Melany Marinho: a única mulher trans cantando música sertaneja em Manaus

"Sigo resistindo e lutando pelo meu espaço", diz a cantora(Reprodução/Instagram)

Priscilla Peixoto – Da Revista Cenarium

MANAUS – Considerada pelo público a “rainha do sertanejo de Manaus”, a voz potente embala canções de um ritmo predominantemente cantado por vozes masculinas. Estamos falando de Melany Marinho, ela foi a primeira mulher cantora do segmento sertanejo em Manaus.

Melany é uma mulher trans, carrega com muito orgulho as histórias, dificuldades e conquistas ao longo da carreira. Aos 30 anos, nascida e criada na capital amazonense, além de se dedicar à música, ela também é ligada às questões do movimento LGBTQIA+, inclusive, foi destaque em blogs, como o do ativista Neto Lucon (SP), site e especializado na questão da transexualidade, da tratativa sobre a doença da transfobia e da luta pelos direitos da causa “Trans”.

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“Defendo o segmento sertanejo há mais de 14 anos, fui a primeira mulher a entrar nesse ramo e, sigo como a única mulher trans na área. Para a surpresa de todos fui eu quem abriu espaço para que outras mulheres também seguirem neste caminho aqui em Manaus. Tenho muito orgulho”, conta Melany.

Trajetória

Melany conta que começou a relação com a música desde os cinco anos de idade, porém, classifica como um processo complicado devido às condições financeiras e à falta de conhecimento que levavam à desistência da artista em focar na carreira.

“Era muito nova, comecei aos 5 anos, desisti, assim como aos 10 anos e também aos 15. Aos 17 anos tive a brilhante ideia de montar um grupo musical feminino com quatro amigas de infância que após um tempo não deu certo”, relembra a cantora.

Em 2007, ainda com 17 anos, Melany participou de uma banda de forró chamada “Moleca Atrevida” como backing vocal. Após o término da banda, a jovem decidiu seguir sozinha, foi quando teve contato mais intenso com a música sertaneja, onde atualmente é reconhecida.

Ela segue como a única mulher transexual do ramo sertanejo em Manaus  (Reprodução/Instagram)

Público, preconceito e mercado

Na perspectiva da cantora, o mercado da música sertaneja é abrangente em todo o País, porém, no âmbito local, é um ritmo que está crescendo. Apesar de ser popular na região, a cantora ressalta que ainda falta oportunidade de espaço e mais mulheres que possam se integrar ao hall das cantoras sertanejas.

“Ainda vivemos muito essa questão do preconceito, machismo, sexismo, da ignorância de pessoas que não agregam a arte da musicalidade e desse segmento. Creio que seja somente de 5% a 10 % de mulheres que estejam no mercado sertanejo em Manaus”, avalia.

Em relação ao acolhimento do público em relação à nova perspectiva de mulheres entrando para o mercado sertanejo, Melany conta que a recepção é positiva. O que não impede de a cantora trans ter passado por situações de constrangimento e transfobia.

“Logo no início da minha carreira, houve muitas chacotas, exclusões e até perdi trabalhos e contatos profissionais simplesmente por ser trans. As pessoas diziam que eu não era adequada para estar no palco da casa deles”, relembra Melany.

Com o passar do tempo e com a experiência adquirida nos palcos, a artista já não se abala tanto e segue firme no propósito de alcançar o sucesso, por meio da sua arte.

“Hoje eu não posso negar que ainda sofro sim preconceito no mercado da música, mas agora aprendi a amadurecer mediante a isso. Não aceito o desrespeito, é claro, mas não absorvo as palavras que as pessoas proferem para mim. Confesso que já diminuiu bastante e com fé, luta e persistência a gente vai abrindo portas”, explica Melany Marinho.

Clipe

No último dia 04 de junho, estreou o primeiro clipe da cantora. Intitulado “Eu neguei”. A estreia do trabalho em vídeo está disponível no YouTube e faz parte do protejo “Vozes do Arco- íris”, com apoio da Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania (Sejusc).

“Estou muito feliz com esse trabalho, além do YouTube, o clipe também está disponível nas redes sociais da Sejusc e em breve em outras plataformas digitais. Aproveito para deixar um recado para vocês que têm talento, ou que passam por algum tipo de preconceito, seja qual for o motivo, não deixem de sonhar, lutem, acreditem no potencial de vocês e de Deus que vai dar tudo certo”, finaliza.

Veja o vídeo:

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