Membros do PSDB no AM são contra apoio a Lula em eventual 2º turno sem o partido

Sobre apoiar Lula contra Bolsonaro, políticos do Amazonas divergiram (Ricardo Stuckert/Divulgação)

Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) reafirmou nesta sexta-feira, 21, que apoiaria até mesmo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contra Jair Messias Bolsonaro (sem partido) em um eventual segundo turno nas eleições 2022. FHC e Lula se encontraram na semana passada, no dia 12, na casa do ex-ministro Nelson Jobim, em São Paulo, mas a reunião só foi divulgada hoje. No Amazonas, membros do partido se mostraram contrários à posição do tucano.

O senador Plínio Valério (PSDB-AM) declarou à REVISTA CENARIUM que defende uma candidatura própria do PSDB e que não se vê apoiando Lula nas eleições presidenciáveis do ano que vem. Para ele, é obrigatório que o partido lance um nome para concorrer ao Executivo.

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Plínio Valério defende uma candidatura própria do PSDB (Waldemir Barreto/Agência Senado)

“O PSDB não pode estar a reboque, nós temos que ter nosso candidato sim e teremos, com certeza. Não me vejo apoiando o candidato, se for o candidato Lula. Não me vejo mesmo. Essa possibilidade, a gente não costuma falar que não existe, mas não votarei e não apoiarei ele não. Num eventual segundo turno dele com alguém é muito difícil ver alguma outra solução que não seja que nós vamos apresentar do PSDB”, salientou.

Para a Presidência, Plínio Valério disse também que não apoiaria Bolsonaro e que pretende apoiar o senador Tasso Jereissati, do PSDB do Ceará. “Dou incentivo ao Tasso. Faço o que posso, converso com todos nós e converso para que ele mantenha a sua candidatura nas prévias. É o meu candidato preferido”, frisou.

‘Segundo turno é outra história’

O ex-prefeito de Manaus e ex-senador Arthur Virgílio Neto, presidente do PSDB Amazonas, afirmou à CENARIUM que seguirá com as diretrizes do partido, mas por hora prefere não dizer nada. O político destaca que o dever do militante é apoiar o membro do partido que vai se candidatar, mas é preciso autocrítica para saber se a sigla está pronta e se tem cacique para retornar ao favoritismo nas eleições.

“Precisamos de muita coisa, o PSDB se esqueceu do parlamentarismo, vejo um grande senador Tasso Jereissati, mas vejo um Senado que perdeu muito peso e uma Câmara bastante diminuída. Como presidente do PSDB no Amazonas, seguirei as diretrizes do meu partido, mas por hora prefiro não dizer nada. O presidente FHC trabalha já com a hipótese de apoiar, no segundo turno, o Lula. Eu digo, por hora, que vou trabalhar por um candidato do meu partido, seja quem for, o segundo turno é outra história”, destacou.

Arthur disse que seguirá com as diretrizes do partido (Arleson Sicsú/Especial para Revista Cenarium)

Ao lembrar da implementação do Plano Real, programa instituído no Governo FHC, em 1994, Arthur cogitou o PSDB como vencedor das eleições o que, para ele, faria muito bem para o Brasil. O ex-prefeito pontuou ainda que apoia quem o PSDB lançar, mas espera que o partido saiba quem lançar.

“E, aqui, fala uma pessoa que tem enorme energia, o político mais longevo deste Estado, não o mais velho. Então, posso dizer com convicção que tenho experiência política para dizer que o partido precisa jogar com muito pragmatismo e muita capacidade de se autocriticar, para saber se temos ou não chance de ganhar, ou, se precisamos de coligação. De qualquer maneira, entendo que o PSDB deve reformar sua social democracia e não repetir a receita que não deu certo na Europa”, ressaltou.

Sem problemas pessoais

Arthur realçou que não tem nenhum problema pessoal com o ex-presidente Lula, mas lembrou que brigou muito com o petista, quando foi líder de oposição ao governo dele, pois estava ali para lutar. “Agora não vou cogitar nada, porque não sei nem quem é o candidato do PSDB ainda. Isso é enfraquecer o partido, falar em candidato de segundo turno sem nem ter definido o primeiro. Pode acontecer de nós (PSDB) irmos para o segundo turno com o Lula, é possível”, concluiu.

‘Sem simpatia’

A deputada Therezinha Ruiz (PSDB-AM) disse que pretende apoiar o candidato do partido à Presidência da República, caso a sigla eleja um nome para a disputa. Questionada se ela apoiaria Lula nas eleições 2022, a parlamentar deu a entender que não pretende seguir com o desejo de Fernando Henrique Cardoso.

Therezinha Ruiz disse que ainda está avaliando o trabalho do presidente Bolsonaro (Divulgação/Assessoria)

“Se meu partido tiver candidato (a), apoiarei o candidato (a) indicado (a) pela legenda. Não tenho nenhuma simpatia pela filosofia do PT”, declarou. Sobre apoiar qualquer opositor a Bolsonaro, caso ele vá para o segundo turno das eleições, Therezinha salientou, também, que ainda está avaliando o trabalho do presidente.

O encontro

O encontro dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Lula ocorreu na semana passada, mas só foi divulgado hoje, ganhando repercussão na internet e nos bastidores da política. Em uma publicação no Twitter, FHC disse que, se o partido não for para o segundo turno, ele não apoiará Bolsonaro, mas quem a ele se oponha, mesmo Lula.

Logo após a divulgação da reunião, o presidente Jair Bolsonaro disse nesta sexta-feira, 21, sem citar FHC e Lula, mas em uma aparente crítica aos presidenciáveis, que a disputa para eleições 2022 já tem uma chapa definida com um “ladrão candidato a presidente e um vagabundo como vice”.

“Falando em política, para o ano que vem já há uma chapa formada: um ladrão candidato a presidente e um vagabundo como vice”, afirmou Bolsonaro, durante cerimônia de entrega de títulos rurais em Açailândia, no Maranhão.

Especialistas analisam que a reunião pode ser considerada histórica, pois raramente ambos aparecem juntos em público. Na terça-feira, 16, Cardoso já havia afirmado, durante entrevista ao UOL, que votaria no petista para vencer Bolsonaro, por considerar Lula “menos ruim” do que o atual mandante.

O sociólogo e cientista político Carlos Santiago lembra à REVISTA CENARIUM que FHC e Lula são democratas e já tiveram juntos no segundo turno da eleição presidencial de 1989. Para ele, o PT e o PSDB possuem mais pontos convergentes do que pontos divergentes.

“Ambos são as identidades políticas de seus partidos. A aproximação dos dois só tem ganhos positivos. O presidente ficou irritado com a aproximação, porque sabe da importância e da força política dessa união. Ele, Bolsonaro, só perde”, explicou.

Segundo Santiago, na atual conjuntura do País, o ex-presidente Lula tem força eleitoral e pode organizar uma grande frente de partidos e de lideranças sociais contra a reeleição de Bolsonaro. “O presidente tem queda de popularidade, péssima gestão e a CPI da Covid-19 caminha rumo ao Palácio do Planalto. Se ele não melhorar o seu desempenho de governo e de popularidade, não ganha as eleições de 2022. Ademais, as atitudes de Bolsonaro são as causas da conversa de ambos”, finalizou.

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