‘Mergulhei no lamaçal’, diz Felca sobre ameaças após denunciar adultização

MANAUS (AM) – O youtuber e influenciador Felipe Bressanim, conhecido como “Felca”, afirmou que passou a andar com carro blindado e segurança após receber ameaças por vídeos de denúncias. A declaração foi feita em um episódio com participação da influenciadora Wanessa Wolf, na quinta-feira, 7, no podcast PodDelas, com apresentação de Tata Estaniecki. Segundo ele, os ataques se intensificaram depois da publicação de conteúdos contra apostas online e, mais recentemente, do vídeo “Adultização”, no qual expôs a exploração da imagem de crianças nas redes sociais.

Felca relatou que a produção do material foi emocionalmente desgastante, descrevendo a experiência como “mergulhar no lamaçal”. No programa, afirmou ter mostrado como o algoritmo de plataformas digitais pode favorecer a entrega de vídeos para pedófilos, e denunciou casos em que pais incentivam a exposição excessiva de filhos menores visando audiência e monetização. Parte da receita do vídeo, segundo ele, foi destinada a instituições que cuidam de crianças vulneráveis. “O que a gente está fazendo aqui é uma gota no oceano, mas sem essa gota o oceano seria menor”, declarou.

O youtuber também disse esperar ser alvo de processos judiciais por suas denúncias, mas ressaltou que prefere enfrentar riscos a se calar diante do que considera crimes graves. Para ele, a omissão de influenciadores com grande alcance contribui para a manutenção de práticas nocivas. “Se ninguém fala, ninguém vai falar, cara”, afirmou, reforçando que continuará abordando temas delicados.

Adultização

A adultização é um fenômeno social caracterizado pela imposição de comportamentos, responsabilidades e padrões estéticos típicos da vida adulta a crianças e adolescentes antes do tempo adequado. Trata-se de uma prática que, embora muitas vezes disfarçada de incentivo à independência ou à inserção cultural, pode trazer impactos psicológicos, emocionais e sociais significativos. Entre as causas, destacam-se o consumo precoce de conteúdos midiáticos, a exposição excessiva às redes sociais e a pressão de padrões de beleza e conduta impostos pela indústria do entretenimento e da moda.

Especialistas alertam que a adultização compromete o desenvolvimento saudável, uma vez que antecipa etapas da formação identitária e emocional. Crianças expostas a esse processo tendem a internalizar expectativas irreais e a desenvolver comportamentos que não condizem com sua maturidade psíquica. O fenômeno também pode potencializar quadros de ansiedade, baixa autoestima e dificuldades de socialização, especialmente em contextos onde há cobrança por desempenho e aparência.

A abordagem do tema exige uma atuação integrada entre família, escola e sociedade civil, com políticas públicas e campanhas de conscientização que reforcem a importância da infância como etapa de crescimento protegida e livre de pressões adultas. Além disso, é essencial fomentar o consumo crítico de mídia e criar ambientes seguros, nos quais crianças e adolescentes possam vivenciar sua faixa etária de forma plena, sem antecipações nocivas impostas por padrões externos.