Mesmo com 120 milhões gastos com limpeza pública, Manaus registra abandono com acúmulo de lixo nas ruas

Homem caminha próximo a lixo acumulado na esquina da Feira Coberta da Japiinlândia, zona Sul de Manaus. (Ricardo Oliveira/ Revista Cenarium)

Marcela Leiros – Revista Cenarium

MANAUS — Conforme a CENARIUM noticiou nessa segunda-feira, 31, a Secretaria Municipal de Limpeza Urbana (Semulsp) de Manaus pagou, apenas em 2021, mais de R$ 70 milhões à empresa Mamute Conservação, Construção e Pavimentação Ltda. para, principalmente, serviços de limpeza de vias e logradouros na cidade. Já em 2022, a secretaria fechou contrato de R$ 39 milhões com a empresa para prestação do mesmo serviço. Mas apesar dos milhões empregados para a limpeza urbana, as ruas e calçadas de Manaus continuam cheias de lixo, principalmente de lixeiras viciadas.

Na esquina da Feira Coberta da Japiinlândia, no bairro Japiim, zona Sul, está o exemplo de como alguns pontos se tornaram lugares de descarte irregular de lixo e permanecem assim. Sacos de comida, móveis e até galhos de árvores podados ficam jogados quase no meio das vias. Nos poucos minutos em que a reportagem esteve no local, moradores despejaram resíduos indiscriminadamente.

O visual, assim como o odor, incomodam moradores, como conta a aposentada Luzia Moreira, que reside no bairro há mais de 50 anos. À CENARIUM, Luzia explicou que a lixeira viciada funciona desde que “ela se lembra”. “Isso lá é cidade? Passo todo dia aqui e esse cheiro, isso é lá coisa que se faça, principalmente em um lugar perto de onde a gente compra comida?”, questiona ela.

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A aposentada Luzia Moreira, de 84 anos (Ricardo Oliveira/ Revista Cenarium)

Outra fonte que não quis se identificar, mas que tem familiares que residem no bairro, contou que o lixo acumulado atrapalha o tráfego de passageiros que precisam do transporte público. “Já teve várias vezes, quando vou de ônibus [até o bairro], que ele para bem na esquina e abre a porta em frente à lixeira. Isso dificulta até a gente descer do ônibus. É horrível, um odor insuportável”, disse.

Ainda no bairro Japiim, mas na Rua Aluísio Brasil, outra lixeira ao ar livre chama a atenção. A calçada em frente à Escola Municipal Amine Daou Lindoso estava, até a manhã desta terça-feira, 1º, com restos de um colchão, madeira e até mesmo sapatos. Outra moradora do bairro, a dona de casa Sandra Maria, que também despeja lixo no local, relatou que sabe os incômodos que o acúmulo de resíduos causam, mas é o único lugar que encontrou para despejá-los.

“Tem mais de anos isso aí, moro aqui dentro [no beco] e o caminhão de lixo não chega na minha casa, aí venho jogar aqui. As pessoas jogam lixo porque o único lugar que tem disponível dessa região aqui todinha. Aqui, eles jogam de todo canto, vem gente de carro de outras localidades jogar lixo aqui”, explicou Sandra.

Parte da calçada da Escola Municipal Amine Daou Lindoso. (Ricardo Oliveira/ Revista Cenarium)

Mais lixo

A cena desagradável se repete em outras zonas e bairros da cidade. A CENARIUM encontrou lixos acumulados em outros pontos do mesmo bairro já citado e no bairro São Raimundo, zona Oeste. Logo em frente ao porto que leva o nome do bairro, e que é uma das portas de entrada da cidade, pneus, sofás e restos de obras fazem parte da paisagem de quem passa pelo local.

Contratos milionários

A Secretaria Municipal de Limpeza Pública (Semulsp), gerida pelo secretário Sabá Reis, dispensou uma licitação para “contratação emergencial de empresa especializada para realizar o serviço de conservação e limpeza de logradouros públicos da cidade de Manaus” e firmou contrato com a empresa Mamute Conservação, Construção e Pavimentação Ltda. no valor de mais de R$ 39 milhões. Os valores pagos em contratos da secretaria com a empresa, apenas em 2021, superam R$ 70 milhões.

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O serviço deve ser executado pela empresa no período de 180 dias, ou seja, seis meses, já em vigor desde o dia 1º de janeiro deste ano, segundo consta na dispensa de licitação publicada no Diário Oficial do Município (DOM). Calculado, o valor pago por dia de serviço é de R$ 217,8 mil.

Dispensa de licitação publicada no Diário Oficial do Município (Reprodução/ Diário Oficial do Município)

No Portal da Transparência da Prefeitura de Manaus, a Semulsp já pagou à Mamute Conservação, Construção e Pavimentação Ltda. um montante R$ 79.921.352,88 de janeiro a dezembro de 2021. Dos 18 contratos firmados no ano passado, dois superam R$ 7 milhões.

Valores pagos à Mamute Conservação, Construção e Pavimentação Ltda., em 2021 (Reprodução/ Portal da Transparência)
Valores pagos à Mamute Conservação, Construção e Pavimentação Ltda., em 2021. (Reprodução/ Portal da Transparência)

A empresa

Em consulta aos dados da empresa Mamute Conservação, Construção e Pavimentação Ltda., disponíveis no site da Receita Federal, consta que a organização possui como atividade principal atividades de limpeza não especificadas anteriormente, mas também construção de embarcações de grande portecaptação, tratamento e distribuição de águaconstrução de edifícioscomércio atacadista de leite e laticíniospeixaria, entre outros.

Consta em seu quadro societário os nomes dos empresários Carlos Edson Guedes de Oliveira Júnior e Leland Juvêncio Barroso Neto. O capital social é superior a R$ 7 milhões e sua sede está localizada na Avenida Dom Pedro I, bairro Dom Pedro, zona Centro-Oeste de Manaus, e está ativa desde 20 de março de 2013, sob o número de CNPJ 17.783.933/0001-03.

Sem respostas

Nos e-mails enviados à Semulsp, a reportagem questionou sobre a dispensa de licitação, assim como sobre a limpeza das lixeiras viciadas na capital amazonense. E fez outros questionamentos:

Quantas lixeiras viciadas existem, atualmente, em Manaus?

Qual a zona e bairro que mais sofre com esse tipo de situação?

Que trabalhos e ações têm sido feitos para minimizar essa problemática?

Quantas toneladas de lixo são recolhidas diariamente/ semanalmente em Manaus? Quantas toneladas foram recolhidas em 2021?

No entanto, a reportagem não obteve retorno até a publicação desta matéria.

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