.
Mas ressaltou que o mais importante é que os países que mais causam o aquecimento global notadamente, os de maior economia, do G20, estejam neste debate. Dentre os quatro maiores emissores do mundo, os Estados Unidos apresentaram uma NDC, mas ainda no governo Joe Biden, e não devem cumprí-la sob Trump. A China, por outro lado, já anunciou a sua.
Índia e União Europeia, que completam a lista, ainda não entregaram estes documentos. Essas NDCs servem de base para um relatório produzido pela ONU, que em linhas gerais, qual qual a temperatura o mundo vai atingir se essas metas forem cumpridas e se isso é suficiente para evitar o colapso global, ou não.
Embaixador de Clima do Ministério das Relações Exteriores, Maurício Lyrio, lembra que o fato de apenas 56 países terem apresentado suas NDCs dentro do prazo faz com que esse relatório perca força e tenda a chegar um resultado preocupante.
Ele também afirmou que uma das tarefas mais difíceis do Brasil será construir, junto com o Azerbaijão, o chamado roadmap, documento que precisa traçar um caminho de como o mundo conseguirá mobilizar US$ 1,3 trilhão em recursos para o financiamento climático.
Ele lembrou também que historicamente essas metas não foram cumpridas. “Os países ricos não pagaram integralmente o que teriam que pagar”, afirmou.
Finalmente, Marina Silva voltou a reforçar a necessidade que os países façam uma transição energética para substituir as fontes de combustíveis fósseis pelas renováveis. Isso porque cerca de 75% das emissões de todo o mundo são em razão da queima de carvão, gás natural e petróleo.
Para ela, o Brasil que tem a maior parte de seu CO2 oriundo do desmatamento mostrou que a reduzir o impacto climático não é um obstáculo para o crescimento econômico.
Ao contrário, completa, foi em razão das políticas ambientais que o país conseguiu abrir novos mercados para exportação, sobretudo com Japão e China, e também ajudou a fechar acordo de cooperação entre o Mercosul e a União Europeia.
“Fomos capazes de reduzir o desmatamento em 46% na Amazônia e 36% no país […] e o agronegócio cresceu 15%, e a renda per capta cresceu 11%“, afirmou.
