Marubos repudiam áudio de coordenador da Funai que incita violência entre indígenas no Amazonas

O áudio do coordenador foi divulgado nesta quinta-feira. (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Déborah Arruda – Da Cenarium

MANAUS – A liderança indígena do povo marubo, Eliésio Vargas Marubo, repudiou nessa quinta-feira, 22, a declaração do coordenador da Fundação Nacional do Índio (Funai), Henry Charlles Lima da Silva, em um áudio no qual incitava violência dos marubos contra indígenas isolados no Amazonas. Eliésio afirmou à CENARIUM que não há conflitos entre seu povo e os isolados, e disse que o caso está sendo apurado.

O áudio do representante da Funai no Vale do Javari, que também é tenente da reserva do Exército, foi divulgado nessa quinta-feira. No material, Lima da Silva falava em “meter fogo nos isolados”. O líder marubo destacou que a declaração do coordenador faz parte da política do presidente Bolsonaro, que nega os direitos indígenas.

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“A declaração do coordenador da Funai é horrível, é algo que vai totalmente contra a política do órgão nas últimas décadas. É justamente a política do não contato, vai contra a política do estado brasileiro de preservação da vida e proteção dos direitos. Uma autoridade que é um representante da Funai e nos confins da Amazônia, onde a gente vive, representa o Estado brasileiro. Então essa declaração é a pior possível, nunca imaginei na minha vida que haveria algo desse tipo”, disse o indígena.

Falso conflito

O suposto conflito entre as duas comunidades indígenas teria surgido em 2020 quando os isolados raptaram uma mulher do povo marubo. A tensão se intensificou no último mês quando a ação foi repetida, dias antes do encontro entre lideranças e o coordenador da Funai. Eliéser pontuou ainda, na falta de ações da Funai, que foi preciso que os próprios indígenas resolvessem o conflito.

“Quando tivemos o conhecimento que um grupo indígena havia raptado uma mulher numa comunidade, nós fomos lá para desarmar um conflito, já que a Funai não fez sua parte, que era imediatamente ter levantado essa situação. Então, nós fomos à terra indígena para desarmar o conflito entre a povo marubo e o povo indígena isolado, então não fazia sentido existir conflito uma vez que a pessoa raptada foi encontrada logo depois”, explicou Marubo.

“Meter fogo”

Ainda no áudio – gravado durante uma reunião com representantes do povo marubo na aldeia Vida Nova, em 23 de junho, e divulgado pela Folha de S. Paulo – Henry Charlles reforça o incentivo aos ataques e afirma que não poderia agir de forma burocrática, que envolvesse o Governo Federal, na pessoa do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), porque isso levaria o caso a um impasse.

“Eu vou entrar em contato com o pessoal da Frente [de Proteção Etnoambiental] e pressionar: ‘Vocês têm de cuidar dos índios isolados, porque senão eu vou, junto com os marubos, meter fogo nos isolados’”, disse o coordenador.

E afirma ainda:

“Não estou aqui para desarmar ninguém, também não estou aqui para ser falso e levantar bandeira de paz. Eu passei muito tempo da minha vida evitando a guerra, mas se a guerra vier, nós também não vamos correr. Se vierem na terra de vocês, vocês têm todo o direito de se defender”.

Na ocasião, estava sendo discutido um conflito entre os marubos e os indígenas isolados que vivem na região do rio Ituí. Por não terem sido contatados pela Funai, a investigação sobre o aparecimento da população dos isolados não compete ao órgão. A Frente de Proteção Etnoambiental Vale do Javari é a responsável por realizar essa investigação.

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